A paisagem do Centro Histórico mudou neste início de 2022, com a entrega da reforma do Bosque Central Marechal Rondon. As novas características da área verde, de valor histórico e afetivo para os londrinenses, têm atraído um novo perfil de frequentadores - patinadores, skatistas e ciclistas - que ocupa o renovado e agora colorido pátio central, uma janela de amplitude e ventilação que liga as avenidas São Paulo e Rio de Janeiro entre a Catedral e o Colégio Mãe de Deus.

As linhas mais convidativas que se impuseram na paisagem têm deixado muita gente otimista na análise de antiga peleja urbanística, na qual duelam bem estar e degradação, em um ringue instalado bem no coração da cidade. A FOLHA convidou um casal de cadeirantes para avaliar se esta nova fase pode ser também uma evolução em direção à equidade, aquela ideia na qual cidadãos com as mais diversas características sejam tratados da mesma forma no espaço público.

A reportagem acompanhou a visita ao local de Edilaine Pereira Gonçalves Senne e Elder Raimundo Senne, cadeirantes, aposentados, moradores da Vila Nova (área central) e que aceitaram fazer um experimento no novo projeto. De modo geral, o casal e o filho Pedro, de 21 anos, concordaram na avaliação, exceto no forte odor provocado pelos excrementos dos pombos domésticos e das pombas amargosas, espécies que já venceram todas as tentativas de controle nas últimas décadas. Para Edilaine, é preciso saber conviver com os pássaros e com suas consequências naturais, enquanto Elder afirma que é preciso caprichar mais na limpeza. De fato, o mau cheiro e a sujeira ainda incomodam, ainda que a prefeitura garanta que todas as manhãs, de segunda a sábado, o lugar é lavado.

A FOLHA convidou Edilaine Pereira Gonçalvez Senne e Elder Raimundo Senne para avaliar o espaço de lazer
A FOLHA convidou Edilaine Pereira Gonçalvez Senne e Elder Raimundo Senne para avaliar o espaço de lazer | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

PADRÃO

Em relação à acessibilidade, no entanto, ambos consideram o projeto de renovação do logradouro exemplar. A começar pelo nivelamento das ruas marginais com o pátio central do Bosque, uma das maiores novidades do projeto. “O ideal para os cadeirantes é que todas as travessias fossem com este padrão: sem nenhum obstáculo e com nivelamento perfeito. Tem um problema comum com as rampas que são os buracos que surgem na sarjeta quando o pavimento da rua é recapeado. Muitas vezes isso não é percebido, mas para o cadeirante é um impeditivo de circulação”, explica. “O declive das rampas é outro problema, muitas vezes ficam fora do padrão e não resolvem o problema do desnível”.

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PÁTIO CENTRAL

O pátio central, que fez sucesso nas redes sociais por sua estampa colorida flagrada por fotos de drones, também é exaltado pelo casal. “Os desníveis que haviam nos tiravam a autonomia. Era preciso que alguém ajudasse para ir de um lado ao outro”, lembra Edilaine, explicando que, com a facilidade de se buscar sol ou sombra no piso absolutamente nivelado, é possível permanecer um tempo maior no pátio.

Os cadeirantes ressaltam ainda o novo padrão dos corredores, mais largos e com piso de concreto. “No formato anterior, os bloquetos se soltavam e acabavam se tornando armadilhas no caminho. Com o concreto liso, a cadeira desliza com segurança”, comenta Elder. As trilhas mais largas que as anteriores também permitem desvios de eventuais obstáculos e até um passeio lado a lado pelo casal.

Casal destacou a possibilidade de circulação por todos os setores do Bosque
Casal destacou a possibilidade de circulação por todos os setores do Bosque | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

CIRCULAÇÃO EM TODOS OS SETORES

Outro aspecto valorizado por Elder e Edilaine no novo Bosque é a possibilidade de circulação por todos os setores. A reportagem acompanhou um bom trecho do périplo, iniciado ao lado da catedral, passando pelo pátio e alcançando o setor mais próximo da Rua Pará, onde está a quadra de esportes. “Antes isso era impossível pela ausência de rampas”, compara Elder. “De maneira geral ficou muito bom e se tornou uma opção para um momento de lazer com autonomia de ir e vir. Antes, a circulação aqui era muito restrita, o que nos tirava o ânimo para o passeio”, conclui.

DEFICIT DE BANHEIROS PÚBLICOS

Aprovado nos testes de acessibilidade feitos por Edilaine Pereira Gonçalves Senne e Elder Raimundo Senne, o Bosque Central de Londrina não recebeu nota máxima do casal por um detalhe muito importante. Eles reclamam da falta de um banheiro público no local, um obstáculo para um plano de permanência mais longo para muitos frequentadores.

O secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Tecnologia, Marcelo Canhada, diz que a gestão municipal estuda a implantação de banheiros contêineres em pontos estratégicos.

A falta de servidores para cuidar deste tipo de equipamento, segundo o secretário, impede a construção de uma rede abrangente espalhada pela cidade, o que pode ser contornado pela contratação de empresas especializadas que ficariam responsáveis pela oferta do serviço durante o dia.

Os contêineres dispõem de plena acessibilidade seriam alugados e instalados em áreas de grande circulação de pedestres como Bosque, Zerão e margem do Igapó. “A movimentação é a melhor prevenção contra o vandalismo”, frisa Canhada.

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