Falar sobre sustentabilidade é muito mais do que apenas separar o lixo orgânico do reciclável em casa. O conceito é muito mais amplo e envolve questões ambientais, econômicas e sociais. Uma iniciativa do Lonarte, projeto de extensão da UEL (Universidade Estadual de Londrina), desenvolvido pelo departamento de Design, é um exemplo de ação sustentável por completo.

Imagem ilustrativa da imagem Sustentabilidade gera sustentabilidade: conheça a campanha Adote um Avental
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A campanha “Adote um Avental” tem como objetivo final doar cerca de 400 aventais para as cooperativas de reciclagem locais. Para além dos aventais que serão doados, a mão-de-obra é fornecida por dois grupos de nove mulheres artesãs da zona rural de Londrina, que tiveram suas rendas afetadas pela pandemia de coronavírus: o grupo Marreca e Retraço Novo. Todo o dinheiro arrecadado para os aventais, cujo valor unitário é R$10,00, será revertido integralmente para as costureiras. A estimativa é totalizar R$4.000,00. O avental é feito de tecido e também de banners, que foram doados por pessoas e vários setores da sociedade que tinham esse material guardado, que não pode ser reciclado e acaba indo para os aterros, se tornando um problema ambiental.

A CHEGADA DA PANDEMIA

A ideia do projeto surgiu ainda no início da pandemia, quando o grupo de estudos de resíduos da UEL se deparou com a realidade dos trabalhadores da cooperativa que realizava a triagem do lixo do HU (Hospital Universitário), como conta a coordenadora do projeto, Camila Doubek: “Nossa primeira ação efetiva foi por conta da pandemia, a gente viu a demanda de EPI (Equipamento de Proteção Individual) para os trabalhadores da cooperativa. a gente se mobilizou para conseguir EPIs diversos: luvas, máscaras; e vimos também que eles não tinham aventais.”

No ano passado o projeto doou cerca de 40 aventais para a Cooper Mudança, responsável pelo trabalho no HU. Este ano, a proposta foi aumentar o alcance da iniciativa, beneficiando todas as cooperativas. “Os materiais contaminados pela Covid extrapolaram o HU. Todo o lixo criado tem potencial de estar contaminado, muita gente ainda joga máscara para reciclagem”, comenta Doubek.

Para Zaqueo Vieira, presidente da Cooper Região, os aventais irão ajudar bastante, pois serão uma proteção a mais para os cooperados. “O pessoal está bem consciente do risco que corre e da necessidade do uso de EPIs. É um serviço essencial e não podemos parar. Todo cuidado é pouco”, pontua.

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A segunda tiragem dos aventais, além de ser maior e passar a contribuir com a geração de renda para os grupos Marreca e Retraço Novo, ganhou melhorias no desenvolvimento. “Melhoramos o desenho e fizemos uma mudança para que eles [os aventais] sejam mais resistentes e durem mais tempo. As mulheres irão costurar e nós iremos fornecer os banners e o tecido necessário para a confecção. Os aventais sempre estarão com a parte interna do banner para dentro”, pontua a coordenadora do projeto.

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| Foto: Lonarte - Divulgação

ARTESÃS

Marinete Malaquias Ferreira é representante do grupo de costura Marreca, do Distrito de Irerê (zona sul), e conta que antes da pandemia ela e as outras colegas trabalhavam muito com a costura de lonas de cama elástica para eventos. Com a produção desses materiais elas conseguiam uma renda de pelo menos um salário mínimo ou mais, dependendo do mês, o que foi diretamente afetado com o cancelamento de festas infantis e eventos por causa da pandemia. “Agora estamos engrenando de novo com a venda dos aventais, porque é algo que a gente faz e já está com a venda garantida. Então, assim, a gente ajuda a família”, comenta a artesã.

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| Foto: Lonarte - Divulgação

COMO CONTRIBUIR

Cada peça custa R$10. As colaborações podem ser feitas por depósito bancário, agência 0001, conta corrente 12898011-7, Banco Pag Seguro, código 290. Pix: [email protected]. Contato: [email protected] .

