Metas irreais? Não caia nessa cilada
Respeito aos limites do corpo e da mente na hora de estabelecer objetivos pessoais e profissionais é tema da campanha 'Janeiro Branco'
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
Respeito aos limites do corpo e da mente na hora de estabelecer objetivos pessoais e profissionais é tema da campanha 'Janeiro Branco'
Jéssica Sabbadini - Especial para a Folha
A cada começo de ano, muitas pessoas costumam definir metas e objetivos para o ciclo que se inicia, seja uma mudança de emprego, uma viagem especial ou um novo relacionamento. De acordo com especialistas, cada pessoa tem vontades e ambições diferentes, mas um tópico deve estar presente na lista de desejos de todo mundo: o cuidado com a saúde mental. Para tanto, se propõe a campanha "Janeiro Branco".
O objetivo do "Janeiro Branco" é chamar atenção de toda a sociedade para a necessidade do cuidado com a saúde mental já desde o início de ano. De acordo com os dados mais recentes da OMS (Organização Mundial da Saúde), quase um bilhão de pessoas no mundo vive com algum tipo de transtorno mental; em 2019, a cada 100 mortes, ao menos uma foi por suicídio.
A psicóloga Mônica Fujimura explica que a campanha busca combater tabus e orientar a população a respeito do cuidado com a saúde mental. Ela destaca que janeiro é o mês-símbolo da campanha por ser um período em que as pessoas costumam fazer planos e definir os objetivos que desejam alcançar no decorrer do novo ano. “A cor representa uma tela em branco, onde é possível projetar as expectativas e desejos”, conta.
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Para 2023, o tema escolhido foi: ‘A vida pede equilíbrio’. “Em meio a tantas cobranças, o tema traz alertas importantes, como o reconhecimento dos limites do corpo e da mente”, explica. Ela ressalta que o equilíbrio deve ser trabalhado tanto em relações pessoais quanto profissionais. “O equilíbrio é você perder algumas coisas para ganhar outras. Isso não é uma tarefa fácil, já que muitas pessoas chegam a adoecer mental e fisicamente por não conseguirem lidar com essas questões”, esclarece.
TABUS
A psicóloga ressalta que, apesar da disponibilidade de informações, diversos tabus ainda atrapalham o diagnóstico de problemas psicológicos, como concepções equivocadas de que manifestações de sofrimento são sinais de fraqueza, falta de caráter ou fé. “Ainda hoje escutamos pessoas dizendo que a solução é não pensar em determinado assunto que traz sofrimento, ou apagar o que se viveu e focar no presente e no futuro”, explica. Segundo ela, também há quem ache que ir ao psicólogo ou ao psiquiatra é ‘coisa de louco’. “Esse tipo de coisa faz com que as pessoas não tratem o problema de forma adequada, podendo fazer com que o quadro se agrave e outros sintomas físicos e psicológicos comecem a aparecer”, explica.
Causas
O psiquiatra João Antonio Rodrigues explica que todas as doenças psicológicas são herdadas dos familiares. “Apesar de ter essa origem na hereditariedade, alguns traumas vivenciados também podem se tornar gatilhos para a pessoa desenvolver um problema psiquiátrico, como um abuso sexual, um assalto ou um relacionamento amoroso tóxico”, esclarece.
Diagnóstico
Rodrigues explica que o diagnóstico é realizado através de uma conversa entre o paciente e o psiquiatra. Segundo ele, algumas vezes é necessário colher informações com familiares e amigos que acompanham de perto o caso. “Em algumas situações, nós também solicitamos exames complementares para auxiliar no diagnóstico, como exames de sangue e imagem”, ressalta.
Tratamento
Rodrigues destaca que o tratamento pode ser multiprofissional, envolvendo psiquiatra, psicólogo, educador físico, nutricionista e terapeuta ocupacional. “O tempo de tratamento varia de acordo com cada doença, em algumas situações, como uma depressão já crônica ou um transtorno bipolar, o tratamento tem que ser feito durante toda a vida, pois a interrupção pode fazer com que a pessoa entre novamente em sofrimento”, explica.
Já em relação a outras doenças, quando o tratamento é feito de forma, o paciente consegue receber alta e manter uma vida sem medicação. “Temos que desmistificar a doença psiquiátrica, mostrar que existe tratamento e que a pessoa consegue manter a sua vida bem, trabalhar e se relacionar”, ressalta.
Mônica Fujimura destaca que há uma cultura da automedicação, em que as pessoas conseguem uma receita médica com profissionais não especializados ou com parentes que usam determinada medicação e indicam. “Isso é muito perigoso. Os remédios funcionam de modo particular em cada pessoa, com diferentes efeitos e interações medicamentosas. Por isso é muito importante ter um diagnóstico e um acompanhamento médico especializado”, explica.
É um problema de hoje?
Para Fujimura, o avanço nas pesquisas científicas e na educação da população sobre a saúde mental possibilitaram o diagnóstico e tratamento dessas condições que antes poderiam estar sem conhecimento. “Isso permite que as pessoas entendam mais a respeito da saúde mental e consigam um diagnóstico mais preciso. Por outro lado, as mudanças culturais possibilitam que a população conviva mais com pessoas em situação de sofrimento psíquico. Antigamente, essas pessoas ficavam escondidas, eram rejeitadas da convivência social e da vida produtiva”, finaliza.
10 DICAS PARA CUIDAR DA SAÚDE MENTAL
O Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) divulgou dez práticas orientadas pelo psiquiatra Vicente Ramatis para cuidar da saúde da mente:
1 – Cuide da alimentação
Comer bem não tem a ver apenas com a boa forma física, mas com o bem-estar geral. Opte por um cardápio variado e equilibrado.
2 – Pratique atividade física
Colocar o corpo em movimento de forma regular também contribui para a saúde emocional.
3 – Priorize o sono
É muito importante dormir bem, tendo uma boa rotina de sono. Noites mal dormidas colaboram para agravar os transtornos mentais/emocionais.
4 – Tenha momentos dedicados às pessoas queridas
É importante conviver com amigos e familiares.
5 – Reserve um tempo para o lazer
Faça atividades que te deixem felizes, como passeios, encontros com amigos, cinema, ler bons livros, sair para dançar, entre outros.
6 – Esteja em contato com a natureza
Faz bem para o corpo e para a mente estar ao ar livre, conectando-se ao meio ambiente e escapar um pouco da rotina puxada do trabalho e da casa.
7 – procure hoobies que lhe dê prazer
É muito saudável ter alguma atividade diferente na rotina. Escolha algo com que tenha afinidade ou mesmo que sempre teve vontade de praticar e nunca teve coragem. Pintura, dança ou algum esporte são alguns exemplos.
8 – Desenvolva sua espiritualidade
E isso independe de crença/religião. A fé está ligada à forma como nos relacionamos com o mundo e com as pessoas, ao otimismo, a crer na vida e em algo que tenha significado para você.
9 – Conheça a si mesmo
Existem várias formas de se conhecer como terapias, psicanálise, bodytalk, teatro, atividades lúdicas, etc.
10 – Ajude o próximo
Pode ser um vizinho que precisa de ajuda ou um trabalho voluntário. Fazer o bem faz bem.
Fonte: Biblioteca virtual Cofen