São Paulo - Um adolescente de 13 anos matou a facadas a professora de ciências Elizabeth Tenreiro, 71 anos, na manhã desta segunda-feira (27), na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. O agressor também feriu com golpes de faca dois alunos e outras três professoras. O adolescente, que é aluno do 8º ano do ensino fundamental na escola, foi apreendido.

De acordo com a polícia, ele anunciou o ataque em um post em rede social na manhã desta segunda, em que escreveu ter aguardado por esse momento a "vida inteira". Disse, ainda, que esperava matar ao menos uma pessoa.


As professoras feridas são Jane Gasperini, Rita de Cássia Reis e Ana Célia Rosa. As vítimas foram socorridas e levadas para hospitais da região.

Câmaras da escola registraram toda a ação do agressor. A docente, que não percebe a aproximação do agressor, é atingida violentamente por diversos golpes nas costas e cai no chão. Alunos entram em desespero e tentam sair da sala. Nesse momento, o agressor passa a tentar golpear os colegas e atinge alguns deles.


Um segundo vídeo mostra o adolescente atingindo outra professora. Ele desfere vários golpes na mulher, que está em pé e tenta se proteger com os braços.


A docente cai no chão, continua recebendo golpes e é arrastada pelo aluno. Duas mulheres entram na sala, e uma delas - a professora de educação física Cinthia da Silva Barbosa - consegue imobilizar o adolescente, enquanto a outra retira a faca das mãos dele.

O adolescente fazia referências nas redes sociais ao autor do massacre que deixou oito mortos em Suzano em 2019. Em sua conta no Twitter, ele usava o nome Taucci e uma sequência de números. Taucci é o sobrenome do garoto que abriu fogo contra colegas em Suzano há quatro anos.


Nesta segunda, o agressor usava também uma máscara sobre o nariz e a boca com o desenho de uma caveira. É a mesma máscara usada tanto pelos atiradores de Suzano quanto pelo adolescente que atacou duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, em novembro do ano passado.


A balaclava da caveira usada em Suzano, Aracruz e, agora, na zona oeste de São Paulo, é símbolo de supremacistas americanos. Os grupos extremistas República da Flórida e Divisão Atomwaffen as exibem na internet.


É uma referência a assassinos retratados em videogame e a um atirador fictício de uma série americana.


Assim como no ataque de 2019, além da máscara, a vestimenta incluiu roupas pretas. Em Aracruz, o autor preferiu coturnos e vestes camufladas.
Na internet, circulam imagens de garotos fazendo a saudação nazista ao Terceiro Reich com um braço estendido e o rosto coberto pela mesma imagem da caveira.


Para o secretário de Segurança, Guilherme Derrite, a professora Cinthia Barbosa realizou um ato heroico. "Ela imobilizou o agressor, fez com que a arma branca fosse retirada dele. Se não fosse essa ação, a tragédia teria sido maior", disse Derrite, que lamentou o episódio.

O secretário de Educação, Renato Feder, afirmou que a escola era atendida por uma ronda escolar, que agiu rapidamente e apreendeu o aluno. O agressor foi transferido para a escola no dia 15 de março. "Nesse período de permanência, a diretora não recebeu nenhum aviso e nem [teve] ciência de nada que chamasse atenção", disse.


O secretário disse que a escola ficará fechada por uma semana. O governo vai decretar três dias de luto no estado pela morte da professora Elizabeth Tenreiro.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lamentou o episódio em suas redes sociais. "Não tenho palavras para expressar a minha tristeza com a notícia do ataque a alunos e professores da escola estadual Thomazia Montoro", escreveu.

O adolescente de 13 anos já foi apreendido, e nossos esforços estão concentrados em socorrer os feridos e acolher os familiares", escreveu.

BRIGA
Um aluno da escola disse à reportagem que testemunhou na semana passada uma briga entre o suspeito e outro estudante, que foram separados pela professora que sofreu os primeiros golpes do adolescente nesta segunda. Ele disse também que saiu correndo quando viu o ataque e acabou torcendo o pé.


Segundo relato desse aluno, o adolescente agressor chegou normalmente para a aula nesta segunda, colocou a máscara com estampa de caveira e partiu para cima da professora.

A unidade é menor do que costumam ser as escolas da rede estadual —atende apenas cerca de 280 alunos do 6º ao 9º ano e conta com 15 professores.


Bastante abalado, o aluno falou sobre a professora Elizabeth. Disse que gostava das aulas dela, que ela era uma boa professora, carinhosa, que permitia que eles propusessem projetos e atividades.

COBRANÇA
Em nota, a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) lamentou o ataque e afirmou que há anos cobra medidas do governo do estado para a redução da violência no ambiente escolar. "Faltam funcionários nas escolas, o policiamento no entorno das unidades escolares é deficiente e, sobretudo, não existem políticas de prevenção que envolvam a comunidade escolar para a conscientização sobre o problema e a busca de soluções", diz trecho da nota, assinada pela professora Bebel, presidente da Apeoesp.


OUTROS CASOS
Outros casos de violência dentro do ambiente escolar marcaram o país nos últimos anos. Em novembro de 2022, um estudante de 16 anos atacou a tiros duas escolas em Aracruz (ES), deixando três mortos e 11 feridos.


Também no ano passado, em setembro, um adolescente de 14 anos portando um revólver e armas brancas invadiu uma escola em Barreiras (BA) e matou uma aluna de 19 anos.


Em março de 2019, dois ex-alunos invadiram uma escola em Suzano e mataram oito pessoas.

A professora de educação física Cíntia, que imobilizou o aluno agressor no ataque a colegas e professoras à faca, deixa a Escola Estadual Thomazia Montoro, em Vila Sônia
A professora de educação física Cíntia, que imobilizou o aluno agressor no ataque a colegas e professoras à faca, deixa a Escola Estadual Thomazia Montoro, em Vila Sônia | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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