“Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados.” (Mt 5, 6)

No último dia 16, Londrina perdeu um de seus filhos mais ilustres. Depois de um longo período de hospitalização em São Paulo, o advogado e professor Lauro Fernando Zanetti terminou seus dias na cidade que tanto amou. Tinha 74 anos, 45 deles dedicados ao ofício da advocacia.

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - O legado de Lauro Zanetti
| Foto: iStock

Lauro Zanetti reunia todas as virtudes com que Ruy Barbosa define o bom advogado em sua célebre “Oração aos Moços”. Era um seguidor fiel da Justiça, a qual não desertava nem cortejava. Jamais trocou a legalidade pela violência, nem a ordem pela anarquia. Na busca pela verdade, nunca abriu mão da independência e da honestidade intelectual. Onde houvesse um grão, mínimo que seja, do verdadeiro Direito, ele estava disposto a cultivá-lo. No decorrer de sua longa e bem-sucedida carreira, não se curvou perante as injustiças e falsidades do poder.

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No final dos anos 90, quando quase todas as portas se fechavam para os clamores da sociedade civil, Lauro Zanetti acolheu na sede da OAB, como seu presidente, o Movimento pela Moralidade na Administração Pública de Londrina, que ficou internacionalmente conhecido como Pé Vermelho, Mãos Limpas. Vivíamos uma fase de corrupção e desvios na prefeitura de Londrina, com o escândalo AMA-Comurb. A sociedade londrinense, estarrecida diante do mar de lama no município, buscava espaço para expressar sua indignação ― e encontrou esse espaço na OAB de Londrina.

Naqueles dias difíceis, em que muitos preferiram se calar diante dos poderosos, a OAB foi a casa acolhedora onde os representantes da sociedade londrinense encontraram amparo e liberdade de expressão. Lauro Zanetti era o nosso anfitrião; mais do que um anfitrião, um conselheiro; mais do que um conselheiro, um guia. Defensor incansável da verdade e da lei, sabia conduzir nossa luta com o equilíbrio e a lisura de um mestre.

Era uma luta de Davi contra Golias. Nossos adversários tinham poder, tinham apoio político, tinham os meios de comunicação, tinham aliados fortíssimos na estrutura do Estado. Lauro Zanetti escolheu o lado certo, e nele se manteve firme.

Em junho de 2000, na sessão de cassação do prefeito Antonio Belinati, que durou longas 36 horas, Lauro Zanetti estava presente, trazendo consigo força e serenidade. A luta do movimento Pé Vermelho, que no início parecia impossível, terminou vitoriosa. A justiça prevaleceu ― e Lauro Zanetti teve um papel decisivo naquele episódio histórico.

Esse foi o nosso amigo, um homem que jamais fechou as portas para os que defendem a verdade, a liberdade, a lei e a moral. Mais do que nunca, o Brasil está precisando de Lauros Zanettis.

Valter Orsi, membro do Movimento Pé Vermelho, Mãos Limpas.

A opinião do autor não reflete, necessariamente, a opinião da FOLHA.

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