Estudos comprovam que crianças que passaram por bullying, mas que tiveram o auxílio de amigos, sofreram menor abalo
Estudos comprovam que crianças que passaram por bullying, mas que tiveram o auxílio de amigos, sofreram menor abalo | Foto: Shutterstock

O livro de Judith Harris, "Diga-me com Quem Anda...", já fez 20 anos, mas ainda é uma referência no assunto sobre formação da criança. Nele se discute as influências dos pais e amigos no desenvolvimento infantil, demonstrando que em diversos aspectos as amizades têm papel fundamental no desenvolvimento de nossa identidade.

“Enquanto que na primeira infância a família tem importância, na segunda infância e adolescência a amizade tem papel fundamental para o desenvolvimento de nossa identidade, ensinando comportamento, ajudando a tomar decisões e a resolver situação-problema”, ensina o professor Josafá Moreira da Cunha, professor de psicologia da educação, da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Quando expostos a situação de conflito, são os amigos que vão dar apoio para à resolução do problema. Estudos apontados por Cunha comprovaram que crianças que passaram por bullying, mas que tiveram o auxílio de um ou dois amigos, sofreram menor abalo. “Impactos como depressão e ansiedade não apareciam. Ter o amigo era como se fosse o remédio para o desenvolvimento para esse tipo de problema”, afirma.

INCENTIVO

Em 2018, o professor coordenou levantamento que apontou que 90,5% dos 33 mil estudantes de 32 municípios paranaenses investigados afirmaram que tinham um ou mais amigos na escola, mas apenas 28,3% disseram que poderiam contar com alguém se sofressem situações de bullying. “O preocupante disso é: a nossa sociedade está criando condições para que as crianças formem amizades para a vida toda? O que os adultos fazem quando elas conversam muito? Separam as crianças. Criar amizade não é uma tarefa fácil”, relata Cunha.

Dar a oportunidade para as relações entre as crianças é papel de toda a sociedade. Na infância e adolescência, a necessidade de conexão acaba impulsionando com mais facilidade a construção da amizade. “São mais espontâneas, livres de julgamento, as crianças simplesmente entendem como conexão e entendem o outro como importante por si só”, afirma o professor.

Na formação da identidade, ele indica que as relações positivas têm impacto importante em diversos aspectos no desenvolvimento. “A gente precisa entender os aspectos protetivos da amizade como suporte social, como desenvolver o diálogo ou resolver pequenos conflitos. Essa amizade na infância serve como contexto importante de socialização e para aprender a lidar com os conflitos.”

PAIS

Essas crianças passam dezenas de horas por semana com seus amigos e pares na escola, por isso, é preciso estar atento em como esse relacionamento pode ser poderoso para o desenvolvimento positivo. Aos pais, limitar com quem e quando as crianças vão se relacionar funciona até determinada idade. Na adolescência o leque de oportunidades se abre e, nesse aspecto, a principal influência que os responsáveis podem oferecer é a qualidade do diálogo e comunicação.

“Se uma criança estiver acostumada a ser escutada com atenção e respeito, ela vai criar essa expectativa em outros relacionamentos. 'Como é o diálogo que estou tendo com meu filho?' É preciso cuidar constantemente, ter um relacionamento de boa qualidade com os filhos para que eles entendam e busquem bons relacionamentos ao longo da vida”, defende o professor.

MAIS:

- Amizade na ciência

- Sem guerra dos sexos

- Quantas curtidas esse amigo merece?