| |

Política 5m de leitura

Rubens Bueno diz que não vai mais se candidatar e critica orçamento secreto

Parlamentar reeleito em 2022 tem uma longa história na política do Paraná, sendo que na Câmara Federal foi responsável por 2.681 propostas

ATUALIZAÇÃO
05 de janeiro de 2023

José Marcos Lopes/Especial para a Folha
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Rubens Bueno diz que não vai mais se candidatar e critica orçamento secreto

Um dos mais experientes da bancada paranaense na Câmara, o deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) não pretende mais se candidatar. Aos 74 anos, parlamentar, que não foi reeleito em 2022, diz que quer terminar seu quinto mandato da melhor maneira possível — em dezembro, votou favoravelmente para dar transparência ao orçamento secreto, que considera uma “vergonha da corrupção nacional”. 

Nascido em Sertanópolis, Bueno foi deputado estadual por duas legislaturas, entre 1983 e 1991, e secretário estadual da Justiça de 1987 a 1990, durante o governo de Alvaro Dias. Eleito deputado federal em 1990, venceu a disputa pela prefeitura de Campo Mourão em 1992. Voltou à Câmara Federal nas eleições de 1998 e disputou o governo do estado em 2002 e 2006. Em 2004, concorreu à prefeitura de Curitiba. Foi novamente eleito deputado federal em 2010 e reeleito em 2014 e 2018. Neste ano, ficou de fora com 42.321 votos.

Rubens Bueno: " O Centrão não muda de lugar. Quem muda é o governo, não o Centrão"
 

Ao longo de seus mandatos, Bueno foi responsável por 2.681 propostas na Câmara, entre projetos de lei, emendas à Constituição, requerimentos e outros tipos de iniciativas. Doze projetos se transformaram em leis, entre eles o que permitiu às mulheres registrarem o nascimento do filho e o que tornou obrigatório o uso de farol aceso durante o dia nas rodovias. Outros projetos de sua autoria são o que institui o Programa de Cultura do Trabalhador e o que criou o vale-cultura.

Uma de suas propostas, apresentada em 2012, nem chegou a tramitar. A PEC que acaba com o foro privilegiado não foi sequer apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. “Alguns falam e concordam, mas a grande maioria fica com o pé atrás e não ajuda na hora de votar”, diz o deputado.

O parlamentar paranaense também foi relator de projetos que geraram discussões no Congresso, entre eles o que tratava das pesquisas eleitorais (que acabou voltando à pauta após a eleição deste ano). Outra proposta relatada por ele estabelece o teto salarial no serviço público, a fim de barrar os chamados supersalários. O projeto foi aprovado na Câmara e aguarda apreciação do Senado.

FOLHA - O senhor foi prefeito e concorreu duas vezes ao governo, mas a última vez que disputou um cargo majoritário foi em 2006. O senhor diria que tem uma vocação para o Legislativo?

Rubens Bueno - Não me candidatei porque em 2010 eu me elegi deputado federal e repeti a votação até agora. Fui prefeito, fui secretário, é um misto. Uma coisa da vida pública é não ser exclusivamente de uma área, mas de qualquer maneira eu me encontrei mais no parlamento, dada a diversidade de ideias e de projetos que encaminhei. A política é o nosso dia a dia, quem não compreende a política não nada das relações humanas.

Um dos projetos que o senhor apresentou, e que ainda não foi apreciado, extingue o foro privilegiado. Como foi a aceitação da proposta na Câmara?

Está lá desde 2012. Não andou nada. Alguns falam e concordam, mas a grande maioria fica com o pé atrás e não ajuda na hora de votar. Tem que votar na CCJ para começar a caminhar, criar uma comissão específica para emitir um parecer antes de levado ao plenário. O problema é que não há receptividade. No mundo da política do Brasil, como ele está, não há receptividade.

Muitas lideranças tradicionais perderam espaço nas últimas eleições. O crescimento da extrema direita nos últimos anos atrapalhou essas candidaturas?

Tanto é verdade que houve uma polarização. O discurso do Bolsonaro era o PT e o Lula, o discurso do PT e do Lula era o Bolsonaro. Isso criou uma polarização e ao final uma radicalização que levou extremistas a tomarem conta do processo e eles tomam conta até hoje. É só ver o que aconteceu em Brasília. Quando a política se radicaliza e extremistas assumem o protagonismo desse processo, o que acontece são guerras. O mundo tem história nisso.

O senhor viveu o fim da ditadura e a volta da democracia, imaginava que uma parcela da sociedade pediria golpe de estado tanto tempo depois?

Não imaginava. Mas hoje é motivo de riso. Há dois meses leio que em 72 vai acontecer alguma coisa. Isso se deve muito ao avanço da internet. Eles souberam explorar isso pelo caminho da mentira e da desinformação, deseducando politicamente, e encontraram respaldo. As pessoas foram acreditando, montando grupos e reverberando isso. É um desserviço à política e ao país. Eles pegaram a cópia de tudo que já aconteceu, de Hitler a Mussolini. Andar de moto, andar a cavalo, mostrar o físico, nadar. É uma cópia fiel do que aconteceu em termos de nazismo e fascismo. Mas não há a mínima chance de uma ditadura, porque as instituições são muito fortes no Brasil. Com seus erros e pecados, mas elas são fortes exatamente para preservar a democracia.

O Congresso aprovou medidas para dar transparência ao chamado orçamento secreto, qual a sua opinião a respeito?

Sou contra o orçamento secreto e votei contra. É a vergonha da corrupção nacional a olho nu, por onde jorraram 20 bilhões de reais de dinheiro público sem saber para onde e para quem e sem saber quem destinou. É o emblema da corrupção do Brasil cristalizado. O que se buscou nas votações é dar transparência. A Câmara e o Senado aprovaram que 50% seja destinado para a área social, saúde e educação. Já é uma coisa boa carimbar esses 50%. É preciso saber se uma cidade comporta esse volume de recursos.

 Qual a sua expectativa em relação ao próximo governo?

O governo (do PT) já pagou um preço alto lá atrás, eu votei pelo impeachment da Dilma Rousseff, era líder de bancada e trabalhei para esse impeachment acontecer. Pagaram um preço alto pelos desmandos nos fundos de pensão, na Petrobras e em vários lugares. Os economiários da Caixa Econômica têm descontos nos seus salários para cobrir o furo no fundo de pensão. Se o governo não estiver vacinado para que isso não se repita, aí não tem mais condição.

Pela sua experiência na Câmara, o Centrão, que deu sustentação ao governo de Bolsonaro, integrará a base do governo Lula?

Não tenho nenhuma dúvida. O Centrão não muda de lugar. Quem muda é o governo, não o Centrão.

O senhor pretende voltar a se candidatar?

No início do ano vamos discutir, agora estamos fazendo o balanço geral do partido no estado. Na sequência vamos conversar e saber. Minha vontade de disputar eleição não existe. Para quem tem tantos mandatos cumpridos, estou procurando cumprir este da melhor forma possível.

Esse conteúdo é restrito para assinantes...
Faça seu login clicando aqui.
Assine clicando aqui.

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS