O Paraná é referência nacional na produção de proteínas animais. Pesquisa da Pecuária Municipal divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que os municípios que mais produzem suíno, leite, frango e peixe no Brasil estão em território paranaense – Toledo, Castro, Cascavel e Nova Aurora, respectivamente.

A FOLHA detalha nesta edição a produção de proteína animal em cada um dos quatro municípios paranaenses que figuram no topo do ranking do IBGE.

Chegada de frigorífico, em 2008, consolidou vocação de Toledo para criação de suínos

O primeiro destaque é para Toledo, na região oeste do Paraná. Segundo o IBGE, o município produziu quase 870 mil cabeças de suínos no ano passado – 200 mil cabeças a mais do que o segundo colocado no ranking – Uberlândia (MG), com 638 mil cabeças (veja infográfico).

A produção de suínos em grande escala começou em Toledo com a implantação de um grande frigorífico em 2008. Geni Bamberg, presidente da Assuinoeste (Associação Regional de Suinocultores do Oeste do Paraná), explica que a vocação do município em criar suínos foi se consolidando no decorrer dos anos.

A produção de suínos está presente em 394 dos 399 municípios paranaenses
A produção de suínos está presente em 394 dos 399 municípios paranaenses | Foto: istock

“Com o sistema de integração, ocorreu um grande desenvolvimento da suinocultura. Produtores passaram a ampliar suas granjas e as famílias passaram a ter uma renda maior por se tornarem mais profissionais na atividade”, destaca. Hoje, Toledo e região contam com cerca de dez empresas integradoras de suínos.

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Somente no município, são pelo menos 1,5 mil propriedades dedicadas à suinocultura atualmente, segundo a associação. Em todo o oeste do Paraná, são cerca de 16 mil estabelecimentos rurais dedicados a essa atividade. Os suínos abastecem o mercado interno e parte é exportada.

“Na economia do município e da região são injetados milhões que giram de forma constante, gerando emprego e renda”, destaca.

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FAMILIAR

A produtora rural Monica Gibbert cuida de suínos há 12 anos em Toledo, junto aos familiares. Ela se casou e na propriedade que veio morar na época já existia parte da granja. O início da atividade se deu por meio do sogro dela, quando ele chegou na década de 1960 ao Paraná, vindo do Rio Grande do Sul. “Ele já veio com sete animais na época da mudança”, relata.

A produção de suínos está presente em 394 dos 399 municípios paranaenses
A produção de suínos está presente em 394 dos 399 municípios paranaenses | Foto: istock

No ano passado, a produção de suínos ficou em 840 toneladas na propriedade. Neste ano, a expectativa é atingir a mesma marca, já que não houve aumento do plantel. Ao todo, hoje a família cuida de 3.250 suínos.

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“Neste ano o mercado da carne está melhor que no ano passado. No momento estamos comercializando a R$ 6,86 o quilo. Nesta mesma época em 2021 estava R$ 6,25”, compara.

A atividade vem sendo rentável, com lucro de aproximadamente 30%. A produtora é integrada da empresa Lar, localizada em Medianeira, sendo que parte dos seus animais é abatida na Frimesa, no mesmo município.

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TECNOLOGIA

A tecnologia é essencial para garantir boa nutrição e sanidade ao rebanho. A cortina automatizada ameniza as condições climáticas, abrindo e fechando conforme o calor e o vento, por exemplo. O solo do barracão tem uma estrutura grelhada, de maneira que o dejeto desce e não se mistura à criação.

Por meio de sensores, a nebulização automática é programada para refrescar os animais. No líquido é colocado um desinfetante para matar as bactérias no ar. Com isso, são evitadas infecções entre os suínos.

No ano passado, foi adquirido um robô que abastece ração e água e passa no barracão despejando o alimento, com ou sem medicação. O tratamento é feito cinco vezes por dia, por meio de programação. O trato começa às 6h e termina às 20h. “Enquanto estamos descansando, os robôs ainda estão tratando dos animais. Acompanhamos tudo pela câmera.”

A propriedade também abriga uma usina de biogás, que transforma o dejeto suíno em energia. “E por fim este dejeto, depois de todo processo, se transforma em um fertilizante orgânico, fantástico, que não agride a natureza”, conclui.

DESAFIOS

Apesar da tecnologia crescente empregada no campo, a presidente da Assuinoeste reforça que um dos maiores desafios dos suinocultores é que a remuneração atual não condiz com os reais custos de produção. “É preciso estudar uma forma para um ganho melhor, de maneira que o produtor possa se manter e reinvestir na sua propriedade” destaca.

Entre as pautas da entidade, uma delas é fazer com que o governo estadual retome a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de 12% para 6% nas saídas interestaduais de suínos vivos – o benefício vigorou entre 10 de junho e 31 de julho deste ano, menos de dois meses.

A medida garante maior competitividade principalmente aos suinocultores independentes, já que reduz o custo de venda em virtude da menor carga tributária.

“Precisamos também que seja prorrogado o subsídio, por meio do Banco do Agricultor Paranaense, para geração de energia por meio de placas solares ou biodigestores. E o governo precisa disponibilizar mais crédito para que mais produtores tenham acesso”, conclui.

Imagem ilustrativa da imagem Paraná é referência na produção de proteínas animais
| Foto: Gustavo Pereira Padial

PARTICIPAÇÃO

Dados do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento), apontam que a produção de suínos em Toledo representa 15% do total do VBP da atividade no Estado.

Em 2021, a atividade cresceu 15% no município na comparação com o ano anterior. O VBP da suinocultura em Toledo, por sua vez, alcançou R$ 1,7 bilhão no ano passado – em todo o Estado chegou a R$ 11,35 bilhões, com alta de 27% sobre o ano anterior.

A produção de suínos está presente em praticamente todo o território paranaense. Relatório do Deral dos últimos dois anos aponta que, entre os 399 municípios do Estado, 394 (ou quase 99%) têm alguma produção.

“A suinocultura é uma atividade consolidada no Paraná. Hoje os principais problemas estão fora da porteira, como custos logísticos e os custos de insumos, com grandes oscilações”, destaca Edmar Gervásio, analista do Deral.

NACIONAL

Em todo o Brasil, a pesquisa realizada pelo IBGE aponta que o rebanho de suínos cresceu 3,2% em 2021 na comparação com o ano anterior, alcançando 42,5 milhões de animais, o maior efetivo nacional de suínos da série histórica da pesquisa.

A região Sul continua como a principal para a criação: 21,4 milhões de animais, metade do efetivo nacional. Com 8,4 milhões de cabeças, crescimento de 7,8%, Santa Catarina seguiu liderando em nível estadual, seguido por Paraná e Rio Grande do Sul.