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GERAL 5m de leitura

Paraná tem menor cobertura vacinal de sarampo e poliomielite em cinco anos

Levantamento aponta queda no número de crianças vacinadas no estado a partir de 2017; falta de percepção de risco e fake new

ATUALIZAÇÃO
28 de setembro de 2022

Rafael Fantin - Especial para a FOLHA
AUTOR

Pelos hospedeiros das redes sociais e grupos de mensagens, o vírus da desinformação começou a circular entre 2015 e 2016 e, sem alarde, se tornou uma pandemia. Mensagens falsas, estudos sem fontes, opiniões baseadas na pseudociência se espalharam e, logo, o movimento antivacina ganhou força e viveu seu ápice na crise global do coronavírus.

A taxa de imunização do Plano Nacional de Vacinação caiu, 
drasticamente, no calendário tradicional e nas campanhas
 

Após tantos sintomas, o diagnóstico. A alta taxa de imunização do Plano Nacional de Vacinação caiu, drasticamente, tanto no calendário tradicional, por idade, quanto nas campanhas. Hoje, o Paraná possui a menor cobertura vacinal dos últimos cinco anos. Levantamento feito pela FOLHA aponta que doenças como poliomielite e sarampo têm índices de imunização que colocam o setor da saúde em alerta.

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De acordo com os dados da Sesa (Secretaria da Saúde do Estado do Paraná), a vacina da poliomielite tinha uma cobertura de 90% até 2018, mas o número caiu para 53% das crianças até o momento, lembrando que os dados de 2022 ainda estão em aberto.

Na atual campanha, o Estado já conseguiu vacinar 63% de mais de 620 mil crianças até 4 anos, até quarta-feira (28), de acordo com Vacinômetro Nacional. O percentual de cobertura cresceu nas últimas semanas após ampla divulgação e apelo para que os pais levassem os filhos para imunização nos postos de saúde.

Mesmo assim, ainda significa que quase 40% do público-alvo segue desprotegido de uma doença que foi erradicada há 30 anos no Brasil, mas que teve o vírus encontrado em esgotos de Nova York e Londres em agosto. O vírus da pólio é transmitido pelo contato direto entre pessoas por via fecal-oral, objetos, alimentos e água contaminada, além de gotículas da garganta na fala, tosse ou espirro.

Por aqui, a campanha contra a poliomielite, voltada para crianças até 4 anos, segue até sexta-feira (30), mas os órgãos de saúde se desdobram para atingir um percentual abaixo em comparação ao de cinco anos atrás.

 

De acordo com a chefe da Divisão de Vigilância do Programa de Imunização no Paraná, Virginia Dobkowski Franco dos Santos, após as três doses iniciais entre 2 e 6 meses de idade, o reforço vacinal da pólio é feito aos 15 meses e aos 4 anos com o objetivo de reativar o sistema imunológico com as “gotinhas”, que se tornaram um símbolo da vacinação brasileira com o personagem Zé Gotinha.

O levantamento mostra que a cobertura até 4 anos atingiu 86,79% em 2019 no Estado, mas após a pandemia, o número caiu para 67,87% no ano passado. Há dois dias do final da campanha, com encerramento prorrogado de 9 para 30 de setembro, a cobertura vacinal deve ficar mais uma vez abaixo do ano anterior. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda 95% da cobertura vacinal, mas a atual campanha no Brasil está apenas com quase 55% do público-alvo imunizado contra a pólio.

“Não é falta de vacina ou de acesso. Ampliamos os horários de atendimento e a divulgação, mas existe uma falta de percepção do risco dessas doenças erradicadas e muita desinformação sobre vacinas por causa do aumento de fake news na Saúde”, alertou a chefe da Divisão no Paraná.

Ela também lembrou que a campanha de imunização contra o sarampo foi realizada entre abril e maio deste ano, junto com a vacinação da influenza, mas apenas 47% das 620 mil crianças até 5 anos foram imunizadas com a tríplice viral (sarampo-caxumba-rubéola) no período.

Após 20 anos, o Paraná voltou a registrar casos de sarampo a partir de agosto de 2019, quando uma mulher teve a doença na Região Metropolitana de Curitiba, depois de uma viagem ao Estado de São Paulo, que registrou surto de sarampo naquele ano. A doença pode ser transmitida por gotículas com partículas do vírus pelo ar e pelo contato social.

No ano seguinte, o Paraná também registrou surtos da doença e teve mais de 2 mil casos de sarampo entre 2019 e 2020. Não houve óbito por sarampo no período. Dependendo da evolução da doença, o sarampo pode ser fatal.

A vacina no Brasil é recomendada em duas doses: aos 12 meses com a vacina tríplice viral e aos 15 meses com a tetra viral (sarampo-caxumba-rubéola-varicela). Na ausência da tetra viral, a criança também pode ser imunizada com a segunda dose da tríplice viral, mais a vacina da varicela.

O secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, afirmou que o mundo passou por duas pandemias ao mesmo tempo. Além da Covid-19, a proliferação das fake news foi nociva e prejudicou a vacinação como um todo no planeta, na avaliação dele.

Outro fator apontado pelo chefe da pasta da Saúde em Londrina é que as novas gerações não conviveram com as doenças erradicadas pelas vacinas no Brasil. O último caso de pólio no país é de 1989. “As gerações passadas temiam perder os filhos para essas doenças ou que eles ficassem marcados por toda a vida pelas sequelas. Esse é um risco que a geração atual pode voltar a enfrentar, mas ainda é possível reverter, graças a vacina”, alertou.

A Secretaria de Saúde de Londrina promoveu uma série de ações para aumentar a vacinação durante a campanha contra poliomielite. As Unidades Básicas de Saúde tiveram os horários de atendimento ampliados para atenderem aos pais e crianças após às 18h e nos sábados. Além disso, a vacinação contra pólio também foi realizada em shoppings e nas escolas, com autorização dos responsáveis pelos alunos. “É uma luta inglória, mas não podemos desistir”, desabafou.

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