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Justiça adia julgamento do Caso Eduarda Shigematsu

Pai e avó da criança são réus acusados de envolvimento na morte; garota foi encontrada enterrada na garagem de imóvel da família em 2019

ATUALIZAÇÃO
28 de março de 2023

Pedro Marconi
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Justiça adia julgamento do Caso Eduarda Shigematsu

Uma liminar concedida na tarde desta terça-feira (28) pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) adiou mais uma vez o julgamento do caso que envolve a morte de Eduarda Shigematsu, de 11 anos.  O julgamento aconteceria às 8h30 desta quarta-feira (29), no tribunal do júri de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina). A defesa do réu Ricardo Seidi, pai de Eduarda, impetrou um habeas corpus no STJ  que suspendeu o julgamento após quase quatro anos de espera. O caso já teve pelo menos dois adiamentos.

O STJ ainda deve marcar uma sessão para analisar o mérito do habeas corpus solicitado pelo advogado Douglas Rocha, um dos  defensores de Ricardo Seidi, se acata ou não o pedido para transferir o julgamento para outra cidade. De acordo com Rocha, não há prazo para essa análise.  "Acredito que será concedido o pedido para que o caso seja desaforado para outra comarca", afirmou o defensor. Sobre o pedido, Rocha garantiu que só deseja um julgamento sem interferências. "Só estamos preocupados em garantir ao Ricardo um julgamento justo e imparcial."

Estariam no banco dos réus Ricardo Seidi e Terezinha de Jesus Guinaia, pai e avó da menina. O pai da criança é acusado de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica, enquanto que a avó paterna será julgada pelos crimes de ocultação de cadáver e falsidade ideológica.

Depois de ver o TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná) negar na semana passada o desaforamento do tribunal de origem, ou seja, a transferência do julgamento de Rolândia para outra comarca, a defesa de Ricardo Seidi apelou ao STJ e obteve o pedido de liminar assinado pelo ministro relator Ribeiro Dantas, do STJ. 


Em seus argumentos ao STJ, a defesa alegou que "o caso foi de grande clamor social na localidade, sendo noticiado por toda a imprensa regional" e que teriam sido feitas "ameaças realizadas por moradores de Rolândia em redes sociais quando o caso é (sic) divulgado pelas mídias regionais, e ainda, até mesmo por ter sido criada uma Lei Municipal em homenagem a vítima do presente caso". 

Os advogados afirmaram ainda que "a casa do acusado e de sua mãe já foi depredada e furtada por moradores da cidade, sendo clarividente que a população da cidade de Rolândia, possui total parcialidade com o caso".

O outro ponto alegado pela defesa é de que “a família (de Eduarda) por ser pioneira na cidade de Rolândia, possui influência notória por serem descendentes nipônicos que praticamente 'fundaram' a cidade, desta feita, clarividente e perceptível que o corpo de jurados receberá influência passíveis de comprometer sua parcialidade interferindo no julgamento”.

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Para a defesa da mãe da garota, o processo tem laudos que mostram que Ricardo e Terezinha teriam responsabilidade na morte. “Todos aguardam a concreta realização da justiça penal. Os fatos foram praticados, o conjunto comprobatório é robusto e a criança Eduarda veio a falecer pela conduta impetrada pelos dois réus. Trata-se de um crime trágico e injustificável sob qualquer ponto de vista”, afirmou o advogado Hugo Esteves, que também será assistente de acusação.

O CASO

Eduarda morava com o pai e avó desde os três anos de idade, quando a mãe perdeu a guarda durante o processo de separação. Ela desapareceu em 24 de abril de 2019. Imagens de câmeras de segurança flagraram a garota chegando em casa da escola, mas não saindo do imóvel. A própria avó foi quem registrou boletim de ocorrência denunciando o sumiço.

No entanto, durante a investigação a Polícia Civil recebeu a denúncia de que no mesmo dia do desaparecimento Ricardo Seidi foi até uma outra residência da família, na área central. Durante vistoria, os policiais encontraram uma parte próxima à garagem com concreto novo, onde descobriram uma cova rasa com o corpo de Eduarda. A criança ainda estava com os pés e as mãos amarrados e um saco plástico na cabeça.

Casa onde corpo da Eduarda foi encontrado atualmente está fechada
 

O pai sempre foi considerado o principal suspeito, acabou preso e durante interrogatório alegou que havia se deparado com a filha enforcada em casa e, segundo ele, escondeu o corpo por desespero. Entretanto, o laudo da perícia apontou que Eduarda foi esganada. Seidi segue atrás das grades na unidade um da PEL (Penitenciária Estadual de Londrina).

PERGUNTA SEM RESPOSTA

A avó também acabou detida, na época, suspeita de esconder o crime, porém, conseguiu a liberdade cerca de 50 dias depois. Até hoje o motivo do suposto crime não foi explicado. “Infelizmente, esse é um tópico do processo que ficamos mais frustrados, porque a motivação do crime não ficou demonstrada. O que ficou demonstrado é que Ricardo matou a própria filha, escondeu o corpo e prestou declaração falsa no boletim de ocorrência. Também que a avó prestou declaração falsa de desaparecimento e, sabendo que já estava morta, auxiliou na prática de ocultação de cadáver”, sustentou Esteves.

‘SEM PROVAS’

De acordo com o advogado de Terezinha Guinaia, não existem provas que comprovem o envolvimento da avó na morte. “Na primeira fase do tribunal do júri, o juízo singular, baseado nas provas que foram produzidas, entendeu que a Terezinha não tem participação ou qualquer indício sequer. Entendemos que o correto seria que ela nem fosse para o tribunal do júri, já que foi impronunciada. Mas, legitimamente, o Ministério Público apelou para o Tribunal de Justiça, que disse que ela deve ser julgada pelo tribunal do júri”, elencou Mauro Valdevino.

“Ela (Terezinha) tratava a Eduarda como se fosse uma filha. Não tinha ciência e não houve aviso de que poderia acontecer um crime. Ela estava trabalhando, vendendo hortifrúti e quando chega em casa a criança já não está. Ela pergunta para o pai, que diz que ela não havia chegado ainda. A avó procura na casa das colegas, faz o boletim de ocorrência. O que ela fez foi fazer o melhor. Se ela tinha algo contra a criança, não teria nem assumido a maternidade. Temos plena ciência de que ela também foi uma vítima de tudo isso”, argumentou.

A defesa de Ricardo Seidi informou que irá se manifestar apenas depois do julgamento.

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