Em menos de 24 horas, dois incêndios atingiram imóveis abandonados na região central de Londrina, que vêm sendo ocupados por pessoas em situação de rua. Na madrugada de quarta-feira (29), por volta das 5h, o Corpo de Bombeiros combateu as chamas em um imóvel na rua Alagoas. Uma pessoa ficou gravemente ferida e o fogo consumiu praticamente toda a estrutura.

Poucas horas depois, outro incêndio foi combatido em uma casa abandonada na avenida Rio de Janeiro, quase esquina com a rua Espírito Santo. Todo o telhado foi destruído. Em ambos endereços, moradores e comerciantes vizinhos relatam que os locais funcionam há muito tempo como "mocós’" termo popular dado a espaços de ocupação irregular e que geralmente são usados como abrigos pelos moradores de rua.

Imagem ilustrativa da imagem Após incêndios, população volta a cobrar solução para ‘mocós’
| Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

“Tem uns quatro anos que esse lugar está abandonado, com mato alto, muita sujeira e um entra e sai de pessoas. À noite não dá para passar na frente, por insegurança, pois a gente nunca sabe quem está por ali. Achar uma solução imediata é difícil, mas se o terreno fosse limpo e cercado acho que amenizaria um pouco essa situação”, comenta Célia Santana, vizinha do imóvel na avenida Rio de Janeiro, que antigamente abrigava uma sapataria e um pet shop.

Nos fundos do terreno, há uma edícula que pegou fogo ontem à tarde. “Foi muita fumaça. Os bombeiros chegaram rápido, mas poderia ser pior. Vimos a reportagem sobre o outro incêndio, na rua Alagoas e logo começou aqui”, conta Thais Alcântara Santana, que mora em um edifício ao lado e procurou a reportagem para denunciar a situação.

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| Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

Ela conta que já entrou em contato por diversas vezes com a Prefeitura e demais órgãos públicos de segurança, mas que nada vem sendo feito. “Pela lei, uma propriedade não pode ficar neste estado. Acredito que a prefeitura tinha que limpar o terreno, lacrar e multar o proprietário”, diz.

Além da insegurança e preocupação sanitária relacionadas aos mocós, os moradores destacam a necessidade de ações mais efetivas para a população em situação de rua. “Está mais do que na hora de os órgãos públicos criarem um projeto de acolhimento e moradia digna para essas pessoas.", ressaltou uma comerciante, que pediu para não ser identificada, durante o rescaldo do incêndio ocorrido na rua Alagoas.

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| Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

Arline Silva também procurou a FOLHA nesta manhã de quinta (30) para relatar o transtorno que um imóvel na rua Espírito Santo, vem gerando na vizinhança há anos. “É um descaso público quanto aos mocós e tudo o mais relacionado aos problemas das pessoas em situação de rua. Estão esperando outro incêndio?”

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PROBLEMA CRÔNICO

A FOLHA vem acompanhando ao longo dos anos o problema crônico da situação que envolve a população em situação de rua. A última pesquisa divulgada sobre o número de pessoas nesta condição em Londrina foi em 2019, quando foram entrevistadas 930 pessoas. O levantamento foi feito pelo MP (ministério Público), UEL (Universidade Estadual de Londrina), secretarias municipais de Assistência Social e Saúde, Defensoria Pública, Unopar e Movimento Nacional da População em Situação de Rua. O estudo apontou também que os principais motivos que levam alguém para a rua são a dependência química (42%), os conflitos familiares (32%) e o desemprego (25%).

Em novembro de 2020, um levantamento obtido pela reportagem da FOLHA, por meio da Lei de Acesso à Informação, mostrou que a cidade apresentava, ao menos, 74 mocós. Dessa quantidade, 28 eram espaços públicos e 46 de origem particular. Os dados foram fornecidos pelo Seas (Serviço Especializado em Abordagem Social), da Secretaria Municipal de Assistência Social.

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| Foto: Divulgação/Arline Silva

PERFIL

Em fevereiro deste ano, a Prefeitura de Londrina divulgou o perfil das pessoas em situação de rua atendidas pelo Centro Pop e Serviço Especializado em Abordagem Social. O levantamento completo está disponível aqui. Em ambos serviços ofertados através da secretaria municipal de Assistência Social, foram 3.735 atendimentos somente em setembro do ano passado, considerando que uma pessoa pode ter mais de um atendimento no mês.

No Centro POP (Serviço Especializado para pessoas em situação de rua), foram 2.535 registros e o restante são da Abordagem Social. De acordo com o relatório, “as regiões do Centro são as que mais aglomeram pontos de abordagens e assim concomitante onde a população em situação de rua se concentra”. Em relação ao endereço de moradia foi identificado que 66% residem na rua/mocó.

Quanto ao perfil dessa população, o levantamento aponta que “a predominância é de pessoas adultas do sexo masculino, cuja raça predominante é parda/negra, seguida da branca, que não tem relação com o mercado de trabalho e encontram-se em sua maioria desempregada. Em relação a escolaridade em sua maioria ainda não finalizou o ensino fundamental, ou seja, de 5º a 8º ano. Em relação a renda familiar foi possível identificar que a maior parte são pessoas sem renda e que tem a rua como moradia.”

A FOLHA procurou o Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Londrina, pelo segundo dia consecutivo, para repercutir o assunto, mas não obteve retorno.

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