Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA| Lasanha de carne
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Coisas. Confusas. Tantas coisas confusas. Dessas coisas tão longe de serem dizíveis ou explicadas. Acredito que quem não está confuso está mal-entendido. Vontade de escrever uma carta, uma poesia, um romance, um beijo-na-boca.

Hoje vou contar da primeira vez que falei eu-te-amo, tinha doze anos, anos 2000, no recreio da escola, tomei um gole de coca-cola e de coragem, virei e disse teamo, como uma tosse que engasga antes de sair, e corri – corri muito, como se o mundo tivesse acabado, e talvez ele acabaria porque eu estava em 2012. E foi ali, naquele microlésimo de segundo, que a minha vida desandou. Já tentei de novo, já amei de novo, já corri de novo, mas poxa vida, como era bom amar sendo criança.

Hoje, esse tal de amor e outros sentimentos cruéis, quer pular da janela ao dizer que ama. Não sei porque escrevo, mas também não sei porque amo. Não sei o porquê quero saber por quê. Não sei até hoje usar o ‘porque’ certo. Tem coisas na vida da gente que a gente só faz; uma poesia ou um amor. Da poesia, pouco tenho. Ela sempre me teve nas mãos, como um filho pedindo colo para mãe. Nem deus sabe como era bom quando ela me colocava para dormir. Já estou na quinquagésima linha, e sinto que a vida começou agora. É como se aos onze brincar no parque fosse mais fácil que falar eu-te-amo aos doze. Desculpa, era para ter saído uma poesia, escrevi um grito ou um silêncio que grita para dentro, e que sempre bate mais forte do lado de cá.

Como se a vida insistisse em nascer e desabrochar todo dia do meu lado esquerdo, como se a poesia quisesse sair quando a boca implora por um beijo, quando é quinta-feira e a gente já sente o cheiro de domingo. Como se eu precisasse terminar esse texto em cinco minutos, porque minha irmã gritou que o almoço está pronto. Como se fosse fácil terminar o que não tem fim.

Se alguém algum dia ler isso, que venha almoçar em casa e experimentar a lasanha da minha mãe. E que se um dia esse grito for mais forte do lado de fora – que sorte a minha. A poesia te escreve; te faz. Uma sensação de coisas que não tem como descrever sensações. Concluo: a maior felicidade que já senti foi no silêncio, mas era como se a felicidade precisasse ser compartilhada para ser mais feliz. Estou confuso e namorando a felicidade. Agora é 12h52. E o almoço tá esfriando. “gabrieeeeel, chama seu amigo e vem comer lasanha antes que esfrie e fique ruim”. Como se isso fosse possível...

Gabriel Faria é leitor da FOLHA

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