Imagem ilustrativa da imagem Especialistas 'comemoram' autorização da vacina contra Covid para adolescentes
| Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

A autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o uso da vacina Comirnaty, da Pfizer, em adolescentes de 12 a 15 anos no Brasil, divulgada na sexta-feira (11), cria uma grande expectativa em toda a população, incluindo a comunidade médica. O imunizante já tinha registro para uso em toda a população maior de 16 anos, mas agora a bula passa a indicar esta nova faixa etária. A FOLHA conversou com dois infectologistas pediátricos que têm atendido crianças com Covid e estão acompanhando o avanço da doença nesse público.

“A Anvisa veio com essa autorização em um momento muito importante para nós porque temos tido um aumento preocupante da doença na população pediátrica. À medida que vão vacinando os adultos, as crianças podem ficar mais expostas a um vírus pandêmico”, afirma o infectologista Victor Horácio de Souza Costa Júnior, vice-presidente da SPP (Sociedade Paranaense de Pediatria).

Costa Júnior atua no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, e que é referência nacional em atendimento pediátrico. Ele diz que a expectativa das equipes médicas é grande com o início das pesquisas em crianças e adolescentes e que recebeu a notícia da liberação da Anvisa com grande alegria.

O Hospital Pequeno Príncipe atingiu na semana passada o maior número de crianças internadas por Covid. “Chegamos a ficar com 28 crianças na enfermaria e UTI (Unidade de Terapia Intensiva). O que chama a atenção é que são crianças na primeira infância, principalmente de 1 ano e adolescentes com comorbidades como cardiopatia, doença neurológica, diabetes e obesidade”, destaca.

ÓBITOS EM CRIANÇAS

De acordo com o especialista, em dez meses de pandemia em 2020 foram registrados cinco óbitos na população infantil. “Neste ano, em cinco meses já foram seis crianças. A vacina é muito importante, mas vale lembrar que as medidas de segurança devem ser mantidas, pelo menos até atingirmos 70% da população nacional vacinada”, frisa.

Outro ponto que tem chamado a atenção das equipes do hospital, segundo Costa Júnior, é que a contaminação está acontecendo em ambiente domiciliar. “O aumento desses casos não se deve ao retorno das atividades escolares presenciais, pois essas crianças atendidas não estavam frequentando a escola. Elas permanecem em casa com os pais e com base nos nossos atendimentos, esses pais têm entre 30 e 50 anos, faixa etária economicamente ativa, que acaba saindo de casa todos os dias para trabalhar”, conta.

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RESPOSTA IMUNOLÓGICA

O infectologista pediátrico Marcelo Otsuka destaca que “ter a vacina para crianças acima de 12 anos é importante para restringir a transmissão da doença e evitar a evolução para um quadro mais grave nesses pacientes”. Ele é coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), vice-presidente da Departamento de Infectologia da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo) e trabalha no Hospital Infantil Darcy Vargas, em São Paulo.

A instituição é referência para alta complexidade e já atendeu 190 crianças com infecção pelo Coronavírus. “É importante entender que a criança, apesar de não ser tão comprometida pela Covid, ela pode ter casos graves e também pode transmitir o vírus”, afirma.

Otsuka lembra que a vacina para esta faixa etária já foi autorizada em outros países, como os Estados Unidos, e destaca que os estudos preliminares demonstraram a eficácia vacinal, mantendo o mesmo padrão de resposta aos demais grupos. A FDA (agência americana de Alimentos e Medicamentos) autorizou em maio o uso da vacina contra Covid da Pfizer neste público.

“O que a gente observa é que nas crianças a resposta imunológica com produção de anticorpos foi até superior a adultos jovens, o que demonstra que talvez a gente caminhe para o futuro com uma dosagem menor nos pacientes adolescentes, mas isso é conjectura, não dá para afirmar ainda”, comenta.

BOA RESPOSTA AO TRATAMENTO

Ainda de acordo com o infectologista, os estudos realizados não mostraram um aumento dos eventos adversos, mas ele cita alguns casos de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) em crianças com o aumento da vacinação nos Estados Unidos. “Mas todos os pacientes evoluíram bem, ou seja, tiveram boa resposta com o tratamento. Temos que ficar atentos ao risco de outros eventos que podem surgir com o passar do tempo, mas até agora não há nada que contraindique a vacinação desse grupo”, pontua.

Outra questão apontada pelo médico é o ritmo para a vacinação. “Temos uma população muito mais suscetível a ter a doença grave e que ainda não foi vacinada. Neste momento não é prioridade vacinar esse público (crianças acima de 12 anos) em geral. Talvez aqueles que tenham comorbidades possam entrar em um esquema de imunização mais rápido. Temos que ver qual vai ser o caminho das prioridades dentro da política pública”, conclui.

VACINA MODERNA

O laboratório Moderna anunciou na quinta-feira (10) que solicitou às autoridades reguladoras dos EUA autorização para o uso emergencial de sua vacina anticovid em adolescentes. A medida era amplamente esperada, depois que a empresa anunciou em maio que os primeiros resultados de um ensaio com 3.700 adolescentes de entre 12 e 17 anos determinaram que a aplicação de duas doses é segura e altamente eficaz nessa faixa etária.

A empresa biotecnológica americana fez solicitações semelhantes às agências reguladoras do Canadá e da União Europeia. A vacina Moderna está até o momento autorizada apenas para os maiores de 18 anos.

A eficácia da vacina foi de 100% depois de duas doses, quando se usou a mesma definição de doença que foi aplicada no ensaio com adultos. A vacina foi tolerada sem problemas de segurança. Os efeitos colaterais mais comuns após a segunda dose foram dor de cabeça, fadiga, dores corporais e calafrios. (Com France Presse)

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