O Teatro Zaqueu de Melo completou em maio um aniversário que não merece comemoração. O espaço histórico localizado no centro de Londrina chegou a cinco anos de fechamento e sem previsão de reabertura. O local foi inaugurado em 1985 e funciona no mesmo prédio da Biblioteca Pública Municipal, na avenida Rio de Janeiro.

Desde 2017, o lugar está fechado porque as adequações de segurança do Corpo de Bombeiros não foram atendidas. Entre as exigências, estão a saída de incêndio, pintura com tintas e verniz antichamas, portas antipânico, mobiliário apropriado, revestimento antichamas, equipamentos de acessibilidade, como rampas e elevadores.

Na época, o então secretário municipal de Cultura, Caio Cesaro, explicou à FOLHA que suspendeu as apresentações artísticas após "discutir democraticamente com produtores culturais e organizadores de festivais que utilizariam o espaço nos próximos 120 dias. Todos compreenderam muito bem a situação", declarou.

A expectativa do Município era retomar a programação em 2018, mas as portas permaneceram fechadas. O teatro homenageia o professor Zaqueu de Melo, pioneiro em Londrina que fundou o Instituto Filadélfia e instalou o primeiro curso científico da cidade.

O local tem 271 metros quadrados e capacidade para aproximadamente 200 pessoas, além de camarins feminino e masculino.

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SAUDADE

Pra quem se apresentou no Zaqueu de Melo, constatar seu abandono desperta indignação. É o que acontece com o escritor, humorista e roteirista londrinense Márcio Américo. Em entrevista à FOLHA, o autor do clássico "Meninos de Kichute" - que depois virou longa-metragem -, relembra os tempos áureos do teatro.

"Apresentei uma peça bem no início, lá por 85 ou 86. Depois disso, foram várias outras. As pessoas faziam fila pra nos ver. O Zaqueu não era só um teatro. Era um ponto de encontro do pessoal das artes cênicas, discutindo cultura toda hora", disse.

Américo, que ganhou destaque em São Paulo, mas há um ano retornou para Londrina, projeta um futuro triste para o local se o cenário continuar o mesmo. "Grande parte da produção cultural da cidade passou por lá. Teatro fechado é menos cultura. Não adianta também abrir se não tiver público, mas pra isso precisamos de incentivo", lamentou.

O local foi inaugurado em 1985, tem 271 metros quadrados e capacidade para aproximadamente 200 pessoas
O local foi inaugurado em 1985, tem 271 metros quadrados e capacidade para aproximadamente 200 pessoas | Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

O QUE FAZER?

O secretário de Cultura, Bernardo Pellegrini, admite que o fechamento do Zaqueu de Melo "tira o seu sono". Há um ano e meio no cargo, ele afirma que a reabertura do imóvel é uma de suas prioridades, mas tirá-la do papel é o grande desafio.

"Não temos dinheiro. O orçamento da secretaria neste ano é de quase R$ 14 milhões. Sete milhões vão para pagar salários dos funcionários e outras despesas de recursos humanos. Cerca de R$ 4,5 milhões são do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura). Sobra o quê? Praticamente nada", comentou.

Sem recursos municipais, a saída tem sido sensibilizar deputados federais e o Governo do Paraná. "Para reabrir o Zaqueu de Melo, é preciso reformular as partes hidráulica e elétrica do prédio todo. Pelos nossos cálculos, isso hoje custaria R$ 2 milhões. Estamos tentando emendas com parlamentares e conversando com o Estado. Nossa esperança está em um projeto aprovado na Assembleia Legislativa que aumenta o investimento cultural para 5% do total do orçamento. Aguardamos a sanção do governador", concluiu.

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