Promessas e planos de um futuro melhor foram oferecidos aos eleitores no último mês. Chegado o dia 15 de novembro, é a vez da população escolher as propostas de solução para as cidades. Prefeitos e vereadores têm pelos próximos quatro anos a responsabilidade de administrar e planejar seus municípios diante da mais nua e crua realidade. No último pleito, por exemplo, ninguém imaginaria que uma emergência de saúde como a provocada pelo coronavírus mudaria o trabalho em 2020. Cada cidade tem suas particularidades e necessidades.

Imagem ilustrativa da imagem O futuro de Londrina nas urnas
| Foto: Marco Jacobsen

Em Londrina, após um turbulento período político nos últimos 20 anos, a cidade viveu uma certa regularidade nas duas recentes administrações. Apesar do caminho de superação, as necessidades ainda são muitas e as marcas deixadas na vida dos londrinenses impõem uma série de desafios sérios aos próximos ocupantes do Centro Cívico. O Executivo e o Legislativo precisam encarar, por exemplo, de forma imediata a necessidade de um plano de retomada econômica e social depois da pandemia da Covid-19.

Os 376.073 eleitores londrinenses vão às urnas neste domingo para escolher o 23º prefeito da segunda maior cidade do Estado e a nova composição da Câmara Municipal - o eleitorado cresceu 6,5% em relação às eleições de 2016. São dez candidatos a prefeito, pela ordem alfabética conforme as inscrições na urna eletrônica: Alvaro Loureiro Junior (PV), Barbosa Neto (PDT), Boca Aberta (Pros), Carlos Scalassara (PT), Delegado Águila Misuta (MDB), Junior Santos Rosa (Republicanos), Marcelo Belinati (PP), Marcio Sanches (PCdoB), Marcio Stamm (PODE) e Tiago Amaral (PSB).

A campanha foi marcada por embates jurídicos entre alguns candidatos. A Justiça Eleitoral em primeiro grau impugnou as candidaturas de Barbosa Neto e Boca Aberta, mas como cabe recurso nas instâncias superiores eles mantiveram a campanha normalmente e podem ser votados até que saiam novas decisões.

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| Foto: Gustavo Carneiro

NOVOS HORIZONTES

A partir da análise de quem acompanha e estuda a cidade nos últimos anos, a tarefa não é nem um pouco fácil, mas está longe de ser considerada impossível. Será preciso ter capital político e interesse para enfrentar frontalmente os fatos. Com um orçamento mais enxuto, previsto com as receitas nos níveis de 2019 e com gastos no patamar de 2021, a cidade viverá um período com o cinto apertado. “O resultado imediato da pandemia traz um gargalo na Saúde e na Educação. Se contar que o desemprego ultrapassou 13% e nem a informalidade tem sido capaz de absorver essas pessoas, forma um cenário muito grave”, aponta o cientista político Elve Cenci, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

POBREZA

Os dados do Cadastro Único do Governo Federal apontam que, entre 2010 e 2019, houve um avanço no crescimento da pobreza na cidade. O Projeto de Pesquisa Desigualdade Social em Londrina aponta que as famílias que vivem na pobreza ultrapassam a marca de 52 mil. E se considerado que cada uma tem em média 3,3 membros, pode se chegar à triste marca de 171.000 pessoas próximas à fome. “Temos um problema bem concreto. No Brasil, todas as cidades têm o mesmo discurso, da necessidade efetiva de geração de emprego. Na verdade, o que é preciso é pensar algumas saídas reais, além da industrialização, que possam fazer a diferença a longo prazo e que causam impacto imediato”, questiona Cenci.

Resolver questões tão complexas depende não só de vontade política como também de uma dose grande de planejamento. Para tarefa tão complexa, é necessário que se conclua o Plano Diretor da cidade, que está na Câmara dos Vereadores desde 2018. Entre audiências públicas e discussões no Legislativo, caberá ao próximo prefeito executar o regramento assim que aprovado. “Ele terá que colocar o futuro no horizonte e agir para destravar os múltiplos interesses para pensar. O mercado imobiliário é importante, mas nem sempre é bom para a cidade. É preciso não estimular a especulação. Basta lembrar o que foi feito no Vista Bela. Criaram uma área nova, sem a devida estrutura urbana necessária”, critica o professor.

CAAPSML

Os temas que são de primeira necessidade para Londrina foram apontados ao longo da campanha eleitoral. As diferentes correntes políticas que propuseram soluções para o município citaram os principais pontos que devem ser atacados. Um deles é o déficit no resultado previdenciário da Caapsml (Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões dos Servidores Municipais de Londrina) na próxima década, que deve ser de pelo menos R$ 70 milhões ao ano. “Essa deve ser a grande dificuldade do nosso próximo prefeito, mas não acredito que seja um problema insolúvel. É preciso que se conclame os funcionários para participar do debate e creio que a Câmara pode mediar essa questão”, aponta o vereador Gerson Araújo (PSDB), decano da Câmara Municipal de Londrina.

A questão é vista com preocupação pelo presidente do Sindserv-LD (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Londrina), Marcelo Urbaneja. A visão dele é que é um problema criado pela própria administração da cidade nas últimas décadas e que precisa ser encarado frontalmente, sem trazer maiores prejuízos aos trabalhadores. “Por muitos anos, não fizeram repasse, o caixa ficou sem dinheiro, apesar do crédito que tinha com o município. O pagamento dos prejuízos ficou parcelado por 25 anos, mas não se pode colocar na conta do servidor um problema provocado pelos prefeitos”, critica.

PEDÁGIOS

Já outro tema fundamental para o futuro da cidade não foi tratado pelos candidatos a prefeito: os altos valores cobrados nas praças de pedágio das rodovias da região. O custo incide diretamente nos valores na planilha de qualquer empresa que venha a pensar em se instalar em Londrina. Se a realidade local for comparada com a região metropolitana de Curitiba, a concorrência ainda fica mais desleal, se considerada a proximidade do Porto de Paranaguá. “Londrina precisa ser mais competitiva. Falta a duplicação de grande parte do caminho até a capital, por exemplo. Sem contar que as lideranças locais parecem que esperam que o governo do estado resolva a questão dos custos pagos nos pedágios. Vivemos uma verdadeira extorsão e falta uma participação ativa dos agentes públicos municipais”, questiona Elve Cenci.

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