Amizade na ciência
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sábado, 20 de julho de 2019
Laís Taine - Grupo Folha
Uma pessoa senta em um banco com uma senhora desconhecida para conversar. Lá ela desabafa, comenta seus temores e dificuldades e em troca recebe o ouvido empático de uma vovó treinada por psiquiatras. Essa é a proposta do Banco da Amizade. “No Zimbábue, tem um sistema de saúde sem condições de oferecer serviço de saúde adequado em vários aspectos e um médico muito preocupado com as pessoas se suicidando e com depressão”, comenta Josafá Moreira da Cunha, professor de psicologia da educação, da UFPR (universidade Federal do Paraná), sobre o Friendship Bench, projeto que visa preencher a lacuna de tratamento de saúde mental no país.
Como não havia remédios e com poucos psiquiatras, o médico Dixon Chibanda utilizou um protocolo curto de apoio social e treinou algumas avós da comunidade para ficarem em um banco em frente a algumas clínicas para conversar. “Uma avaliação sistemática mostrou que essa ação teve efeitos fantásticos na diminuição da depressão nessas comunidades”, acrescenta Cunha.
A importância do suporte social da amizade também é estudado pelo professor. Em um de seus experimentos, buscou entender os impactos da presença dos amigos quando as pessoas são colocadas em situações estressantes. Sessenta estudantes universitários divididos em dois grupos foram colocados nessas circunstâncias. “Quando a gente entra nessa situação, aumenta o cortisol, pressão sanguínea e frequência cardíaca”, relata o professor. Enquanto um grupo passava pela avaliação sozinho, o outro teve o acompanhamento de um amigo.
Com isso, constatou-se que os dois grupos sofreram alterações, mas o grupo que tinha um amigo por perto retornou à linha de base da frequência cardíaca e pressão sanguínea mais rápido. “Quando a gente tem alguém que oferece suporte social em situação de estresse o impacto é reduzido. Os estudantes que vieram com amigos ficaram calmos novamente. Coração e pressão sanguínea voltaram muito mais rápido do que aqueles que estavam sozinhos”, afirma.
Para o professor, o impacto social da amizade deveria ser tão investigado quanto a depressão e a tristeza, pois ela tem um potencial ainda desvalorizado, mas acredita no enriquecimento das investigações sobre o assunto. “Isso é muito poderoso. O lugar que a amizade tem na nossa sociedade... A gente não valoriza tanto a amizade para nos proteger, é necessidade humana básica, de conexão, de olhar para aquela pessoa e saber que está seguro. E a ciência tem avançado muito para saber como essas conexões podem ter impacto positivo no desenvolvimento”, defende.
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