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Luiz Geraldo Mazza 5m de leitura

Mudança de ciclo

ATUALIZAÇÃO
14 de janeiro de 2020

Luiz Geraldo Mazza
AUTOR

Mudança de ciclo 

Dificilmente os métodos processuais da Lava Jato serão mantidos como prova de que a revisão não veio apenas do pacote anticrime, mas também dos desgastes da operação. A liberdade de Lula foi juntada à tese da derrubada da prisão pós segunda instância, isso é ganho de um dado político que se sobrepôs aos ordenamentos jurídicos. Seria impensável depois de tudo o que se apurou em relação aos azes do MDB como Eduardo Cunha, Sérgio Cabral e Geddel Vieira Lima, aquele dos R$ 51 milhões no apartamento emprestado na Bahia, qualquer medida suavizadora ou que implicasse em liberdade. 

Há forças muito organizadas que lutam por esses absurdos. Se no caso deles é impossível o uso do argumento de perseguição, que é absurdo, mas funcionou em favor de Lula e tanto que se insiste na operação ONU que venha a ter um destaque como o obtido pelo documentário cinematográfico de Petra Costa "Democracia em vertigem", concorrente ao Oscar e que trata do impeachment de Dilma Rousseff, ato político normalíssimo e bem mais claro do que o movido contra Trump. Ademais, o julgamento popular da ex-presidente foi a esmagadora derrota para o Senado em Minas, como se deu aqui com Beto Richa e Requião. 

A prisão sem prazo teve novas regras com a imposição revisional a cada 90 dias e fatos contemporâneos a embasá-las. Imaginemos sua aplicação em casos como os dos emedebistas referidos mais aqueles outros com Renato Duque e o mítico Paulo Preto das negociatas em governos tucanos em São Paulo. E temos ainda para complicar a vigência do juiz de garantia.

Fila interminável 

O engarrafamento de quase dois milhões de pleitos não atendidos na fila do INSS é uma perturbadora anomalia para o governo central na medida em que acaba mostrando efeitos perversos da reforma previdenciária. Há questões infraestruturais graves como o baixíssimo índice de digitalização dos serviços e também os entraves da interpretação dos efeitos da nova lei. O fato é que o ministério da Economia tem um plano para reduzir a espera de aposentadorias e pensões que custará R$ 9,7 bilhões para que se ajuste a demanda aos pedidos dentro do prazo regular de 45 dias, hoje uma utopia. 

Mínimo regional 

Desde Requião, e na sequência com Beto Richa, tivemos um ganho extraordinário no que se refere ao salário mínimo regional. E isso vai se dar novamente, em que pese as circunstâncias do momento, com Ratinho Junior (aumento de 5,86%) e que eleva o piso para R$ 1.383,80 a categoria 1. 

Inflação e câmbio 

A inflação quase sai da meta em função do aumento despropositado da carne, atribuído às exportações massivas para a China, cujo preço caiu em dezembro e agora em janeiro com 3%. Tende, pois, a normalizar-se, como se dá também com as cintilações constantes do dólar. É sempre bom recordar do alertamento de Mario Enrique Simonsen de que a inflação aleija e o câmbio mata. A propósito a exportação do agronegócio em 2019 - queda de 4% em relação ao ano anterior - assegurou um volume de receitas acumuladas em dez anos em US$ 1 tri. 

Radiografia do DPVAT 

Uma auditoria nas contas da Líder, administradora do DPVAT, revelou inconsistências de traço financeiro e administrativo de 2008 a 2017 em despesas com médicos, advogados e até em restaurantes, em total que deve superar R$ 1 bi. Já o presidente da Líder, Ismar Torres, desafia os órgãos de controle a encontrar atos de corrupção ou fraudes na companhia. Quanto aos gastos referidos, argumenta que os recursos da empresa são privados. Quem processou a auditoria foi a KPMG. A questão do DPVAT foi levantada por Bolsonaro e atribuída a sua incompatibilidade com ex-correligionário político.

Doria em Davos 

A ausência do presidente Bolsonaro no Fórum Econômico vai facilitar a promoção que o governador de São Paulo, João Doria, fará do seu programa de concessões a investidores internacionais. Na agenda haverá reuniões com Masayoshi Son, do Softbank, com fundos de pensão canadenses como o CPPIB e com bancos britânicos. O governador paulista leva versão renovada dos vídeos de privatização que usa desde a sua gestão na prefeitura da capital. Para emparelhar com o governo federal só uma força como a do governo paulista. 

Folclore 

Uma das ideias-força de Paulo Pimentel era a de fazer do Paraná o segundo maior estado da União e se valia do apelo "Aqui se Trabalha", decalcado do triunfalismo de Mussolini. Aí a guerra esportiva com catarinenses funcionou com a anedota de que nossos vizinhos, ao ver a placa, desistiam de entrar no território. Já naquela época indicadores sociais - educação, saúde, expectativa de vida - dos catarinenses eram superiores aos nossos e debochavam da piada.  

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