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Sylvio do Amaral Schreiner - Mundo Vivo 5m de leitura

Sexualidade e Independência

ATUALIZAÇÃO
20 de novembro de 2020

Sylvio do Amaral Schreiner
AUTOR

 

Numa famosa feira de tecnologia nos EUA foi apresentado um produto novo feito por uma turma de engenheiras que deu o que falar. O produto era um vibrador para mulheres cheio de características inovadoras que, segundo se dizia, podia substituir um homem. O prazer proporcionado por essa engenhoca tecnológica era garantido, o que nem sempre acontece quando se trata de um acompanhante masculino. Inicialmente, o vibrador foi saudado como revolucionário e aplaudido, mas, depois de um tempo, foi retirado da feira e considerado obsceno e profano. Na verdade, foi um grupo de homens que esteve por detrás dessa reviravolta fazendo a engenhoca cair do Olimpo para o inferno.

A sexualidade feminina ainda não é bem aceita. O fato é que, de forma geral, a sexualidade não é bem aceita, tanto a masculina quanto a feminina.

Os homens, apesar de parecerem gozar de uma sexualidade mais direta e livre, vivem tantos conflitos e inseguranças que não dá para dizer que estão bem resolvidos nessa área. Homens e mulheres se desencontram no campo sexual e vivem com muito pouca qualidade aquilo que é tão importante para a vida. Tradicionalmente, ficou vinculado que a sexualidade masculina é dominante, agressiva, que os homens são mais sexuais e vão atrás do que querem.

Já às mulheres ficou reservado o papel de submissas, passivas, não tão sexuais (até porque aquelas mulheres mais sexualizadas eram consideradas como devassas) e que ficam sempre à espera dos homens. Só que sexualidade não é isso. Aliás, isso tudo é uma limitação muito grande da dimensão sexual que temos disponível em nossas vidas. Vivemos pobres quanto à sexualidade.

No caso do vibrador acima ficou escancarado o quanto os homens ficaram inseguros. Um aparelho que promete prazer ao público feminino e até ser mais satisfatório que os próprios homens fez com que muitos deles se movimentassem para condenar o produto e qualificá-lo como algo ruim. Ora, se as mulheres se tornam mais satisfeitas, mais realizadas, elas ficam cada vez menos submissas e isso representa toda uma mudança no que tradicionalmente se fez valer. Homens e até mulheres temem muito mudar a atual condição em que vivemos.

Em vários lugares do mundo mulheres têm o clitóris extirpados. Alguns querem acreditar que isso é cultural, mas na verdade, não. É que mulheres mutiladas, humilhadas, acabam por ficar mais submissas, não lutam por seus direitos e nem procuram mudanças na vida. Em outras palavras, tornam-se sujeitas ao outro, tornam-se objetos e como tal podem ser usadas. 

Tanto as religiões quanto a política, no decorrer da história, apresentaram fortes condenações à sexualidade. Um povo que não se conhece (e viver plenamente a própria sexualidade é se conhecer mais) é facilmente manipulado e em vez de viver com liberdade fica como uma criança assustada e dependente.

A revolução sexual que se diz ter acontecido na década de 60 não foi uma verdadeira revolução. Trouxe imensos benefícios, como métodos contraceptivos e maior liberdade, mas ainda há muito por fazer. Ainda carecemos de uma verdadeira revolução na maneira que vivemos a dimensão da sexualidade.Enquanto esta não acontecer, continuaremos sofrendo muito e desnecessariamente. Homens e mulheres.

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