Problema crônico em Londrina, a situação dos moradores de rua gera debates e motiva o desenvolvimento de políticas públicas para tentar resolver este problema. Uma pesquisa feita por diversos órgãos, como a Secretaria de Assistência Social, o Ministério Público e a UEL (Universidade Estadual de Londrina), já publicada pela FOLHA no ano passado, mostrou que cerca de mil pessoas se enquadram nesse contexto. Mas um levantamento obtido pela reportagem graças a Lei de Acesso à Informação ajuda a entender um pouco mais o comportamento desse público.

Imagem ilustrativa da imagem Maioria dos moradores de rua de Londrina ocupa imóveis particulares abandonados
| Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

A FOLHA perguntou à Prefeitura de Londrina quantos mocós existem na cidade. Esse é o termo popular dado a espaços de ocupação irregular e que geralmente são usados como abrigos pelos moradores de rua. Segundo o Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS) da Secretaria Municipal de Assistência Social, 95 pontos como esses foram identificados em 2019, sendo 45 públicos (viadutos, praças, ruas e locais desativados) e 50 privados.

Em 2020, pelo menos até o início de novembro, data em que as informações foram fornecidas, o número diminui em comparação ao ano passado. Conforme o balanço, o SEAS contabilizou 74 locais de permanência de pessoas em situação de rua. Dessa quantidade, 28 são espaços públicos e 46 de origem particular. A maioria dessas áreas fica na zona urbana, mas a Assistência Social informou que também faz atendimentos nos distritos rurais.

A diretora de Proteção Social Especial do órgão, Josiani Nogueira, explicou como são as abordagens nesses imóveis. "Nos privados, batemos palma e perguntamos se podemos entrar. Falamos sobre nosso trabalho, tentamos criar um vínculo e auxiliar aquelas pessoas a acessarem outras políticas. Se não formos autorizados, não entramos. Entendemos que, nestes casos, os proprietários deveriam ser informados ou notificados para que cuidem de suas propriedades", disse.

O presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Londrina (Sincil), Marco Antônio Bacarin, acredita que muitas construções particulares hoje ocupadas pelos moradores de rua acabam abandonadas são oriundas de contratos paralelos entre locatários e locadores. "Às vezes o acordo termina e o imóvel fica lá, sem cuidado nenhum. Quando as imobiliárias são as administradoras, sempre entram em contato com os proprietários para achar uma solução. A crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus também acabou na desativação de muitos pontos", comentou.

De acordo com o participante do Movimento Nacional da População de Rua de Londrina, André Barbosa, são vários fatores que justificam essa ocupação em massa. "Em muitas vezes, é o descuido dos proprietários com a manutenção, mas também há a necessidade dos moradores de rua em terem um abrigo para se protegerem do sol, da chuva e da criminalidade. Mas, na minha opinião, a grande explicação é a falta de políticas para o setor", pontuou.