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Sylvio do Amaral Schreiner - Mundo Vivo 5m de leitura

O lar é interno e não fora

ATUALIZAÇÃO
16 de agosto de 2020

Sylvio do Amaral Schreiner
AUTOR

Um antigo ditado oriental diz, muito sabiamente, que no mundo não há casa nenhuma, a não ser que a gente a encontre em nós mesmos. Este ditado faz referência ao fato de que, com muita frequência, estamos procurando um lugar para chamar de casa ou de lar. Queremos, desesperadamente, nos sentir em casa em algum lugar ou com alguém, mas agindo sob a luz do desespero, nos equivocamos facilmente e terminamos na infelicidade.

 

É desesperador não se sentir em casa. Isto causa pânico, causa muita ansiedade e insatisfação. Estar sem casa torna a vida insuportável. Porém, onde ou qual é a nossa casa? Aí começam os enganos, pois são muitos os que chamam de casa uma posição na vida, um relacionamento com alguém ou até mesmo um bem material.

A casa que todos nós necessitamos não se trata tão somente de uma casa concreta, lá fora, externamente, mas de uma mente própria que nos acolha. A nossa casa é a nossa mente. Se isso não for entendido vamos sempre procurar por uma casa ou por algo que chamaremos de lar no ambiente exterior e não desenvolveremos a nossa própria mente.

Quem não tem essa casa/mente vive desamparado. Aliás, a famosa síndrome do pânico, conhecida por tanta gente e falada exaustivamente na mídia, é, falando de maneira bem simples, um estado de mente em que a pessoa não sente que tem essa casa/mente e fica em estado de grande desespero. Não há como ela se acolher, não tem como acolher as próprias emoções e tudo o que sente. Daí a importância de se construir uma casa que realmente nos acolha.

Quem não tem casa acaba morando de aluguel, ou seja, em uma casa que não é própria. E a coisa que mais se tem é gente morando de aluguel vida afora. São pessoas que acreditam que não podem ter uma casa própria interna e procuram lá fora uma casa de aluguel que possam utilizar. Por exemplo, é grande o número de pessoas que procura em seus parceiros amorosos esta casa/mente e com isso acaba pesando ou inviabilizando a relação. Por mais que alguém nos acolha, se não tivermos a nossa própria casa interna, sempre vamos nos sentir desamparados, porque não podemos viver dentro do outro, mas apenas dentro de nós mesmos. ​

Marido, esposa, namorado(a), amigo, nem analista podem ser a casa do outro. Na análise, entretanto, o analista “empresta” sua mente ao analisando, não para que este estabeleça residência ali, mas para que ele encontre um lugar favorável para aprender a construir a própria casa. Quando fazemos análise passamos por um processo de edificar a própria casa. O analista, por já ter passado pelo mesmo processo e ter aprendido a erguer seu lar interno, tem condições de ajudar o analisando a compreender que não dá para passar a vida inteira pagando aluguel e que se não arquitetar a própria moradia sempre ficará desamparado e infeliz.

Então não é uma questão de encontrar uma casa para podermos habitar, mas de construir uma dentro de nós mesmos. Somos todos chamados a ser arquitetos e engenheiros da nossa própria vida. Somos decoradores também, escolhendo como vamos decorar nossa casa/mente. Quem nunca brincou, quando criança, de construir uma casinha, cabana ou barraca? Só que agora não é mais brincadeira, mas se trata de conceber um espaço interno em nós para nos acolhermos e nos sentirmos definitivamente em casa.

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