O sabor inigualável mesclado a muitas pitadas de nostalgia é a razão do sucesso conquistado pela carne de porco na lata, iguaria produzida artesanalmente pelo aposentado Cristovam Andraus há seis anos em Wenceslau Braz (PR).

A memória afetiva da infância foi o gatilho para Cristovam começar a produzir a carne de porco na lata. “Meus pais e minha avó faziam, essa história tem mais de 60 anos. Lembro que, na época, eles colocavam numa lata de 18 litros.”

Imagem ilustrativa da imagem Carne de porco na lata: sabor e nostalgia garantem sucesso
| Foto: Anderson Coelho /19-04-2012

Quando nem havia geladeira, a carne de porco na lata era um alimento muito comum. Para mantê-la em temperatura ambiente, o segredo é muito simples: cobrir os pedaços de porco com banha.

Ao esfriar, a banha talha e forma uma camada protetora, impedindo o contato com o ar. Assim, a carne pode ser guardada por meses fora da geladeira. “Já teve caso na Alemanha que a carne ficou 20 anos intacta”, diz Cristovam.

No caso da iguaria produzida em Wenceslau Braz, além da influência da família, outro gatilho para a produção do porco na lata foram as sobras de milho na propriedade de Andraus. Ele vendia milho e pamonha, e o excedente foi utilizado no início do negócio para servir de alimentação à criação de porcos recém-criada.

Propriedade conta hoje com 68 porcas criadeiras e três reprodutores.
Propriedade conta hoje com 68 porcas criadeiras e três reprodutores. | Foto: Arquivo Pessoal

De seis anos para cá, a evolução foi grande. A propriedade hoje em Wenceslau Braz conta com 68 porcas criadeiras e três porcos reprodutores.

Os nomes dos suínos são curiosos: vão desde personalidades, como Silvio Santos, Jamelão e Dalva de Oliveira, até nomes comuns que remetem à família ou aos amigos, como Júlia, por exemplo (nome da mãe de Cristovam). Toda a carne de porco na lata produzida tem como matéria-prima o rebanho da propriedade.

A produção atual fica em 400 latas ao mês. A comercialização é feita no restaurante Casarão do Porco na Lata, em Wenceslau Braz, e em seis distribuidores localizados em Curitiba (PR). Além de comercializar e servir a iguaria, o restaurante serve algumas variações para os clientes, como chorizo, linguiça, feijoada e leitoa assada à pururuca.

Volume total da carne de porco na lata chega a 1,8 kg
Volume total da carne de porco na lata chega a 1,8 kg | Foto: Arquivo Pessoal

“Estamos trabalhando para terminar 2021 produzindo 2.000 latas ao mês e chegar a 5.000 latas em 2022, ano em que pretendemos ampliar o número de distribuidores no Paraná”, projeta Andraus.

Meio a meio

O volume total da carne de porco na lata chega a 1,8 kg. Aproximadamente metade desse peso é composta por carne frita (lombinho, pernil, costelinha etc.) coberta por banha suína, que compõe o restante do peso total.

A carne é frita na própria banha e na gordura liberada pela carne, sendo que o único tempero utilizado é o sal. A fritura é feita em tachos de ferro, preferencialmente no fogão à lenha.

A iguaria já é vendida pronta para o consumo, basta esquentar no fogão ou no micro-ondas. “Pela legislação, colocamos na embalagem que o consumo fora da geladeira é melhor que ocorra em até seis meses, mas a carne aguenta mais tempo”, diz.

No campo

Para alcançar um sabor de excelência, é preciso trabalhar muito no campo para garantir que a carne na lata fique perfeita no gosto, no cheiro e na textura.

Andraus explica que o plantel de suínos é criado confinado e é submetido a uma série de cuidados para que se alcance o sabor ideal da carne. O abate é feito quando o porco atinge um ano de idade.

Nomes dos suínos são de personalidades, familiares ou amigos
Nomes dos suínos são de personalidades, familiares ou amigos | Foto: Arquivo Pessoal

“Eles tomam banho de lama para se proteger do sol e a alimentação é natural. Comem abóbora, mandioca, manga, batata doce, melancia forrageira, feijão cozido. Não comem milho nem ração. Também não usamos nada de hormônio e eles não comem nada transgênico. Com esses cuidados, a carne não fica seca e conseguimos uma qualidade excepcional”, pontua.

Horta

Andraus explica que está implantando um projeto de horta orgânica, pelo qual pretende vender cestas com hortifrúti. As sobras, por sua vez, serão trituradas e utilizadas para alimentar os porcos.

Restaurante serve porco na lata e outras variações da carne suína
Restaurante serve porco na lata e outras variações da carne suína | Foto: Arquivo Pessoal

“Trituramos e cozinhamos sobras de abóbora, folhagens, mandioca, brócolis e couve-flor. Daí fica um sopão. Moemos a cana e colocamos na sopa. A cana ajuda o porco a dormir e, com issso, faz ele ganhar mais peso”, destaca.

Sobre o sucesso do porco na lata, Andraus justifica que a filosofia de trabalho não é vender um produto. “Nós vendemos saudade, lembrança, algo que remete aos tempos passados”, conclui.

Mais informações podem ser obtidas pelo site carnedeporconalata.com.br, ou pelas redes sociais do Casarão do Porco na Lata (Facebook ou Instagram).

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