No vestibular de 2021 da UEL (Universidade Estadual de Londrina) o curso de medicina mantém a tradição de ser o mais concorrido (com maior número de candidatos inscritos em relação ao total de vagas oferecidas) e também o de ser o mais procurado (tem o maior número de inscritos, independente da quantidade de vagas). Medicina registra concorrência de 264,68 candidatos por vaga, um recorde na história do curso (que iniciou suas atividades em 1967), segundo a Cops (Coordenadoria de Processos Seletivos).

Segundo diretora da HU, profissionais de saúde ficaram muito em evidência nesta pandemia
Segundo diretora da HU, profissionais de saúde ficaram muito em evidência nesta pandemia | Foto: Isaac Fontana/Framephoto/Folhapress

Em um recorte de 17 anos, é a primeira vez que a concorrência ficou acima dos 170,5 candidatos/vaga, registrada no ano passado. Em 2004 essa relação foi de 75,2 candidatos por vaga, ou seja, houve um crescimento de 264,96%.

Além disso, o curso também é o mais procurado. Dos 27.432 inscritos para esta edição do vestibular, cerca de 40% optaram por concorrer a uma das vagas de medicina. A procura subiu de 8 mil da edição anterior para mais de 11,6 mil candidatos. O curso de medicina oferta 80 vagas. O vestibular da UEL será realizado no próximo domingo (30) à tarde e, por causa da pandemia, ocorrerá em um único dia.

De acordo com a responsável pela Cops, Sandra Regina de Oliveira Garcia, credita a alta procura à reputação tanto do curso de medicina quanto da UEL, que vem sendo muito bem avaliada no país e no exterior. "O segundo fator é que há um crescimento da procura do curso de medicina no país, como os próprios dados indicam. Outro fator é a diminuição de politicas públicas do governo federal de programas de abertura de vagas, cursos. Ocorre uma migração de estudantes para os vestibulares das instituições públicas."

FENÔMENO NACIONAL

A presidente da Associação Médica de Londrina e conselheira do CRM-PR (Conselho Regional de Medicina), Beatriz Emi Tamura, disse que o aumento pelo curso é um fenômeno nacional. “Esse aumento foi verificado em universidades pelo país afora", reforçou, afirmando que a pandemia de coronavírus trouxe um novo olhar ao jovem. "Seja atuando na área médica ou nas áreas da saúde, houve esse olhar da necessidade de ter pesquisas relacionadas às vacinas, à medicação. Também houve destaque com relação à necessidade de preservação da vida, de evidenciar os pesquisadores pelo fato de observar as pessoas morrerem e testemunhar o sofrimento de todos”, apontou.

icon-aspas “A UEL continua sendo muito prestigiada. Conseguir fazer medicina na UEL é um grande mérito; ela ainda é referência de ensino”

Segundo ela, "os jovens querem poder fazer algo pelas pessoas, pela ciência, pelos estudos.” Tamura explicou que dentro da própria medicina existem vários campos de atuação. “A pessoa pode ir para a pesquisa, para o atendimento e pode ir para diversas áreas de especialização. Isso foi demonstrado no decorrer das informações do que se via na mídia e pode ter contribuído para essa necessidade com relação ao vestibular”, apontou.

Sobre essa escolha da UEL para cursar a medicina por tantos candidatos, a presidente da AML ressaltou que o índice geral de cursos do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) elegeu a instituição londrinense mais uma vez como a melhor universidade do Paraná e a quarta melhor estadual do Brasil. “A UEL continua sendo muito prestigiada. Conseguir fazer medicina na UEL é um grande mérito; ela ainda é referência de ensino”, ressaltou.

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MÁ DISTRIBUIÇÃO

Questionada sobre como vê a situação atual do ensino de medicina, ela afirmou que no Brasil não faltam médicos, mas eles estão mal distribuídos. “Nós somos o segundo país do mundo em número de escolas de medicina. A Índia possui 392 escolas e o Brasil tem 336. Na relação população por escola nós somos o terceiro país do mundo. Temos a Bolívia em primeiro lugar, depois vem Cuba e em seguida o Brasil.”

