| |

PODE TER TAXA DE USO 5m de leitura

Moradores querem arquivamento de PL que muda gestão de áreas públicas

Projeto de Madureira passa administração de espaços como campos de futebol para entidades; pressionado, vereador cogita mudar proposta

ATUALIZAÇÃO
23 de agosto de 2023

Lucas Marcondes
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Moradores querem arquivamento de PL que muda gestão de áreas públicas

Em uma das audiências públicas mais concorridas dos dois anos e meio dessa legislatura, manifestantes lotaram a Câmara Municipal de Londrina (CML) na noite de segunda-feira (21) para, em sua esmagadora maioria, marcarem posição contra o projeto de lei 203/21, de Mestre Madureira (PP).

Hoje tramitando na versão de um substitutivo, o PL permite que organizações da sociedade civil sem fins lucrativos assumam a gestão de campos de futebol, quadras poliesportivas e “demais bens e espaços públicos similares destinados ao esporte, lazer e cultura” – conforme sua própria redação.

A versão original da matéria liberava a exploração desses locais até mesmo por pessoas jurídicas. A atual minuta segue abrindo margem para a cobrança de taxas – e reserva uma “cota” de 30% a beneficiários de programas governamentais de auxílio de renda.

O parlamentar voltou a defender sua medida ao sustentar que ela vai “estancar problemas” como depredação, mau uso e vandalismo registrados cotidianamente em próprios públicos cuja gestão e manutenção – ao menos em tese – são de responsabilidade da Prefeitura de Londrina.

“As pessoas passavam de sábado para domingo fazendo orgia naquele local”, criticou o vereador ao dar um exemplo sobre o Centro Esportivo Maria Cecília, na zona norte. Vaiado ao fim de seu pronunciamento, Madureira disse estar “de coração aberto para ouvir”. “Encontrei muitas pessoas com o projeto original, que não tem nada a ver com o de hoje”, comentou.

“NINGUÉM VAI TER PAZ”

Em um movimento com início de mobilização no domingo (20), por meio de manifestação no Residencial Vista Bela (região norte), o coro dos descontentes foi formado majoritariamente por jovens oriundos da cena local do hip hop. Em discursos, rimas – e até um jogral –, o grupo vociferou contra o texto, pedindo que o vereador “rasgasse” a proposta. Os poucos que se dispuseram a abraçar a ideia tiveram sua fala interrompida em diferentes oportunidades.

Uma das queixas dos moradores que querem o arquivamento é que, além de não pedir parecer do Conselho Municipal de Política Cultural (CMC), a proposição feriria dispositivos da lei 12.230/14. A norma regulamenta em Londrina as atividades dos artistas de rua, autorizando a “permanência transitória no bem público, limitando-se a utilização ao período de execução da manifestação artística.”

“Pelo menos da minha parte, se esse projeto de lei for aprovado e executado, ninguém aqui na Câmara vai ter um minuto de paz”, afirmou no microfone uma das integrantes da Batalha de Rima de Londrina, Ligia Braga. “Se não for o bastante vocês verem e ouvirem nosso descontentamento, a gente dorme aqui na frente, a gente faz batalha de rima dentro da Câmara”, acrescentou ela.

“A gente está tendo que lutar por um espaço que é nosso [...] Esse espaço é a salvação para muito jovem, esse espaço é o descanso para muita gente que trabalha a semana toda”, argumentou o presidente do Conselho Municipal de Políticas Públicas para a Juventude, Ismael Frare.

THUM MUDA VOTO; FÚ ATACA PL

Além de Madureira, seis vereadores estiveram na agenda: Beto Cambará (Podemos), Chavão (Patriota), Lenir de Assis (PT), Mara Boca Aberta (Pros), Matheus Thum (PP) e Roberto Fú (PDT). Entre eles, três (Assis, Boca Aberta e Fú) já haviam votado contra o PL quando ele passou em primeiro turno, no início de julho, com 14 votos favoráveis e 5 contrários – na ocasião, as galerias tinham mais pessoas que defendiam a matéria.

Thum, todavia, voltou atrás na audiência e decidiu mudar seu voto. O texto ainda será levado a segunda turno – que, por ora, não tem data para acontecer. São necessários 10 votos para a aprovação.

Fú reforçou ser “totalmente contra” a iniciativa. Para ele, “a quebradeira da praça” evidencia a “incompetência da nossa administração”. “Se o projeto fosse meu, eu levantaria nesse momento e rasgaria [...] Vamos regulamentar algo errado que já está acontecendo há muitos anos na cidade. Nós temos campos [de futebol] na cidade que o pai e a mãe chegam com a criança e se deparam com um cadeado no portão.”

“SE PRECISAR, FAÇO SÓ DO ESPORTE”

“Eles não estão entendendo a realidade do projeto, é lamentável isso. Se precisar, eu cancelo o projeto e faço outro só do esporte, não tem nenhum problema”, declarou Madureira em entrevista após o encontro, ponderando que, para isso, “precisa ouvir” quem o procurou para a implantação da medida.

Em parecer dado ao PL ainda em maio de 2022, a Fundação de Esportes de Londrina escreveu que “tal proposta deve ser acompanhada pelo incremento de pessoal ao quadro de servidores” da própria FEL. “Se tem a regulamentação, vai poder fiscalizar. Se não tem a lei, vai continuar igual como está. A fundação realmente precisa de melhorias”, reconheceu o autor.

As sugestões do público que foram formalizadas durante a audiência podem se tornar emendas – mas isso só se “apadrinhadas” por algum dos vereadores ou pelas comissões permanentes.

Esse conteúdo é restrito para assinantes...
Faça seu login clicando aqui.
Assine clicando aqui.

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS