A advogada Angelica Menk guarda com carinho cada ensinamento repassado pelo pai, o também advogado Abel Ferreira. “Minha relação com ele era a melhor possível, tanto de pai e filha, quanto profissional. Segui carreira de direto em grande parte por influência dele, porque meu sonho era fazer jornalismo. Fui trabalhar com ele com 15 anos e acabei me apaixonando pelo direito. Era uma pessoa extraordinária”, relembrou.

Ferreira tinha 76 anos e recebeu as duas doses da vacina contra a Covid-19. No entanto não conseguiu a terceira e nesse intervalo acabou infectado pelo coronavírus, perdendo a vida nos últimos meses do ano passado. Assim como ele, muitas pessoas que morrem em decorrência da Covid-19 ou por complicações da doença não estão com o esquema vacinal completo – que inclui a terceira dose para maiores de 18 anos – ou até mesmo que não receberam o imunizante.

Levantamento feito pela secretaria municipal de Saúde a pedido da reportagem mostra que entre janeiro de 2022 e o último domingo (13) de fevereiro foram 78 óbitos em Londrina por conta da Covid. Destes, em 64% dos casos as pessoas estavam com dose faltando ou não se vacinaram, enquanto que em 36% o paciente tinha todas as doses em dia.

“Cada vez mais, com dados, conseguimos consolidar a importância da vacina no enfrentamento à pandemia. De janeiro para cá atingimos maiores númerosde casos confirmados desde o início da pandemia, maior índice de transmissão. Óbitos e internamentos não acompanharam o mesmo crescimento. Isso em razão do avanço da vacinação”, destacou Felippe Machado, secretário municipal de Saúde. A cidade tem 75% da população total vacinada com duas doses ou dose única e 33% com a terceira e reforço da Jansen.

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ANTICORPOS

Médico sanitarista e especialista em saúde pública, Gilberto Martin frisou que a vacina é um instrumento eficaz de proteção no combate à pandemia, transmissão e agressividade do vírus. “A pessoa vacinada tem o desenvolvimento de uma quantidade de anticorpos suficientes para combater o vírus e ter uma manifestação clínica mais leve. Na pessoa não vacinada a capacidade de reprodução do vírus é maior. Quanto mais tempo reproduzindo, maior facilidade de o vírus desenvolver variantes”, explicou.

IDOSOS

Os dados deste ano também apontam que os idosos com comorbidades são as maiores vítimas da doença. Somente em 13 dias de fevereiro foram confirmadas 41 mortes, sendo 31 com mais de 61 anos. “Quase que a totalidade das vítimas tinha várias doenças de base e associadas. São fatores de agravamento da Covid. Muitas acabam tendo internação longa, reflexo do sistema imunológico fragilizado. Acarreta outros problemas, necessidade hemodiálise, risco de infecção hospitalar”, elencou Machado.

O pai de Angelica, por exemplo, tinha diabetes e hipertensão, doenças que ele controlava. Abel Ferreira também se preocupava com o coronavírus e, de acordo com a família, adotava todos os cuidados de prevenção. “Ele passou bem os dez primeiros dias. Ficamos monitorando em casa. No 10º dia ele teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que foi pela Covid e as comorbidades”, relatou. O advogado teve que ser internado e foi a óbito praticamente uma semana depois, deixando cinco filhos e oito netos.

. A média móvel de novos casos tem sido superior a 700 por vários dias consecutivos em Londrina. O número de internados também vem passando dos 100 diariamente
. A média móvel de novos casos tem sido superior a 700 por vários dias consecutivos em Londrina. O número de internados também vem passando dos 100 diariamente | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

MAIS CASOS, MAIS INTERNAMENTOS

Gilberto Martin, médico especialista em saúde pública, destacou que a variante ômicron segue circulando de forma intensa, é a predominante atualmente, podendo gerar novas variantes enquanto o mundo não tiver mais de 70% a 80% da população totalmente imunizada. “A ômicron não é tão inofensiva como muita gente pensou. Os cuidados foram diminuídos, a doença intensificou, levando a ocorrência de mais casos graves e demandas por leitos. Se temos muitos casos, os graves vão aparecer”, pontuou.

PROJEÇÃO

A expectativa é que assim como em outros países e ondas, a doença perca o ritmo nos próximos meses, no entanto, a postura da sociedade associada à vacina são entendidas como cruciais para prolongar ou diminuir esse período problemático. A média móvel de novos casos tem sido superior a 700 por vários dias consecutivos em Londrina. O número de internados também vem passando dos 100 diariamente.

“Para falar epidemiologicamente (sobre redução dos números) é cedo. O comportamento da doença em todas fases foi de regressão de casos, internamentos e óbitos. Mas isso passa pelo comportamento social. Em que pese não tenhamos oficialmente o Carnaval, tem feriado e muitos vão viajar. Pedimos atenção. Esse aumento de janeiro foi decorrente dos excessos do final do ano. É preciso tentar retomar a vida ao normal, mas existem limitações que precisam ser assimiladas”, alertou o secretário de Saúde, Felippe Machado.

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