O trecho de 10 km da Estrada de São Rafael, em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) já se consolidou como ponto turístico rural, mesmo estando localizado a menos de 10 minutos do centro da cidade. O acesso para quem vem de Londrina é feito pelo Contorno Norte de Rolândia (PR-323), seguindo 5 km após a rotatória na entrada do município. Uma das primeiras vias rurais abertas na região, abrigou os moradores nas fazendas já no início dos anos 1930. A via hoje é pavimentada com paralelepípedos por 3,7 km até a igreja e o cemitério de São Rafael. A iluminação ornamental foi instalada em 2017, mas atualmente cobre um trecho menor que o pavimento em pedras.

Ao longo da estrada estão pequenas e médias propriedades: verde da plantação dá o tom da paisagem neste mês de junho
Ao longo da estrada estão pequenas e médias propriedades: verde da plantação dá o tom da paisagem neste mês de junho | Foto: Ana Elisa Frings

A inauguração da primeira capela de São Rafael, em madeira na sua primeira versão, data de 1937. A atual construção em alvenaria e pedras foi erguida em 1958 e recebe missas duas vezes por mês à noite. A igreja e o cemitério alemão anexado ao mesmo terreno são a principal referência quando se fala em São Rafael. O valor histórico do cemitério é até hoje tema para pesquisadores, pois abriga as sepulturas dos primeiros imigrantes, principalmente alemães perseguidos na Alemanha dos anos 1930 - entre eles, as famílias de judeus que dão materialidade local à história em torno da Segunda Guerra (1939-1945).

Hoje é comum ver famílias com crianças, outras que estacionam no pátio da igreja para seguirem em caminhada ou visitantes que vêm para tirar fotos na igreja e nos campos em torno do cemitério. Na atual paisagem de junho, o verde do trigo brotado é o principal tom da paisagem.

FRUTAS E HORTALIÇAS

Ao longo da estrada de São Rafael estão propriedades pequenas e médias de agricultores que cultivam grãos ou frutas e hortaliças em sua maioria. Uma delas oferece a venda no local de verduras frescas, outro produtor entrega legumes e hortaliças direto ao consumidor em Rolândia ou as vende na feira de domingo no centro da cidade. Também se produz em uma das propriedades o queijo tipo minas frescal, vendido nos supermercados da cidade.

Um pesqueiro está aberto a visitantes de quinta à segunda-feira e o Spa, em atividade desde 1994 na fazenda que pertenceu à família do pioneiro Erich Koch-Weser, oferece opção de estadia com atenção à saúde e ao emagrecimento. Logo no início da estrada, próximo à PR-323 está um restaurante que serve almoço e um pouco à frente um bar noturno, com música ao vivo.

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TESTEMUNHA DAS TRANSFORMAÇÕES

Testemunha das mudanças na estrada de São Rafael, Geraldo Lonardoni, aos 82 anos, narra com clareza as fases que viveu e as conquistas que ajudou a trazer para a estrada, entre elas a melhoria na pavimentação, a ampliação do salão de festas ao lado da igreja, e também sobre as transformações da agricultura, sua profissão e paixão. Nascido no estado de São Paulo, veio com a família para Rolândia aos 10 anos, em 1950. Na propriedade que mantém junto com os filhos atualmente cultiva soja, milho e trigo, além de laranja. Foi presidente da Associação de Moradores de São Rafael e liderou a mobilização das famílias para garantir as obras em São Rafael no início dos anos 2000.

 Geraldo Lonardoni: “Eu adoro aqui e sou apaixonado por agricultura"
Geraldo Lonardoni: “Eu adoro aqui e sou apaixonado por agricultura" | Foto: Ana Elisa Frings

“Pedi aos meus netos que imprimissem convites e fomos de sítio em sítio - na verdade intimar as pessoas - para que mandassem ao menos um representante para uma reunião com o candidato a prefeito na época. Enchemos o salão com mais de cem pessoas e fizemos três pedidos”, conta. Solicitaram a pavimentação completa da via, a melhoria na estrada que cruza o Ribeirão Vermelho e leva à PR-170 (saída para o distrito de São Martinho) e um acesso mais adequado na entrada de São Rafael, já que na época a travessia direta era perigosa pela falta de visão de um dos lados da PR-323. Hoje o acesso a São Rafael é feito por via marginal, seja para quem vem do centro de Rolândia, seja para quem está no Contorno Norte. Os três pedidos da comunidade foram atendidos.

Lonardoni lamenta, porém, que ainda se veja muito lixo jogado na estrada. “O povo tem sido desordeiro. Falta consciência. Temos vários postes quebrados também. Seria uma boa também se todos os proprietários aqui plantassem árvores ao longo da estrada. Ia ficar ainda mais bonito”, sugere. Para melhorar ainda mais a estrutura da via rural, Lonardoni acredita que todo o trecho deveria ser asfaltado, em vez da cobertura de paralelepípedo nos 3,7 km iniciais. “Poderia ter asfalto em tudo. Ficaria mais fácil para quem vem aqui em casamentos, para as mulheres de salto alto e também para os ciclistas que vêm pra cá. Nessas pedras não é muito confortável”, defende.

