Arapoti é o município com maior produção de mel do Brasil, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Localizada no extremo norte dos Campos Gerais, fazendo divisa com os municípios do Norte Pioneiro, Arapoti produziu mais de 925 toneladas de mel em 2021. O município fica a 250 km de Curitiba e a apenas 70 km da divisa com o Estado de São Paulo.

Arapoti produziu mais de 925 toneladas de mel em 2021
Arapoti produziu mais de 925 toneladas de mel em 2021 | Foto: iStock

No ranking dos cinco municípios com maior produção nacional, há mais um município paranaense que figura na lista, Ortigueira, na região central do Paraná, com a produção de 786,5 toneladas no ano passado.

Imagem ilustrativa da imagem O lado mais doce de Arapoti, campeã em produção de mel
| Foto: Gustavo Pereira Padial

Danilo Augusto Scharr, engenheiro agrônomo do IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), considera que Arapoti dispõe de três fatores que contribuem para a produção de mel: ampla área de reflorestamento de eucalipto, espécie nativa arbórea com grande potencial apícola (capixingui) e a proximidade com os pomares de laranja no estado de São Paulo.

O técnico explica que os apicultores no município têm a oportunidade de produzir mel em três safras distintas em cada ano.

“No início do ano, temos a florada do eucalipto. Em seguida, logo após o inverno, os produtores migram seus apiários para o Estado de São Paulo, com o objetivo de produzir mel utilizando a flor dos pomares de laranjas do Estado vizinho. Mais próximo do final do ano, esses apiários retornam para o município, visando a produção de mel da flor da capixingui”, detalha.

Arapoti conta atualmente com 253 produtores de mel que mantêm mais de 103 mil colmeias. O número, no entanto, pode ser ainda maior, já que esta estatística contabiliza somente os produtores cadastrados na Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná).

“Estimamos que no município existam mais de 300 produtores envolvidos com a atividade”, pontua. A produção de mel gera cerca de 1 mil empregos diretos e indireto em Arapoti.

Levantamento feito pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento), mostra que o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) do mel – a riqueza produzida com a atividade – alcançou R$ 12,2 milhões em Arapoti no ano passado, quase 9% do VBP total do Estado – R$ 138 milhões.

FAMILIAR

O produtor de mel Everson Fernandes Camargo está há 15 anos na atividade. A família, no entanto, começou há 30 anos. Desde criança, ele já despertou o gosto de trabalhar com as abelhas junto aos pais.

Everson Camargo herdou da família a paixão pela produção de mel: exportação
Everson Camargo herdou da família a paixão pela produção de mel: exportação | Foto: Arquivo pessoal

Neste ano, Everson tem uma expectativa de produzir 30% mais mel que no ano passado. Em 2021, foram produzidas 15 toneladas e neste ano a projeção é chegar a 20 toneladas. O preço pago pelo produto, segundo ele, se manteve o mesmo em outubro deste ano e no mesmo mês de 2021 – R$ 13 o quilo.

Para produzir mais e com qualidade, Everson procura investir em novas tecnologias e em boas práticas. “Temos agora máquinas que centrifugam o mel e estamos sempre lendo e fazendo cursos sobre o tema”, pontua.

Entre os desafios da atividade hoje, o produtor cita o local para colocar as caixas onde é produzido o mel, já que elas devem ficar bem longe de inseticidas. “A abelha é um bicho muito sensível, e nosso mel é certificado como orgânico. Uma das formas é colocar em florestas de reflorestamento de empresas, onde há menos agrotóxicos”, destaca.

Hoje, a maior parte do mel produzido é comercializada para empresas que exportam o produto. “Colocamos muito pouco no mercado interno, só em Arapoti. Tenho interesse de expandir para vender mais mel na região e no mercado paranaense, conseguir fortalecer a marca com a ajuda de alguns parceiros”, conclui.

EXPORTAÇÃO

Hoje, apenas 10% do mel produzido em Arapoti é destinado ao mercado interno e 90% é destinado à exportação, sendo os países importadores os Estados Unidos, União Europeia e Arábia Saudita. “Praticamente todo o mel produzido em Arapoti é comercializado na forma bruta, sem ser beneficiado”, explica o técnico do IDR.

Entre os desafios dos produtores, a falta de pasto apícola para manter os enxames tem se tornado um fator limitante para a expansão da atividade.

“Muitos produtores têm procurado áreas em outros municípios da região para evitar esse problema. Outro problema que vem aumentando é o roubo de mel, melgueiras e caixas. Como a atividade cresceu muito nos últimos anos e tem gerado uma boa lucratividade, a criminalidade vem se aproveitando pelo fato dos apiários em sua maioria ficarem em locais distantes, de difícil acesso e longe de moradias.”

Outro aspecto apontado pelo técnico é que a mortalidade de abelhas nos últimos anos também vem crescendo, principalmente pelo aumento do número de colmeias no município e a proximidade com áreas de lavouras, onde muitas vezes o agricultor não respeita as boas práticas no uso de agrotóxicos, aplicando em horários de maior atividade das abelhas.

“Nos últimos anos, os produtores têm convivido com uma nova praga exótica, o besouro das colmeias (Aethina tumida). Os principais danos à colmeia são causados pelas larvas do besouro que se alimentam das larvas das abelhas e do pólen, além de perfurar as células de mel ao movimentar-se, causando a fermentação do mel e do pólen, que se tornam impróprios para consumo humano.”

INCENTIVOS

Entre os incentivos concedidos pelo IDR aos produtores de mel, o técnico cita o auxílio no acesso ao crédito rural, além de reuniões e visitas às propriedades para orientar sobre manejo e apoiar os produtores no desenvolvimento sustentável das atividades.

Sobre a produção de mel em Arapoti, o engenheiro agrônomo diz que o crescimento da atividade passa pelo uso de técnicas corretas de manejo em relação aos apiários.

“Hoje podemos ter ganhos de produção através da introdução de rainhas melhoradas geneticamente, também com a intensificação da alimentação das colmeias em períodos de falta de alimento, principalmente durante o inverno. A intensificação do manejo nos apiários é essencial para ganhos de produtividade, e a presença do apicultor de forma sistemática nos apiários se faz necessária”, conclui.

NACIONAL

Segundo a pesquisa do IBGE, a produção nacional de mel atingiu 55,8 mil toneladas em 2021, um aumento de 6,4% em relação a 2020. O crescimento foi impulsionado, principalmente, pela alta nas regiões Sul, Nordeste e Sudeste, com participação de 39,7%, 36,3% e 18,8%, respectivamente.

O valor de produção chegou a R$ 854,4 milhões no ano passado, com aumento de 34,8% em comparação ao ano anterior. O preço médio nacional do mel, por quilo, subiu de R$ 12,07 para R$ 15,30, alta de quase 27%.

O Rio Grande do Sul é o maior estado produtor de mel do Brasil, responsável por 9,2 mil toneladas, seguido pelo Paraná (8,4 mil) e o Piauí (6,9 mil). Segundo o IBGE, o ranking tem sido liderado por esses Estados desde 2017, que, juntos, representam 43,9% da produção total brasileira.