A solidariedade sempre está às voltas com a gastronomia. A comida é sinal de partilha e de união em diferentes culturas e nos mais variados costumes. Em todos os tempos. Aliás, há inúmeros significados para os banquetes. Desde a Mesopotâmia, passando pelas sociedades greco-romanas, chegando à Idade Média e se ressignificando na contemporaneidade, as refeições têm conexões profundas e importantes para manter a base das estrutura sociais.

Veja se você se identifica com algumas dessas situações. O vizinho que pede emprestado um pouquinho de açúcar ou uma lata de leite condensado, por exemplo. O convite para um bom cafezinho, um pedacinho de bolo, um pão com manteiga. Dividir a cerveja no churrasco. Ou, então, degustar um bom vinho oferecendo uma taça a alguém. Mais ainda: partilhar o pão ou multiplicar os peixes, referência nitidamente bíblica que, aliás, pode nem ter acontecido assim, de forma literal, mas, sobretudo, para transmitir, justamente, a ideia da partilha, afinal, quando se junta o que se tem, sobra pra todo mundo.

E, por fim, a Santa Ceia. Momento único registrado pelos livros sagrados que mostram a figura de Cristo doando a si mesmo como alimento aos apóstolos. Mais uma vez, partilhar o bom e dividir o vinho significa juntar e somar tudo. E é assim que vejo o que muitas pessoas têm feito hoje em dia, resistindo a uma tendência impessoal da sociedade e mostrando que ainda há espaço para a solidariedade. Dias atrás sofri um pequeno acidente na Estrada do Lambari, em Sapopema, que, por Deus, só nos deu prejuízos materiais. Vão-se os anéis, ficam-se os dedos, como diz o ditado.

O ato de compartilhar alimentos aproxima as pessoas
O ato de compartilhar alimentos aproxima as pessoas | Foto: Pixabay

E pude presenciar a solidariedade de alguns moradores daquela região que, através de pequenos gestos, se revelou emocionantemente válida. Coisa simples mesmo: oferecer um copo d’água ou um cafezinho enquanto o guincho vinha nos buscar. Não posso deixar de nominá-los: Laércio, Airton e Nenê abriram as portas de casa para nos acolherem, fizeram o possível para nos sentirmos confortáveis diante de um imprevisto desagradável. E fizeram-no assim não porque estamos no período natalino, aquele que nossos corações ficam mais sensíveis à solidariedade e nos reunimos em banquetes familiares.

Fizeram o que fizeram porque isso faz parte de suas essências. Por isso, nesse tempo em que nos aproximamos do Natal e num ano em que enfrentamos tantos desafios, vamos resgatar a nossa solidariedade, mostrá-la através da gastronomia, seja nas reuniões em família seja nos tantos projetos de ajuda alimentícia que vemos por aí.