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Sylvio do Amaral Schreiner - Mundo Vivo 5m de leitura

Arqueologia da mente

ATUALIZAÇÃO
17 de julho de 2020

Sylvio do Amaral Schreiner
AUTOR

Sigmund Freud, criador da psicanálise, possuía uma vasta coleção de artefatos arqueológicos em seu consultório e o seu amor pelos estudos da arqueologia era tão intenso que ele chegou a afirmar ter lido até mais sobre arqueologia do que sobre psicologia. Seu hobby de colecionar objetos antigos fez até com que um paciente confundisse seu consultório de psicanalista com o escritório de um curador de museu. Arqueologia e psicanálise têm muito em comum.

 

A arqueologia é a ciência que estuda civilizações extintas através dos vestígios que restaram delas. É quase sempre preciso uma escavação, camada por camada, para que objetos antigos sejam recuperados e, com estes mesmos objetos em mãos, pode-se inferir como era o modo de vida, o estilo e as crenças das sociedades antigas. É um trabalho complexo e que demanda paciência e extremo cuidado ao lidar com artefatos tão frágeis que correm o risco de virarem pó se forem manejados inadequadamente. E o que é a psicanálise senão uma arqueologia da mente?

Numa análise, muito do que no passado havia sido reprimido (soterrado) e dado por perdido pode ser recuperado e, com isso, podemos entender muitos dos sintomas do presente. Ao nos depararmos com o passado podemos ter mais entendimento do que nos acontece no aqui e agora e, desta forma, há a possibilidade de nos libertarmos de muitos sintomas que nos prendiam e tornavam a vida dura e desgastante. Nosso inconsciente é tal qual esta civilização extinta e que, se for “escavada”, ou seja, investigada apropriadamente, pode revelar muito sobre nós. É também um trabalho complexo e que exige muito cuidado.

Para o psicanalista, não são necessários os pinceis ou a tecnologia para manejar os artefatos antigos como eles merecem, mas o respeito e a delicadeza para com a história do outro. O psicanalista necessita da empatia para com o sofrimento que cada analisando carrega a fim de ajudá-lo a lidar melhor com a dor que sente. Esta delicadeza e respeito o psicanalista consegue quando desenvolve a própria mente, através da própria análise pessoal. Desta forma ele poderá ajudar o analisando a entrar em contato consigo mesmo.

Nas palavras do próprio Freud “o psicanalista, como o arqueólogo, deve descobrir uma camada após a outra da mente do paciente, antes de alcançar os tesouros mais profundos e valiosos.” Temos um tesouro em nossas mentes e descobri-lo nos permite viver com mais qualidade e sabor. Quando ignoramos nosso tesouro interno deixamos de nos conhecer mais intimamente e, por isso mesmo, nos enganamos mais, adoecemos mais e vivemos menos. Podemos todos ser arqueólogos de nós mesmos para desvendarmos e aprender com o passado e, a partir daí criar um futuro bem mais favorável ao crescimento de nossas vidas.

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