O que acha de reaproveitarmos mais e melhor os alimentos que sobram?

Hoje vou pedir licença à gastronomia para falar sobre comida. E conversar com você, amigo leitor, sobre um assunto muito sério, que, infelizmente, afeta milhões de pessoas que, sem acesso a alimentos de qualidade, jamais poderiam ler o que estou escrevendo aqui porque não têm acesso ao jornal. Um relatório publicado por diversas entidades internacionais, divulgado no início da semana, apontou que, no Brasil, até 2020, 7,5 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar, ou seja, têm acesso limitado à alimentação, seja por falta de dinheiro ou de outros recursos.

Não é possível que um país como o Brasil, que está sempre entre as primeiras posições na produção dos alimentos, tenha tanta gente nessa situação de vulnerabilidade alimentícia. Os dados são das seguintes instituições: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Mundial de Alimentação (PMA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). E revelam ainda que, se for levada em conta a insegurança alimentar moderada e grave, o número de brasileiros impactados é ainda maior: 49,6 milhões.

A conta não fecha: no ranking mundial, o Brasil é o quarto maior produtor de grãos, o que tem o maior rebanho bovino do mundo, o maior entre produtores de açúcar e café, o terceiro na lista de produção de frutas e carne suína, o quarto no rebanho de galináceos, entre outros. A pesquisa é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, divulgada em junho deste ano.

Obviamente, para que toda a produção mundial de alimentos, de fato, alimente todas as pessoas do mundo, falta uma série de coisas: justiça social, distribuição e menos desperdício são alguns dos fatores que deveriam ser transformados. Mas, a consciência de cada cidadão já ajudaria muito a combater essa triste realidade. Por isso, a dica do Multi Chef hoje está em reaproveitar os alimentos.

Já falei por aqui que, da produção do Lupocello Perfetto, consigo fazer suco, mousse, palha e sorvete de limão siciliano. A carne assada na churrasqueira que sobra vira arroz carreteiro, assim como o lombo e o pernil de porco que fiz no forno acabam virando sanduíche de pernil e refogado na panela. Nenhum alimento se perde ou se joga fora, porque o que não se consome doado para quem irá aproveitar. Que tal se começássemos a mudar nossos hábitos, pouco a pouco?