Mensalmente, cerca de 11 mil toneladas de lixo domiciliar são recolhidas dos imóveis dos londrinenses, tendo como destino final a CTR (Central de Tratamento de Resíduos), no distrito de Maravilha (zona sul). Deste volume, de acordo com a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), aproximadamente 40% correspondem a materiais recicláveis, ou seja, passíveis de reaproveitamento, mas que tiveram separação errada nas residências, prejudicando toda uma cadeia.

CTR , no distrito de Maravilha, ocupa um área de 30 alqueires; custo entre coleta, transporte e tratamento é de R$ 2 milhões mensais
CTR , no distrito de Maravilha, ocupa um área de 30 alqueires; custo entre coleta, transporte e tratamento é de R$ 2 milhões mensais | Foto: Divulgação- CMTU

“Isso, num município em que a coleta atende 100% da área urbana, é um grande problema. Gera um grande passivo ambiental e econômico para a cidade. É reflexo da necessidade de uma melhor educação ambiental por parte de todos nós. A partir do momento que o reciclado foi misturado com outros tipos de resíduos, já se contaminou e a capacidade de reaproveitamento é zero”, afirmou Alexandre Zuliani, coordenador de Destinação Final da CMTU.

Uma das principais dificuldades geradas pela falta da segmentação correta dos materiais é a diminuição da vida útil da CTR. Construído há mais de dez anos para substituir o aterro do Limoeiro, na zona leste, o espaço compreende uma área de 30 alqueires, no entanto, somente 190 mil metros quadrados são passíveis para aterramento, o que compreende a construção de até 13 valas.

Daqui a três meses uma sexta vala deverá entrar em funcionamento, com capacidade para receber 430 mil metros cúbicos de resíduos. O tempo médio estimado para a ocupação total desta valeta é de três anos e meio. A última vala havia sido liberada no começo de 2018 e está próxima de esgotamento. Quando foi inaugurada, a Central de Tratamento de Resíduos tinha previsão de uma vida útil de 29 anos. “Pelos dados prevemos a redução para 25 anos”, alertou. O custo entre coleta, transporte e tratamento é de R$ 2 milhões mensais.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Coordenadora do Ninter (Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos) da UEL (Universidade Estadual de Londrina), a professora Lílian Aligleri aponta que Londrina tem negligenciado, nos últimos anos, programas voltados para a educação ambiental. “Isso acaba refletindo no processo de separação, triagem e encaminhamento, virando rejeito que cai para a CTR. Há muito tempo não vemos campanhas conscientes sobre novas práticas. Vemos em estudos que as pessoas têm dúvidas no processo de separação”, elencou.

A especialista ainda chama atenção para a necessidade de o poder público fomentar negócios que possam utilizar resíduos das cooperativas. “Vidros que chegam nas cooperativas são vendidos para o interior de São Paulo e Santa Catarina, têm que rodar 600 quilômetros. O valor do material é ínfimo e fica tudo no trajeto. Precisamos criar um ecossistema de reciclagem, fomentar negócios que trabalhem no pós-consumo. Tem valor econômico e social, porque gera renda. Isso não vai acontecer por acaso”, destacou a professora, que é mestre em Gestão de Negócios e doutora em Administração.

Levantamento do núcleo, feito em 2019, demonstrou que dos 100% do material gerado nos imóveis da cidade, 94% vão para a central de tratamento e apenas 6% chegam às cooperativas. Do percentual recepcionado nos barracões de reciclagem, 24% também precisam ser redirecionados para a CRT pela ausência de separação apropriada e até a falta de compradores.

Imagem ilustrativa da imagem Central de Resíduos de Londrina recebe 40% de materiais recicláveis
| Foto: Divulgação - CMTU

TECNOLOGIA

Segundo Alexandre Zuliani, a companhia estuda novas tecnologias que possam ser implementadas na central, possibilitando a otimização do trabalho. “Tem o reaproveitamento energético do resíduo da coleta domiciliar. Por meio deste processo poderia gerar energia elétrica e baixar o passivo ambiental, gerando economia para o município. Operamos com equipe capacidade e a área tem todo o controle ambiental.”

Parte dos resíduos encaminhados diariamente à CTR se transforma em adubo, usado no próprio espaço para plantio de árvores e grama. Já o chorume, que carrega grande concentração de substâncias tóxicas da decomposição dos resíduos, é drenado, indo para cinco tanques de armazenagem. No ano passado a média anual de geração do lixiviado foi de 87 metros cúbicos por dia.