Após 10 anos de estudos, pesquisadores da UEL (Universidade Estadual de Londrina) chegaram a um modelo de negócio socioambiental que será implantado em Londrina ainda neste mês. O BRT (Banco de Resíduos Têxteis) é um sistema de logística reversa de resíduos têxteis pós-consumo (roupas) e pós-industriais com objetivo de minimizar os impactos ambientais no aterro de Londrina.

A cada ano, são descartados mais de oito mil toneladas de resíduos têxteis no aterro sanitário da cidade. “O setor têxtil ainda não é contemplado na política nacional de resíduos sólidos. Esse é um projeto pioneiro no País porque tratamos a logística reversa desse materiais. Para se ter uma ideia, o setor de vestuário, que compreende a moda em geral, ocupa hoje o segundo lugar em impacto ambiental no planeta”, diz a pesquisadora Suzana Barreto Martins.

O projeto de pesquisa “Logística Reversa de Resíduos Têxteis Industriais e Pós Consumo: design aplicado a sistemas e serviços sustentáveis e modelos de negócios” é uma iniciativa do grupo DESIn (Design, Sustentabilidade e Inovação), liderado por Martins e pelo pesquisador Claudio Pereira de Sampaio, do Departamento de Design da UEL.

A ideia principal é agregar valor a esses materiais que iriam para o aterro sanitário. Para isso, estão envolvidos vários atores dentro desse sistema. As roupas e tecidos em geral poderão ser descartados em dez pontos de coleta na cidade e a Cooper Região (Cooperativa de catadores de materiais recicláveis e resíduos sólidos da região metropolitana de Londrina) também separará esses resíduos que se ‘misturam’ diariamente na coleta seletiva.

COOPER REGIÃO

No espaço da cooperativa, localizado na Vila Marízia (região central), os tecidos serão desfibrados em um maquinário (que será entregue em breve), para que se torne novamente fio e volte para a cadeia produtiva. Dessa forma, segundo Martins, os fios poderão ser comercializados pela cooperativa para terem uma nova utilização.

“Os cooperados terão mais um produto para agregar valor e que poderão ser usados em outros segmentos como no design de interiores para a criação de puffs e almofadas, ou na construção civil, servindo de matéria-prima para o desenvolvimento de placas de isolamento térmico e acústico, em substituição à lã de vidro”, afirma.

DO JEANS ÀS BOLSAS

As graduandas do 4º ano do curso de Design de Moda da UEL, Ana Julia Pinheiro e Fernanda Massi, estão à frente da marca Core, que surgiu há cerca de um ano. A marca é resultado de um empreendimento social chamado “Ateliê Criativo”, a partir do projeto dO BRT.

“O Core surgiu quando percebemos a necessidade de se ter uma nova gestão para o Ateliê Criativo. Estamos terminando o desenvolvimento dos produtos com resíduos de jeans e daremos início às vendas, pelas redes sociais, tanto para pessoa física quanto para empresas”, conta Massi.

Os produtos são para uso pessoal, como ecobags, necessaries, porta notebook; e para decoração como chachepôs para vasos de plantas e jogos americanos. De acordo com Massi, uma ecobag pode recuperar cerca de 200 gramas de resíduo têxtil. “Ambas iniciativas mostram o potencial de promover a economia circular em vários setores, a partir desses resíduos. Eu, como estudante de moda, tenho um incentivo muito grande ao ver que essas ideias funcionam e podem sair do papel”, ressalta.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina ganha Banco de Resíduos Têxteis com projeto pioneiro no País
| Foto: Divulgação/Core
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MODELO SOCIOAMBIENTAL

Os pesquisadores da UEL explicam que o Banco de Resíduos Têxteis representa um modelo de negócio socioambiental que atua em três dimensões da sustentabilidade: a ambiental, com a redução dos impactos ambientais; social, com a geração de trabalho e renda para cooperados; e econômica (modelo de negócio e economia circular).

Seis novos postos de trabalho serão criados na Cooper Região para atuação no BRT. Verônica Souza, diretora financeira na cooperativa, comenta que a quantidade de roupas e outros tecidos que se misturam aos recicláveis chega a uma média diária de 50 quilos. “A gente percebe que as pessoas descartam coisas muito novas, como toalhas que poderiam ser reaproveitadas na limpeza, por exemplo. O descarte ainda é bem inconsciente”, diz.

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| Foto: Divulgação/Cooper Região

Para Souza, todos vão ganhar com a iniciativa. “Muitas peças que chegam aqui são reaproveitadas pelos cooperados, mas a maioria acaba indo para o aterro. Com o Banco de Resíduos Têxteis, vamos conseguir dar a destinação correta e também será uma oportunidade de gerar mais renda a todos”, diz. Atualmente, a Cooper Região conta com 107 cooperados em um trabalho que começou 14 anos atrás.

A parceria do Departamento de Design da UEL com a Cooper Região já existe há algum tempo. Em 2019, foi realizado um desfile com as roupas que chegavam à cooperativa. “Separamos mais de 200 quilos de roupa, fizemos toda a higienização e criamos 23 looks. Os próprios coletores desfilaram em parceria com o ateliê Bianca Baggio, de Londrina", lembra a pesquisadora Suzana Barreto Martins, da UEL.

OLHAR MAIS ABRANGENTE

O BRT é uma parceria do DESIn com a Cooper Região e o Ninter (Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos) da UEL. Para a coordenadora do Núcleo, professora Lilian Aligleri, a grande contribuição do BRT está em sistematizar o fluxo de coleta, separação e destino desses materiais.

“Até então, a gente não tinha ninguém com um olhar mais abrangente de como realmente podemos fazer isso localmente, de maneira articulada, integrando as cooperativas e gerando renda. Esse volume de oito mil toneladas de resíduos têxteis descartados no aterro sanitário não deveria estar lá ou até deveria, mas em uma quantidade diminuta como em casos de um têxtil sujo. Mas foi constatado que grande parte do material que se encontra lá hoje, não deveria ter sido encaminhado para o aterro. A população está colocando muitos têxteis como lixo orgânico ou rejeito”, declara.

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| Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

O Banco de Resíduos Têxteis foi lançado na terça-feira (7) durante o evento “Histórias de Moda, Arte, Cultura e Comportamento”, que trouxe a Londrina os renomados estilistas Ronaldo Fraga e Dudu Bertholini.

Segundo a pesquisadora Suzana Barreto Martins, o investimento é de cerca de R$ 60 mil, oriundos de um edital da Fiep, com a participação de empresas do setor de confecção da região, parceiras do projeto – GMTex, NKF Confecções, Sonhart, ViaGraft Confecções, Karilu Indústria e Comércio, Cris Jeans, Danithais Indústria e Comércio e Schiavon & Morais.

O grupo DESIn tem apoio da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná) e Sivepar (Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Vestuário do Paraná). (Com Agência UEL)

SERVIÇO - Os pontos de coleta serão distribuídos em dez endereços, principalmente em shoppings centers. O primeiro a ser instalado é no Aurora Shopping.

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