Não vacinados ou com ciclo incompleto são 64% das mortes por Covid
Dados fornecidos pela secretaria de Saúde de Londrina mostram que 78 pessoas perderam a vida pela doença na cidade neste ano
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
Dados fornecidos pela secretaria de Saúde de Londrina mostram que 78 pessoas perderam a vida pela doença na cidade neste ano
Pedro Marconi - Grupo Folha

A advogada Angelica Menk guarda com carinho cada
ensinamento repassado pelo pai, o também advogado Abel Ferreira. “Minha relação
com ele era a melhor possível, tanto de pai e filha, quanto profissional. Segui
carreira de direto em grande parte por influência dele, porque meu sonho era
fazer jornalismo. Fui trabalhar com ele com 15 anos e acabei me apaixonando
pelo direito. Era uma pessoa extraordinária”, relembrou.
Ferreira tinha 76 anos e recebeu as duas doses da vacina contra a Covid-19. No entanto não conseguiu a terceira e nesse intervalo acabou infectado pelo coronavírus, perdendo a vida nos últimos meses do ano passado. Assim como ele, muitas pessoas que morrem em decorrência da Covid-19 ou por complicações da doença não estão com o esquema vacinal completo – que inclui a terceira dose para maiores de 18 anos – ou até mesmo que não receberam o imunizante.
Levantamento feito pela secretaria municipal de Saúde a pedido da reportagem mostra que entre janeiro de 2022 e o último domingo (13) de fevereiro foram 78 óbitos em Londrina por conta da Covid. Destes, em 64% dos casos as pessoas estavam com dose faltando ou não se vacinaram, enquanto que em 36% o paciente tinha todas as doses em dia.
“Cada vez mais, com dados, conseguimos consolidar a importância
da vacina no enfrentamento à pandemia. De janeiro para cá atingimos maiores númerosde casos confirmados desde o início da pandemia, maior índice de transmissão. Óbitos
e internamentos não acompanharam o mesmo crescimento. Isso em razão do avanço
da vacinação”, destacou Felippe Machado, secretário municipal de Saúde. A
cidade tem 75% da população total vacinada com duas doses ou dose única e 33%
com a terceira e reforço da Jansen.
LEIA TAMBÉM:
+ Maioria dos internados em Londrina não tem esquema vacinal completo
+ Movimento antivacina tem influência estrangeira, avalia médico
ANTICORPOS
Médico sanitarista e especialista em saúde pública, Gilberto Martin frisou que a vacina é um instrumento eficaz de proteção no combate à pandemia, transmissão e agressividade do vírus. “A pessoa vacinada tem o desenvolvimento de uma quantidade de anticorpos suficientes para combater o vírus e ter uma manifestação clínica mais leve. Na pessoa não vacinada a capacidade de reprodução do vírus é maior. Quanto mais tempo reproduzindo, maior facilidade de o vírus desenvolver variantes”, explicou.
IDOSOS
Os dados deste ano também apontam que os idosos com comorbidades são as maiores vítimas da doença. Somente em 13 dias de fevereiro foram confirmadas 41 mortes, sendo 31 com mais de 61 anos. “Quase que a totalidade das vítimas tinha várias doenças de base e associadas. São fatores de agravamento da Covid. Muitas acabam tendo internação longa, reflexo do sistema imunológico fragilizado. Acarreta outros problemas, necessidade hemodiálise, risco de infecção hospitalar”, elencou Machado.
O pai de Angelica, por exemplo, tinha diabetes e hipertensão, doenças que ele controlava. Abel Ferreira também se preocupava com o coronavírus e, de acordo com a família, adotava todos os cuidados de prevenção. “Ele passou bem os dez primeiros dias. Ficamos monitorando em casa. No 10º dia ele teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que foi pela Covid e as comorbidades”, relatou. O advogado teve que ser internado e foi a óbito praticamente uma semana depois, deixando cinco filhos e oito netos.

MAIS CASOS, MAIS INTERNAMENTOS
Gilberto Martin, médico especialista em saúde pública, destacou que a variante ômicron segue circulando de forma intensa, é a
predominante atualmente, podendo gerar novas variantes enquanto o mundo não
tiver mais de 70% a 80% da população totalmente imunizada. “A ômicron não é tão
inofensiva como muita gente pensou. Os cuidados foram diminuídos, a doença
intensificou, levando a ocorrência de mais casos graves e demandas por leitos.
Se temos muitos casos, os graves vão aparecer”, pontuou.
PROJEÇÃO
A expectativa é que assim como em outros países e ondas, a doença perca o ritmo nos próximos meses, no entanto, a postura da sociedade associada à vacina são entendidas como cruciais para prolongar ou diminuir esse período problemático. A média móvel de novos casos tem sido superior a 700 por vários dias consecutivos em Londrina. O número de internados também vem passando dos 100 diariamente.
“Para falar epidemiologicamente (sobre redução dos números) é cedo. O comportamento da doença em todas fases foi de regressão de casos, internamentos e óbitos. Mas isso passa pelo comportamento social. Em que pese não tenhamos oficialmente o Carnaval, tem feriado e muitos vão viajar. Pedimos atenção. Esse aumento de janeiro foi decorrente dos excessos do final do ano. É preciso tentar retomar a vida ao normal, mas existem limitações que precisam ser assimiladas”, alertou o secretário de Saúde, Felippe Machado.
Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.

