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AOS DOMINGOS PELLEGRINI 5m de leitura

Os molotovs e os tanques: uma história de longa data

Artefatos que estão sendo fabricados pela população ucraniana para se defender, foram inventados na Segunda Guerra Mundial

ATUALIZAÇÃO
03 de março de 2022

Domingos Pellegrini
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Os molotovs e os tanques: uma história de longa data

Sentadas no chão, mulheres ucranianas preparam coquetéis Molotov, inclusive despejando algo granulado dentro da garrafa, antes de encher com gasolina. O coquetel foi inventado na Segunda Guerra, pela guerrilha que resistiu à invasão soviética da Finlândia em dezembro de 1939, para antepor barreira a uma invasão alemã (isto antes de Hitler e Stalin assinarem o tratado de não agressão, que depois Hitler dispensaria invadindo a Rússia de surpresa.)

Stalin estimava que em três semanas dominaria a Finlândia, que entretanto resistiu três meses. Seu pequeno exército se escondeu no país nevado, com esquiadores atacou as linhas de abastecimento dos russos, transformou fazendeiros em atiradores de longa distância, e usaram com precisão táticas e armas de guerrilha como o coquetel Molotov, assim apelidado para zombar do então ministro das relações exteriores da Rússia. Uma fábrica de bebidas chegou a produzir molotovs em massa. E a Rússia conquistou a Finlândia, sim, mas só depois de ter 130 mil baixas contra 27 mil finlandesas.

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O molotov se tornou então símbolo de resistência heróica (embora possa ser usado também para tumultuar e dispersar marchas pacíficas), e logo seria usado pelos próprios russos em Stalingrado. É uma arma de ataque curto mas fatal até para tanques, quando se mistura ácido à gasolina. Ou cera, como fizeram os últimos judeus encurralados pelos nazistas no Gheto de Berlim. Eram 400 mil confinados numa pequena área, e foram sendo enviados para a morte nos campos de concentração. Só quando restavam poucos milhares, com poucos combatentes começaram a resistir. Valendo-se do terreno em ruínas e de coquetéis molotov, causaram aos nazistas 300 baixas que, além de enfurecer Hitler, mostrariam ao mundo que povo nenhum deve ser subestimado, como está mostrando a Ucrânia.

Mas o molotov, se é fácil de ser feito e de uso prático até para idosos, também acaba funcionando como autorização moral para a bárbarie do inimigo. Uma coisa é um soldado ter companheiros mortos, outra coisa é ter seus companheiros queimados. Por isso, o cidadão defensor de seu país passa a ser visto pelos invasores como praticante e merecedor de barbaridades. Aliás, na reportagem na tevê as mulheres não escondem os rostos, assim se expondo a retaliações numa futura Ucrânia novamente satélite russa, pois depois dos tanques vêm sempre os soldados e os policiais políticos, como foi Putin.

Os molotov podem queimar tanques, e o povo ucraniano pode resistir com suas poucas armas e seus combatentes heróicos, mas a ocupação da Ucrânia pela Rússia foi antecipada pela inércia militar da OTAN diante da preparação invasiva. Essa inércia entretanto atende à democracia, pois as pesquisas revelavam que grandes maiorias apoiam a Ucrânia mas, também, não querem que seus países entrem em guerra. Infelizmente porém, a julgar pelas razões e pretensões russas, mais uma vez a guerra será o caminho para a paz. Mas rezemos para que não usem armas nucleares nessa guerra começada com armas até artesanais, como o coquetel Molotov.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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