Os números alarmantes e cada vez maiores da pandemia da Covid-19 em Londrina não é o que mais chama a atenção neste momento em que a doença avança em todo o território nacional. Por trás de cada atendimento e internação, existem histórias de dor e sofrimento, além da angústia vivida especialmente por quem aguarda a recuperação de um ente ou amigo querido.

PS do HU, porta de entrada para os pacientes com Covid-19 em estado grave
PS do HU, porta de entrada para os pacientes com Covid-19 em estado grave | Foto: Gustavo Carneiro/Folha de Londrina

No dia em que o HU (Hospital Universitário), hospital de referência para o tratamento de casos moderados e graves da Covid-19 no Norte do Paraná, confirmou que 50 pacientes aguardam na fila por uma vaga em um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), a FOLHA ouviu familiares que vivem o drama e ao mesmo tempo a esperança de dias melhores.

No início da tarde de quarta-feira (3), o movimento de ambulâncias chegando ao pronto-socorro do HU era grande. A reportagem flagrou a chegada de pacientes vindos de várias cidades da região metropolitana, como Ibiporã, Jataizinho e Florestópolis.

Do lado de fora do PS, Eloine Cristina da Silva, 26 anos, tentava conter as lágrimas e ao mesmo tempo aguardava notícias da mãe, que foi trazida de Jataizinho para o HU. Rosiclei Babolin Silva, 53, que é diabética, foi diagnosticada com Covid-19 na semana passada, mas na terça-feira (2) começou a sentir falta de ar.

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"Levamos ela para o hospital, ela foi medicada e voltamos para casa. Hoje ela passou mal novamente. Voltamos ao hospital e aí já encaminharam ela aqui para Londrina", conta a filha. Na casa da família, Eloine foi a única que não contraiu o coronavírus. No entanto, o pai e o irmão tiveram sintomas leves.

"A minha mãe veio na ambulância já com o oxigênio pela dificuldade de respirar. Ela já está lá dentro há mais de três horas e ainda não me passaram nenhuma informação. Esta angústia na espera é a pior coisa e não desejo isso para ninguém".

Acompanhado da mãe, Matheus de Souza observava o pai ser retirado de uma ambulância e ser encaminhado para o pronto-socorro. Almir de Souza Lima, 58 anos, chegou entubado e amparado por socorristas e enfermeiros. "Durante a madrugada ele piorou e teve muita tosse e dificuldade para respirar. Fomos para a UPA do Sabará e já encaminharam ele aqui para o HU", conta o filho.

Após realizar os tramites burocráticos da internação, mãe e filho se dirigiram para fora do PS e mostraram preocupação com o grande número de pacientes infectados com a Covid-19. "Ficamos sabendo desta falta de leitos, mas como meu pai veio já encaminhado por uma ambulância, acreditamos que ele vá direto para um leito. Pelo menos é isso que esperamos".

Do outro lado do PS, próximo a entrada reservada para os visitantes, Karina da Silva Prestes, aguardava ao lado da mãe, sentada em um banco, o horário para visitar o marido. Adrian Dantas Miranda, 27 anos, está internado há uma semana na UTI do HU.

Ao lado da mãe, Karina Prestes aguarda notícias do marido, internado há uma semana na UTI
Ao lado da mãe, Karina Prestes aguarda notícias do marido, internado há uma semana na UTI | Foto: Lucio Flávio Cruz/Folha de Londrina

"Trouxe a minha mãe hoje para ela entrar na visita porque como também tive a Covid estou com a imunidade muito baixa e não posso entrar", relata Prestes. "Precisamos pegar a carteira dele e o celular para fazer o pagamento para os nossos funcionários".

A família tem uma pequena empresa de prestação de serviços na área de internet na zona norte de Londrina e todos os dez funcionários também foram infectados pelo novo coronavírus.

No grupo de risco, em razão da obesidade, Adrian Dantas ficou três dias internado na UPA do Sabará até ser transferido para o HU. Com tosse, febre e falta de ar precisou ficar três dias na enfermaria até que um leito de UTI fosse liberado.

"Ele está entubado há uma semana e ainda pegou uma infecção hospitalar. Os médicos acreditam que ele foi infectado por esta nova cepa do vírus. A informação que recebemos hoje é que ele está sem febre e estável. De qualquer forma, estamos nas mãos de Deus".

Além de compartilharem dos mesmos dramas, angústias e esperança, todos têm a mesma sensação que a pandemia chegou a tal ponto também pelo relaxamento da população. "As pessoas perderam o medo. Mas isso vai até quando a doença chega perto e a partir daí o medo volta a tomar conta", desabafa Eloine da Silva.