Na psicanálise, os sentimentos de vergonha e culpa são distintos, embora muitas vezes possam se entrelaçar em nossa experiência emocional e serem confundidos. A vergonha pode ser vista como uma sensação profunda de inadequação ou desvalorização pessoal, geralmente decorrente da percepção de falha ou inadequação em relação a um padrão social. É intensa e avassaladora e pode levar à evitação do contato com os demais e à tentativa de esconder ou negar a fonte da vergonha. Está ligado a uma ferida narcísica e é sentida como algo que aponta para um defeito na imagem da pessoa que a sente.

A vergonha é um sentimento doloroso que vem da nossa própria visão sobre nós mesmos. Sentimos nosso rosto esquentar ou até ficamos sem palavras. É como se mostrássemos uma imperfeição que não pode ser corrigida. Nos sentimos como se tivéssemos manchado nossa imagem, nos tornamos desqualificados aos olhos dos outros e de si mesmo. Às vezes, queremos simplesmente desaparecer. É como se estivéssemos expondo nossas fraquezas, perdendo nossa dignidade, revelando nosso verdadeiro eu (estragado) ao mundo.

Por outro lado, a culpa é um sentimento que surge quando acreditamos ter violado algum código moral ou norma, resultando em dano a nós mesmos ou aos outros. É frequentemente acompanhado por um senso de responsabilidade pelo erro cometido e um desejo de reparação ou compensação. A culpa pode ser considerada como, até mesmo, uma tomada de consciência, pois pode levar ao arrependimento e ao desejo de fazer as pazes com o que foi feito de danoso.

A culpa surge quando causamos dano a alguém, seja de forma real ou apenas imaginária, e é direcionada à pessoa que foi prejudicada. Já a vergonha ocorre quando nossa própria imagem é afetada. Enquanto a vergonha tende a focar na percepção de quem somos como indivíduos perante os outros, a culpa está mais centrada nas nossas ações e no impacto que elas têm sobre nós mesmos e sobre os outros. Ambas as emoções podem ser difíceis de lidar e podem causar desconforto significativo, mas é importante reconhecer a diferença entre elas para poder lidar eficazmente com cada uma.

É comum que os pacientes evitem discutir tópicos que despertem sentimentos de vergonha durante a análise. No entanto, há momentos em que eles se esforçam para superar essa vergonha diante do analista, alguém que se torna testemunha das áreas que tentam esconder. Ao explorar esse sentimento, o paciente tem a oportunidade de lidar de forma mais ampla com seus problemas, o que pode resultar em uma mudança na sua maneira de se relacionar consigo e com os outros.

Na prática clínica, é comum encontrar pacientes que lutam com sentimentos de vergonha e culpa de forma simultânea, e explorar essas emoções pode ajudar a trazer clareza sobre suas origens e a desenvolver recursos para se pensar com mais compreensão sobre elas. Adotar uma abordagem mais sensível à experiência de vergonha e de culpa no trabalho clínico é fundamental. Isso pode permitir acessar questões profundas da mente do paciente, revelando aspectos do seu funcionamento psíquico que frequentemente permanecem ocultos devido a mecanismos de defesa que causam isolamento e inibição.