Sobre o atual projeto da secretaria de Cultura e Turismo que visa educar a população para o turismo na cidade, incluindo a iniciativa das placas com mensagem de conscientização ao longo da estrada, o agricultor apoia. “Tenho fé que vai melhorar com essa ideia das placas”. Porém sem deixar de cobrar o que falta, reforça sobre a manutenção no pavimento. “A secretária (de Cultura e Turismo) precisa ver essas pedras aqui que estão faltando dos paralelepípedos. Colocar as pedras originais, não piche ou outro tipo de cobertura.”

As cobranças são justificadas pelo apego de 70 anos vivendo ali. “Eu adoro aqui e sou apaixonado por agricultura. Esse local aqui eu estimo demais. É tranquilo para morar. Estamos perto dos recursos, em 5 minutos estamos em Rolândia.”

'A MAIS BONITA DA CIDADE'

Outro responsável pelos cuidados em São Rafael é Paulo Roberto da Silva, nascido na região em 1964 e atual presidente da comissão de moradores responsável pela manutenção da igreja. Com a esposa Leonice Rosa da Silva, antiga vizinha de sítio, mora em São Rafael desde o casamento. Agricultor e arrendatário de terras, ele ressalta o visual da estrada como um atrativo para turistas. “Aqui a paisagem é variada, e tem potencial para o turismo rural, tem o pesqueiro, o Spa. Eu acho que é a estrada mais bonita da cidade”. Mas aponta também problemas. “Soltam animais aqui e às vezes à noite tem muito barulho de carros e motos”, afirma.

Como os moradores de São Rafael formam um grupo bem menor que de décadas passadas, manter a estrutura legal da Associação de Moradores não foi mais viável e a união de dez famílias é o que mantém as despesas da igreja e do salão na comunidade. A contribuição é feita anualmente em dinheiro ou em sacos de soja. As mudanças de forma geral, conta Silva, tornaram a vida rural mais fácil. “Agora com (bom serviço de) internet, transporte escolar, as coisas foram melhorando. Até o homem do sítio é mais valorizado. A cultura mudou. Antes os filhos iam embora pra estudar e buscar trabalho, mas agora ficam porque tem oportunidade. Mudou porque agora as pessoas estudam para vir pra roça, com tanta tecnologia e detalhes pra aprender”, ele explica.

A estrada de São Rafael tem o nome oficial de Rodovia Municipal Erich Koch-Weser desde dezembro de 2001.

Igreja foi construída em 1958 e recebe missas duas vezes por mês
Igreja foi construída em 1958 e recebe missas duas vezes por mês | Foto: Ana Elisa Frings

AÇÃO NO DIA DO TURISMO

O Dia do Turismo, 13 de junho, foi data que um grupo de voluntários interessados em preservar a Estrada de São Rafael escolheu para fazer a colocação de placas ilustrativas com mensagens aos visitantes e também promover uma ação de coleta de lixo ao longo da via.

A iniciativa foi organizada pela secretaria municipal de Cultura e Turismo de Rolândia, com apoio dos dois grupos do Rotary da cidade, do Comtur (Conselho Municipal de Turismo) e da Comphir (Comissão Municipal de Preservação Histórica de Rolândia). A ação faz parte do projeto Educação para o Turismo em andamento na secretaria municipal de Cultura e Turismo.

“Os projetos que estamos buscando desenvolver para o turismo em Rolândia têm também um foco na consciência ambiental”, explica a secretária Flávia Galbero. “Temos muitos grupos de ciclistas e o cicloturismo tem essa preocupação também, além de aproximar as pessoas da natureza”, conta. Para São Rafael ser reconhecida oficialmente como um ponto de carimbo nos passaportes de cicloturismo, a secretária explica que ainda é preciso oferecer melhorias como acesso a banheiros, locais para alimentação e descanso para os turistas.

Outra oportunidade que o turismo rural na região pode trazer é uma fonte de renda alternativa para os moradores. “Esse turismo que também gera renda para a região e atrai pessoas em busca de vivenciar a natureza tem tudo a ver com o caminho de São Rafael”, defende a secretária. “Podemos oferecer acesso aos pomares de fruta com a proposta do Colha e Pague. Os turistas colhem as frutas e deixam o pagamento para os produtores. Outros podem oferecer pães ou bolachas, suas produções artesanais que agradam os turistas e ao mesmo tempo geram riqueza para quem produz. Esse é um grande potencial de turismo na região que queremos desenvolver.”

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