O PlanMob (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável de Londrina) prevê a criação de mais 290 quilômetros de ciclovias até 2045. Com a malha de 49 quilômetros já existente e mais 7 km em implantação, o município somaria 346 km destinados aos ciclistas dentro de 23 anos.

A expansão ampliaria a participação da bicicleta nos 823 mil deslocamentos diários feitos pelos londrinenses, já que apenas 1% das viagens são feitas via duas rodas, segundo estudos realizados para a elaboração do plano, divulgado nesta semana pela Prefeitura de Londrina.

O incentivo ao uso da bicicleta é uma necessidade para garantir maior fluidez no tráfego de veículos. Dados mais recentes do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) mostram que Londrina tem 418.619 veículos motorizados, entre uma população de 580.870 habitantes, o que representa 100 veículos para cada 140 pessoas.

A implantação dos 7 km de ciclovias está em processo de licitação, e a previsão do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) é que a conclusão das obras ocorra, no máximo, em 2023.

Segundo o Ippul, Londrina conta atualmente com 49 km de ciclovias e mais 7 km estão em fase de implantação
Segundo o Ippul, Londrina conta atualmente com 49 km de ciclovias e mais 7 km estão em fase de implantação | Foto: Fotos: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

QUATRO PACOTES DE TRECHOS

O plano estabelece a nova rede cicloviária composta por 290 km dentro de quatro pacotes de trechos, denominados Prioridades 1, 2, 3 e 4. Cada prioridade está vinculada a um cenário de 5 anos. A Prioridade 1 (45 km) deverá ser concluída até 2027; Prioridade 2 (57 km), até 2033; Prioridade 3 (74 km), até 2039, e Prioridade 4 (114 km), até 2045.

“O Ippul já realiza projetos específicos para a ampliação da infraestrutura cicloviária, tais como ciclovia, ciclofaixas e revitalização de áreas de lazer com dispositivos para uso de bicicletas. A malha hoje é insuficiente, mas o instituto vem trabalhando no sentido de ampliar a rede atual”, destaca Gilmar Domingues Pereira, diretor de Trânsito e Sistema Viário do Ippul.

O diretor acrescenta que a função do Plano de Mobilidade e de todas as ações da Administração Municipal, que envolvem Ippul, Obras, CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), Sema (secretaria municipal do Ambiente) e diversos outros órgãos, seria de tornar Londrina uma cidade “Amiga do Ciclista”.

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falta planejamento

Matheus Oliveira Martins da Silva, membro do Conselho de Mobilidade Urbana da Associação Mobilidade Ativa e Amigos do Circuito Pé Vermelho, explica que Londrina ainda não aplica medidas previstas na lei federal 13.724/2018, que instituiu o Programa Bicicleta Brasil. O principal intuito da legislação é incentivar a inserção da bicicleta como meio de transporte.

Matheus Oliveira Martins da Silva:  . “Londrina é uma cidade ciclável desde que haja uma conversão entre recomendações técnicas e vontade política"
Matheus Oliveira Martins da Silva: . “Londrina é uma cidade ciclável desde que haja uma conversão entre recomendações técnicas e vontade política" | Foto: Arquivo Pessoal

“Como exemplos, cito a instalação de equipamentos de apoio aos usuários, como banheiros públicos e bebedouros em locais estratégicos, além da elaboração e divulgação de campanhas educativas relacionadas ao uso seguro da bicicleta e dos seus benefícios.”

Silva acrescenta que o PlanMob também confirmou que a expansão da malha cicloviária apresenta problemas, como de conexão, consolidação, falta de manutenção e promoção da infraestrutura. “Ou seja, as ciclovias não são construídas por planejamento e sim por demanda”, afirmou.

Segundo ele, é comum se deparar com vias duplicadas e readequadas, porém com pouca ou nenhuma facilidade para ciclistas e pedestres. “Isso interfere diretamente na opinião da população, que passa a não credibilizar nem priorizar seus deslocamentos seja a pé ou por bicicleta, trazendo o carro como transporte mais atrativo e seguro.”

Silva entende que, embora a execução do Plano de Mobilidade Urbana seja um item obrigatório, os dados contidos nele revelaram muitas questões que dependem do esforço político. “Londrina é uma cidade ciclável desde que haja uma conversão entre recomendações técnicas e vontade política.”

Ele acrescenta que, antes da pandemia de coronavírus, foi observado um aumento no número de ciclistas que utilizam a bicicleta para esporte e recreação em Londrina. “Durante a pandemia, houve um aumento significativo de ciclistas trabalhadores que, além da diminuição de custos com transporte, visaram a bicicleta enquanto modal para reduzir o risco de contaminação.”

A Associação Mobilidade Ativa e Amigos do Circuito Pé Vermelho foi criada em outubro de 2019 de maneira espontânea, a partir da união de ciclistas insatisfeitos com a retirada da ciclovia da avenida Ayrton Senna. O grupo apresenta ao poder público demandas da mobilidade ativa (não motorizada) e fiscaliza ações do Executivo em relação à execução de projetos na área.

Patrícia Oliveira acredita que o índice de  1% das viagens feitas de bike esteja subestimado
Patrícia Oliveira acredita que o índice de 1% das viagens feitas de bike esteja subestimado | Foto: Arquivo Pessoal

FALTA DE EDUCAÇÃO

A analista de licitações Patrícia Oliveira tem ido ao trabalho de bike desde o início da pandemia de coronavírus, em 2020. Ela nota que mais gente em Londrina tem utilizado o meio em duas rodas para se locomover e acredita que o percentual de 1% das viagens feitas de bicicleta entre o total de deslocamentos esteja subestimado. “Hoje temos muitas ciclovias na cidade, mudou muito de alguns anos para cá, mas a educação das pessoas não”, critica, citando que diversas ciclovias são usadas irregularmente por pedestres para caminhada e passeio com pets, por exemplo. “Também há falta de educação no trânsito por parte dos veículos de grande porte, carros e motos. Não há a noção de preferência, tampouco a gentileza urbana”, complementa.

Ela mantém um grupo de bike iniciante feminino há um ano e participa de pelo menos outros cinco grupos, fazendo trajetos urbanos e rurais.

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