A coleta de lixo é um dos serviços essenciais à população, portanto os profissionais têm mantido a rotina de trabalho, mesmo que preocupados com a exposição ao Covid-19. “É um trabalho constante. Somos tão essenciais quanto os médicos. Se a coleta parar vai trazer outras doenças para a cidade”, comenta Reginaldo Barbosa de Souza, supervisor operacional da coleta Londrina na Kurica Ambiental S.A, empresa responsável pelo recolhimento de lixo orgânico e rejeitos no município. Já na coleta seletiva, as cooperativas tiveram a rotina alterada por causa da redução no número de trabalhadores - muitos afastados por suspeita ou por fazerem parte do grupo de risco.

Imagem ilustrativa da imagem Coronavírus: desafios na rotina da coleta de lixo em Londrina
| Foto: Sérgio Ranalli - Grupo FOLHA

Das sete cooperativas cadastradas no site da CMTU, a FOLHA conversou com quatro delas e constatou uma redução no quadro de cooperados. A Cooper Região, que possui 125 cooperados, está com oito pessoas isoladas em casa porque estão com suspeita da doença e outras 37 deixaram de trabalhar porque estão nos grupos de risco (idosos ou com doenças crônicas), além de mães com filhos pequenos.

“Estamos hoje com aproximadamente 80 pessoas e aguardamos alguma medida nos próximos dias do poder público porque estamos pensando em começar a coleta quinzenal, pensando justamente em preservar nossos cooperados”, comenta a diretora financeira Verônica Cardoso Costa de Souza.

Ela acrescenta ainda que as medidas para conter o coronavírus fez com que muitas indústrias e compradores de recicláveis interrompessem os trabalhos, gerando um agravante para as cooperativas.

Na Cooper Refum, o motorista Tiago de Assis reforça que os materiais têm sido armazenados nos barracões porque ninguém está conseguindo vender. “Também estamos com pessoal reduzido e vamos coletar até segunda ordem da CMTU. Temos em torno de 35 cooperados, mas hoje são mais de 20 afastados por causa da idade, mães com filhos pequenos e grávidas”, afirma.

Assis diz estar bastante preocupado com a saúde de todos. “Não podemos ficar armazenando esses materiais. Temos visto um aumento de máscaras entre os recicláveis e até onde eu sei o vírus pode permanecer por dias em alguns objetos. Não podemos correr todo esse risco”, lamentou.

A presidente da Coocepeve, Sandra Araújo Barroso da Silva, lembra que além do coronavírus, há uma preocupação com a dengue. “Nosso trabalho é essencial para todo mundo. Imagine se os coletores param de trabalhar, como fica a cidade?”, indaga, acrescentando ainda que a quantidade de material reciclável diminui em algumas regiões.

Por mês, as cooperativas recolhem um volume mensal de 600 mil quilos de recicláveis. Para Francisco Caetano Bittencourt, da Ecorecin, o primeiro impacto do coronavírus no trabalho na cooperativa foi a diminuição da produção e agora, a preocupação com a saúde dos trabalhadores.

“Temos 36 cooperados, mas hoje estamos com dez. Não estamos fazendo coleta desde segunda-feira (23) porque nosso motorista está gripado e hoje eu tive que levar mais um embora. O coronavírus pode ser transmitido por objetos e a gente não encontrou máscaras e nem álcool gel para comprar. Dessa forma, estamos correndo um sério risco. Temos discutido a situação com a CMTU”, desabafou.

ORGÂNICOS E REJEITOS

A coleta domiciliar recolheu uma média de 10 mil toneladas por mês, em 2019. Por nota, a assessoria de comunicação da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) informou que ainda não é possível estimar se houve um aumento ou redução desse volume pelo fato das pessoas permanecerem em casa.

No entanto, o supervisor da Kurica Ambiental, Reginaldo Barbosa de Souza, afirma que nos últimos dias o reciclável tem se misturado muito aos orgânicos e rejeitos. “Pedimos para que a população colabore com o serviço fazendo a separação correta dos resíduos”, destaca.

Além disso, Souza faz um apelo para que todos armazenem com cuidado os materiais perfurocortantes. “Se um funcionário se machucar, a vida dele fica em risco e o trabalho fica comprometido e, nesse momento, essa mão de obra é muito importante”, diz.

Quanto às medidas de prevenção, Souza comenta que o quadro de funcionários e a jornada de trabalho não foram reduzidos diante do cenário de pandemia, mas reforça que toda a equipe tem sido orientada.

“Estamos trabalhando todos os dias para deixar a cidade limpa. Temos cerca de 200 colaboradores percorrendo a zona urbana e rural e à medida do possível, estamos orientando as equipes a fazer a higiene das cabines e principalmente ao final do expediente, para que não coloquem suas famílias em alguma situação de risco”, explica. A Kurica Ambiental está à procura de máscaras para serem distribuídas aos funcionários.

CMTU

Por nota, a CMTU informou que está analisando as possibilidades de manutenção dos serviços de coleta neste período. Em relação à preocupação das cooperativas sobre possíveis materiais infectados, o órgão respondeu que foram todos orientados para a adoção de medidas de contenção ao coronavírus durante o trabalho nas ruas. A CMTU cita que a remuneração repassada às cooperativas e terceirizada, Kurica Ambiental, contempla os equipamentos de proteção individual.

Imagem ilustrativa da imagem Coronavírus: desafios na rotina da coleta de lixo em Londrina
| Foto: Folha Arte