São Paulo - R.R. Soares fala como quem prega, mesmo fora do ''Show da Fé'', programa de orações e milagres que apresenta na TV aberta. As gravações são feitas em uma das unidades da Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada pelo missionário há quase 30 anos, pouco depois do rompimento com o bispo Edir Macedo, criador da Igreja Universal do Reino de Deus e seu cunhado.

Tranquilo, o pastor de 60 anos emenda uma citação bíblica atrás da outra e defende suas posições, consideradas reacionárias - para seu orgulho. Em entrevista à reportagem ele conta como se tornou evangélico, defende o dízimo e declara que só tem um inimigo: o diabo.

Ser missionário não é profissão?
Não preciso viver do Evangelho. Não é uma profissão e não devemos fazer disso um meio de vida, o propósito-alvo. Nosso alvo é fazer o ser humano entender quem é Deus. O problema é exatamente esse: a pessoa não ouve a Deus, só ouve a religião. E fica fanático, tem uma fé mental, não reconhece a Deus. E você encontra em qualquer religião. Para ele, aquilo é o certo, o pregador é o melhor. E isso está errado. Temos que nos dobrar à Palavra. Aí tem mil e uma atividades para a pessoa exercer. Vai ser técnico, agricultor, comerciante, vendedor, mas não mercador da fé.

Então qual é sua profissão?
Já fiz muitas coisas. Fui camelô na rua, assessor financeiro e atualmente vivo da minha gráfica. E é assim minha vida. Tem pessoas que conseguem uma bênção de poder criar um sistema do qual vivem. Uns vão para a praia... eu vou pregar. E não é errado a pessoa viver da fé também. Se é um pregador, tem direito de ganhar o dinheiro dele.

Dizem que sua interpretação da Bíblia é conservadora.
Eu gosto dessa palavra!

Gosta?
O pessoal da (revista) ''Veja'' colocou (em uma reportagem publicada anos atrás) que eu era reacionário. Quer dizer: a pessoa aguerrida à verdade. Quando há deteriorização de costumes, a pessoa começa a apoiar a falta de respeito para com o cônjuge, achando que pode ter amantes. Isso vai ser a destruição da raça humana.

A palavra conservador é geralmente ligada a uma coisa ruim.
Pode me dar o nome que for. Quando começamos, diziam: ''Isso é seita''. E eu brincava: ''Nóis aceita sim''. (risos) Por que o que é seita, o que é religião? As religiões de hoje foram chamadas de seitas.

Quando o senhor foi ''tocado''?
Quando tinha 6 anos, abriu do lado da minha casa, no Espírito Santo, onde morava, uma igreja presbiteriana. Umas pessoas da igreja falaram com meus pais e os convidaram para ir, e eles disseram que iriam. Chegando em casa, minha mãe disse que não iria. Ela era católica, dessas roxas. E meu pai disse: ''Mas já dei minha palavra, não fica bem. Vamos mandar as crianças''. Mandaram os três (filhos). E naquela noite, o pregador pregando, a Palavra falou comigo. Mesmo tendo 6 anos, eu chorava, enxugava as lágrimas e dizia: ''Senhor, hoje aceito Jesus, me leva para o céu.'' Daquele dia em diante, fui para a Igreja Batista, porque um de meus avós era de lá. E ali fiquei até os 16 anos.

Qual foi seu primeiro milagre?
Nunca fiz milagre nenhum (risos). Jesus que me usa para fazê-los. Mas não sei dizer qual a primeira vez que Deus me usou. Acho que quando era menino. Quando orava já me curava com o que aprendia na Bíblia. Tinha 9 anos, estava na casa do meu avô. Peguei uma Bíblia e li esse trecho que está no evangelho de Lucas: ''E inclinando-se para ela, repreendeu a febre e esta a deixou.'' Saí e fiquei meditando sentado em uma tora: ''Se eu falar para essa tora aqui ''saia, em nome de Jesus'', ela não sai porque não tem ouvidos. Uai, então a febre tem ouvidos. Como pode ser isso? Ou tem alguém que está provocando a febre que tem ouvidos? Então se eu a repreender ela vai embora? Vai.'' E isso é a plena verdade.

O senhor peca também?
Eu prefiro não pecar, não... (risos)

Tenta não pecar...
Tento não pecar. Às vezes você maltrata uma pessoa sem querer. Se alguém diz que não tem pecado é mentiroso.

Se orar para uma pessoa sem ela acreditar, efetua-se a cura?
Às vezes sim, às vezes não. Depende do plano de Deus.

Há muitas críticas às igrejas evangélicas. Ainda há preconceito?
Hoje quase não tem. Quando comecei era terrível. A Igreja Católica tinha lançado uma pecha sobre os evangélicos, quem lesse a Bíblia estava doido. Pode perguntar às pessoas da minha idade se não existia isso. Não liam a Bíblia, depois começaram a ler. Hoje estão cantando nossas canções, esses padres cantores.

A relação com outras igrejas é boa?
Com todo mundo. E se me convidarem, prego na Igreja Católica, prego em um centro de macumba. Todo mundo precisa entender que não é religião, é o entendimento da Bíblia sagrada.

Mas já teve desafetos?
Não. Às vezes pedem explicação, você dá. Eu sou transparente. Você está vendo a Palavra de Deus, se alguém quer brigar tem que brigar com quem colocou isso na Bíblia.