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Opinião 5m de leitura

Tempo para pensar e problematizar

ATUALIZAÇÃO
02 de fevereiro de 2018


AUTOR

Vivemos tempos de incertezas, tempos de tensão, tempos de descrença. Isto gera como condição humana um tempo possível de pensar novas possibilidades. Um tempo de pensar novas ideias, problematizar o passado e o presente, e lançar bases de futuro. Trata-se de rever profundamente nossa maneira de pensar e habitar o mundo. Assim o hoje, torna-se um tempo possível de pensar novas formas de sociabilidade, convivialidade, de produção, de consumo. Há uma linha tênue, entre o que queremos e o que o mercado quer.

Necessitamos compreender a natureza desse encaixe. Sobrepostos não conseguiremos, com lucidez, entender a construção que se evidencia, fazendo com que as formas se submetam a sua lógica.

Hoje, também, é um tempo possível de pensar novas formas na esfera política, portanto, um tempo de pensar formas de reconstruir, ampliar a democracia, um tempo para pensar as diversidades existentes de cidadania possível no interior das diferenças. Nesse sentido, é um tempo possível de ampliação dialógica em todas as esferas entender e ouvir melhor a natureza e a natureza humana.

Há uma degradação da economia e da política determinada por um tipo de produção, mercado e consumo. Há evidências que a democracia é, sobretudo, de mercado, onde anula o cidadão e estabelece a figura do consumidor. Há, portanto, um tempo de desencantamento de formas democráticas de baixo teor.

Necessitamos pensar e mudar as coisas... Já dizia o poeta. Algumas mudanças, outras transformações. Não podemos, nessa esteira de desencantamento, deixar de tentar e reconstruir possibilidades, alternativas, formas possíveis e necessárias para cruzarmos as próximas décadas. Teremos que permanentemente tentar outras e novas formas, comum num exercício do pensar permanente da análise, em verificar os elementos que permitem outras formas de combinação, e por que não as que ainda não existem e sequer foram testadas.

Qual a globalização que desejamos para o nosso país, ou seja, qual nossa forma de inserção diante da globalização? Qual o projeto de país, de nação? Hoje para a intelectualidade crítica, a democracia de baixo teor, dará muito trabalho para entender o quadro, fazer análises e para possivelmente perceber nas frestas que se abrem e que se fecham, os sinais que emitem e que podem colocar as análises à emergência do novo. Entendo que o novo proposto terá que ser qualitativamente superior ao que está posto, e não simplesmente um aperfeiçoamento da realidade, mas no sentido de produção de novas realidades.

Entender as forças que lutam e desejam as transformações com este roteiro, e as que lutam em sentido contrário. O fato pode ser resumido no seguinte: não podemos continuar a assistir ao mesmo filme.

Esses conjuntos de perspectivas que eclodem pelas diferentes bordas do tecido social, apresentam-se como força social carregada de significados, de valores, de formas. Portanto, há um saber gerado no cotidiano moderno, não restam dúvidas. As dúvidas residem nas formas de captar e entender este conteúdo gerador de um saber necessário para cruzarmos o nosso tempo, para um novo tempo, talvez nossas metodologias não conseguem captar essas formas diferenciadas. Por isso, não podemos desperdiçar as experiências e nem tão pouco descartá-las. Pelo contrário, cabe um esforço redobrado, em rever nossa maneira de captar e de analisar essa textura complexa e diferenciada. Por isso, necessitamos apurar nossas metodologias para recriar nossas teorias e aprofundar nossas análises.
Pelo visto, será um ano muito difícil este 2018.

PAULO BASSANI é sociólogo e professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina)

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