De governador reeleito em primeiro turno em 2014 a três vezes preso em três operações diferentes em 2018, Beto Richa (PSDB) está de volta à cena política sem qualquer sentimento de culpa e disposto a reconstruir a própria imagem e a do partido que o pai ajudou a fundar.

Beto Richa: 
"Nesse momento eu queria muito um mandato para defender o Estado, ajudar o Brasil e sobretudo defender a minha honra”
Beto Richa: "Nesse momento eu queria muito um mandato para defender o Estado, ajudar o Brasil e sobretudo defender a minha honra” | Foto: Roberto Custódiio

Passado o período de recuo forçado pelas denúncias de corrupção em seu governo e uma derrota ao Senado, ele adota o discurso de que foi vítima de um processo que chama de “demonização da política” por parte do Poder Judiciário (especialmente a Lava Jato).

Ciente de que sua derrocada ajudou a encolher o PSDB no Paraná, que hoje conta com menos de 20 prefeituras, três cadeiras na Assembleia Legislativa e apenas uma no Congresso Nacional, Richa retomou a presidência estadual do partido disposto a reverter o quadro.

Em visita recente à FOLHA, quando veio cumprir agenda em Londrina, o ex-governador se defendeu atacando quando questionado sobre as denúncias de corrupção que o levaram, como ele mesmo disse, ao inferno. Na entrevista, acompanhado de assessores e correligionários, em momento algum reconheceu ter cometido erros.

Richa cumpriu ao todo 27 dias de prisão nas três vezes em que a Justiça ordenou sua detenção nas operações Integração (braço da Lava Jato que apurou suposto esquema envolvendo as concessionárias de pedágio), Quadro Negro (suspeita de superfaturamento em obras de construção de colégios estaduais) e Rádio Patrulha (suspeita de desvio de recursos na compra de maquinário agrícola para pavimentação de estradas rurais).

“A Constituição é clara: prisão só acompanhada de prova. Que prova têm contra mim? Era para aniquilar minha eleição, meu processo nunca foi jurídico, foi político-eleitoral”, disse.

Richa virou crítico da Lava Jato e de seus principais personagens – o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-SP) e o ex-coordenador da força-tarefa no Ministério Público Federal (MPF), Deltan Dallagnol (Podemos). Ambos deixaram a magistratura para entrar na política. “Só se confirmou o que se dizia lá atrás, que o objetivo dele (Moro) não era combater a corrupção, era o poder. Tanto é que a Lava Jato tentou pôr a mão em R$ 2,5 bilhões para formar o partido da Lava Jato”, disse. “Eu já tinha dito lá atrás que (a Lava Jato) era uma fraude. Tenho profunda indignação pelo que fizeram comigo, uma insanidade.”. Richa teve uma vitória no STF (Supremo Tribunal Federal) em relação às denúncias da Lava Jato quando a corte determinou que os processos fossem remetidos à Justiça Eleitoral.

RECONSTRUÇÃO

Sobre a reconstrução de sua carreira e a do PSDB no Paraná, ele disse que tem sido muito bem recebido nos municípios que já visitou e que o partido tem como meta eleger dois deputados federais (ele é um dos pré-candidatos) e conseguir até quatro cadeiras na Assembleia Legislativa.

“A política é cíclica, nem todos os partidos ficam no auge o tempo todo e muitos em baixa voltam a crescer. A minha prisão aqui não foi o que diminuiu o número de deputados do PSDB em Rondônia, no Pará, Nordeste, foi o momento do PSDB. Lógico que o que aconteceu comigo aqui teve um prejuízo significativo no Paraná”, admitiu. “Meu grupo era gigantesco, hoje, depois que você sair do poder... Não tenho medo de perder, faz parte, mas nesse momento eu queria muito um mandato depois do que aconteceu pra defender o Estado, ajudar o Brasil e sobretudo defender a minha honra.”

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