O DIA A DIA NAS COOPERATIVAS

Quem trabalha diariamente coleta e nas esteiras de triagem de lixo reciclável precisa enfrentar o risco de contaminação e a desinformação de parte da população que ainda não descarta o lixo corretamente, como apontaram representantes da Ecorecin e Coocepeve, Francisco Caetano Bitencourt Gomes da Silva e Sandra Araújo Barroso da Silva, respectivamente.

As cooperativas são responsáveis pela coleta e seleção de recicláveis de 230 mil domicílios
As cooperativas são responsáveis pela coleta e seleção de recicláveis de 230 mil domicílios | Foto: Gustavo Carneiro -Grupo Folha

O presidente da Ecorecin lembrou que o problema vem desde antes da pandemia de coronavírus. “Infelizmente as pessoas não estão mais conscientes, ainda descartam máscaras achando que é material reciclável e também agulhas de diabéticos, mesmo a gente fazendo um trabalho de conscientização'', explica. Os cooperados da Ecorecin também estão enfrentando o problema da falta de materiais recicláveis para trabalharem, por isso a equipe está trabalhando em formato de escalas com dias alternados.

Para a presidente da Coocepeve, algo que contribuiu para que as pessoas joguem máscaras e outros resíduos impróprios para a reciclagem como fraldas e absorventes, foi a não distribuição do saco de lixo na cor verde. “Desde quando foi retirado o saco verde o pessoal já começou a misturar,” comenta.

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Sandra Araújo Barroso da Silva, levantou um outro problema que a Coocepeve tem enfrentado: a atuação dos trabalhadores de reciclagem informais. Para ela, o número desses trabalhadores que não são cooperados aumentou devido ao desemprego, contribuindo também para o aumento de casos da Covid, já que esses trabalhadores recolhem o lixo reciclável antes do caminhão da cooperativa chegar e sem os cuidados sanitários devidos. “Como as pessoas colocam o lixo na rua fora do horário da coleta da cooperativa, catadores de lixo individuais buscam esse material e eles não têm o mesmo cuidado que a gente de borrifar água sanitária, trocar de luva e usar álcool.”

A cooperativa tem pedido que a população coloque o material reciclável nos dias corretos e que eventuais dúvidas ou para mais informações entrem em contato pelo telefone (43) 8476-1813 . Sobre os aventais, a presidente da Coocepeve disse que contribuirão para que eles tenham mais segurança e mais economia, com um gasto a menos.

Confira mais dicas sobre a separação correta do lixo no site da CMTU

CMTU

A CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) tem 7 cooperativas de recicláveis contratadas (Cooper Região, Coopermudança, Coocepeve, Ecorecin, Cooperoeste, Coopernorth e Cooper Refum), que atendem 230.095 residências. Segundo informações da assessoria, em 2020, juntas, as cooperativas recolheram nos domicílios londrinenses 8.323 toneladas de resíduos, sendo que o valor comercializado chegou a R$ 3.147.163,02. Neste ano, entre janeiro e abril de 2021, foram 2.875 toneladas retiradas das ruas e R$ 1.377.654,00 comercializados.

- Onde e como descartar o lixo corretamente?

Questionada pela reportagem sobre a conscientização da população para a separação correta do lixo, a CMTU afirma que a coleta seletiva é um serviço consolidado no município, implementado desde os anos 2000. E desta que esse importante trabalho de geração de emprego e renda depende diretamente da participação dos moradores, que não devem abandonar o hábito de segregar os resíduos.

Sobre a atuação dos catadores informais, a CMTU informou que tem buscado atraí-los para o sistema. Uma vez vinculados às cooperativas cadastradas, eles têm acesso a equipamentos de proteção individual e coletiva, além da garantia dos direitos trabalhistas.

Em relação aos sacos verdes, cuja entrega aos moradores foi encerrada em 2014, a companhia informou estar estudando o retorno da distribuição.

Mais informações na página da CMTU

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