Você já pensou em traduzir a sua inteligência em números? E as suas habilidades? Tão difícil quanto quantificar algo tão abstrato, é garantir que alguém não é inteligente. O famoso teste de Q.I. (Quociente de Inteligência), antes determinante para classificar a capacidade do ser humano, hoje é utilizado apenas como elemento de uma avaliação psicológica mais cuidadosa. ''Muitas crianças, jovens e até adultos são encaminhados diariamente por médicos ou professores para diagnóstico psicológico, mas para cada situação é aplicado um teste específico. E nem sempre é o de Q.I.'', garante a psicóloga Alexandra Biral Faconti, que há 20 anos trabalha com este tipo de avaliação.
O teste que identifica o quociente de inteligência foi criado originalmente na França, no início do século XX, e modificado posteriormente nos Estados Unidos. De maneira simplificada, ele é calculado pela razão entre a idade mental e a idade cronológica da pessoa. Este número é múltiplicado por 100, chegando a um resultado que será comparado a uma tabela que classifica o avaliado de débil mental profundo a superdotado. A idade mental é calculada a partir de uma série de testes cognitivos que exploram o raciocínio lógico e desconsideram o contexto social e emocional do paciente.
''O teste de Q.I. como número não serve para nada. Agora, se for aliado a outras avaliações e bem utilizado por um profissional, este diagnóstico pode identificar caminhos para que o paciente, talvez com dificuldades, possa se desenvolver melhor'', esclarece a psicóloga Cássia Regina de Souza Preto, que integra o Conselho Regional de Psicologia e participa das discussões da Comissão Nacional de Avaliação de Testes Psicológicos. Ela ainda acrescenta que, em várias situações, a expressão ''teste de Q.I.'' é utilizada como sinônimo de ''avaliação psicológica''.
Se antes, pais, professores, médicos e até empresas, queriam saber o Q.I. das pessoas principalmente para classificá-las e determinar o tratamento que seria dado a cada uma , hoje o desafio é descobrir as habilidades pessoais. ''Dá para dizer que uma pessoa é mais inteligente que outra? Não. Pode-se dizer que é mais habilidosa'', afirma Alexandra.
O raciocínio é semelhante ao empregado pelo Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação que está sendo implantado no Núcleo Regional de Educação de Londrina. A iniciativa é pioneira e parte de uma parceria entre os governos estadual e federal. ''Atualmente atendemos 22 crianças que foram identificadas pelos professores e famílias como habilidosas não somente no raciocínio escolar, mas também em outras áreas do conhecimento'', informa a coordenadora do Núcleo, a pedagoga Fabiane Chueire Cianca. O objetivo do projeto é potencializar o desenvolvimento destes jovens.
A necessidade de pais e professores saberem como lidar com estas crianças e jovens é importante para o desenvolvimento dos mesmos. Engana-se, por exemplo, quem pensa que as pessoas identificadas como limítrofes em determinadas habilidades sofrem mais que as que têm facilidade. ''Para uma criança que tem raciocínio muito rápido a escola pode se tornar uma coisa chata e desinteressante, por exemplo. Aí entra o acompanhamento psicológico'', esclarece Alexandra Faconti.