Segundo ela, a migração de médicos para grandes centros ocorre porque eles precisam permanecer atualizados. “Eles acabam se deslocando a locais que oferecem a atualização médica." Para evitar essa má distribuição dos profissionais, Tamura defende ação de planos para que se possa galgar níveis de cargos e salários, como ocorre nas carreiras jurídicas, por exemplo. “Isso fixaria o médico, pois poderia se atualizar, receber, trabalhar e pontuar para cargos mais altos e assim se deslocar.”

PROFISSIONAIS EM EVIDÊNCIA

A diretora clínica do Hospital Universitário de Londrina, Luiza Kazuko Moriya, afirmou que todos os cursos tiveram aumento proporcional de candidatos/vaga. "Se pensarmos na pandemia, os postos de trabalho que não foram sacrificados foram os da assistência à saúde. Talvez os profissionais da saúde ficaram muito em evidência não só do ponto de vista de estabilidade de emprego, mas também pelo reconhecimento. Mas seriam também a enfermagem, a fisioterapia, entre outras, as profissões reconhecidas", acrescentou.

De acordo com Moriya, divulgou-se muito a dedicação à profissão, a abnegação, o lado humano ao lidar com o sofrimento, pouco se referiu à possibilidade de emprego. "Todo esse enfoque à saúde é salutar, pois tanto a saúde quanto a educação quanto a segurança, que são direitos do cidadão, sempre foram delegados a segundo plano, o que nos diferencia de um país desenvolvido. É uma diferença fundamental pois se trata de herança cultural, de valorização de cada indivíduo. Porém precisa haver contrapartida, cada um precisa querer retribuir aquilo que recebeu do Estado para que o sistema continue funcionando bem", afirmou.

"Um outro aspecto é que a UEL/HU ficou em evidência devido a condição de hospital terciário referência em casos moderados a graves de Covid", destacou Moriya. "A somatória de todos esses fatores talvez possa explicar esse salto no número de candidatos para medicina, muito embora tenha se divulgado o elevado número de profissionais vitimados pela nova doença devido à exposição diária, principalmente na fase de ausência de vacinas", concluiu.

icon-aspas "Se pensarmos na pandemia, os postos de trabalho que não foram sacrificados foram os da assistência à saúde"

Ela ressaltou a importância da menção também aos outros profissionais da saúde. "Sem os profissionais da farmácia, os de laboratório, o funcionário da higiene hospitalar ou da lavanderia ou da nutrição ou da manutenção não montamos equipe multiprofissional, com a qual obrigatoriamente o médico convive numa interdependência muito intensa."

DESDE 1967

O curso de medicina iniciou suas atividades no dia 15 de fevereiro de 1967, como Faculdade de Medicina do Norte do Paraná (Lei Estadual N. 5216). Em 1970, por ocasião da criação da Universidade Estadual de Londrina, esta e outras faculdades preexistentes foram extintas e na nova estrutura universitária criada, os cursos de medicina e de odontologia passaram a integrar o recém-criado Centro de Ciências da Saúde.

Até 1997, ou seja, nos primeiros 30 anos de existência do curso, verificou-se em média uma mudança curricular a cada seis anos. Este é um fato positivo, de estar em permanente desenvolvimento, respondendo aos avanços do conhecimento científico-tecnológico da área médica e do conhecimento científico-educacional. (Com informações da UEL)

Imagem ilustrativa da imagem Concorrência em medicina na UEL é a maior da história
| Foto: Fabio Alcover - 06-12-2015

RELAÇÃO CANDIDATO POR VAGA EM MEDICINA, SEGUNDO A COPS

2021-264,68

2020-170,5

2019- 122,07

2018-144,34

2017- 125

2016- 122,98

2015- 99,73

2014- 98,25

2013- 72,33

2012-90,82

2011-51,18

2010- 54,06

2009- 57,19

2008- 64,73

2007- 55,3

2006- 56,49

2005- 81,01

2004- 75,20

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