A Cooper Região tem dois funcionários contratados e 116 cooperados que fazem a coleta, triagem, prensagem, venda do material e atuam também na parte administrativa
A Cooper Região tem dois funcionários contratados e 116 cooperados que fazem a coleta, triagem, prensagem, venda do material e atuam também na parte administrativa | Foto: Gina Mardones - Grupo Folha

Desde que deixaram o garimpo no lixão do Limoeiro para atuarem na coleta seletiva na Fazenda Refúgio, há quase 20 anos, os recicladores de Londrina provaram ao longo do tempo que a união de forças concentradas em uma única direção e a organização dos trabalhadores traz resultados sociais e econômicos bastante positivos. O sistema de reciclagem no município foi construído aos poucos, baseado em muita briga e negociação, até chegar ao modelo de cooperativa, implantado há dez anos pela prefeitura por meio do programa Londrina Recicla.

Nesta quinta-feira (12), a Cooper Região preparou uma festa para comemorar a primeira década de sua fundação e, além de um café da manhã coletivo com muita música, canto e dança, aproveitaram a celebração para discutir o futuro da coleta seletiva.

“Para quem começou na Fazenda Refúgio, como um projeto piloto, e hoje chegar a um contrato de prestação de serviço com o município, divulgando o trabalho da coleta seletiva em Londrina dentro e fora do Brasil, é um orgulho”, resumiu a diretora-financeira da cooperativa, Verônica Cardoso Costa. Nos últimos dois anos, a cooperativa representou o município no Chile, Uruguai, Colômbia, levando a experiência em reciclagem de Londrina ao conhecimento de outros gestores sul-americanos. “Londrina é bem peculiar. Além de implantar a coleta seletiva, fez a inclusão do catador em todo o processo, tanto na educação ambiental, como na separação, prensagem e venda do material”, destacou Costa.

A diretora da cooperativa também ressaltou a importância das parcerias, desde a população, que colabora na separação do material, até empresas e universidade, transformando Londrina em uma “incubadora de coleta seletiva”. “Muitos gestores públicos têm vindo para cá aprender com a gente como faz a contratação de cooperativa de catadores e implantação do sistema de coleta seletiva.”

A Cooper Região tem dois funcionários contratados e 116 cooperados que fazem a coleta, triagem, prensagem, venda do material e atuam também na parte administrativa. São 11 administradores dentro da cooperativa, catadores que ao longo de dez anos buscaram formação e hoje são capazes de gerir a própria empresa. A cooperativa coleta 200 toneladas mensais de resíduos. Em 2013 eram 370 toneladas mensais, mas devido à crise econômica, que levou muitas pessoas para a informalidade e provocou o aumento dos catadores informais, o volume no barracão foi reduzido.

Integrar os catadores informais às cooperativas é um dos objetivos da Cooper Região, estendendo a eles os benefícios conquistados pelos recicladores que trabalham nas cooperativas. Além de melhorar as condições de trabalho, com registro em carteira e recolhimento de INSS e garantia de outros direitos trabalhistas, como férias remuneradas e licença-maternidade. Os cooperados conseguem até fazer uma poupança natalina.

FABRICAÇÃO DOS SACOS VERDES

Outra meta da cooperativa é iniciar a industrialização dos próprios materiais, iniciando com a fabricação dos próprios sacos verdes para estimular a separação domiciliar. “Os sacos verdes são o nosso carro-chefe. A coleta seletiva em Londrina teve destaque pela coleta porta a porta e a entrega do saco verde. Já tem estudo de viabilidade feito pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). A gente pretende fornecer a um custo bem menor para o poder público e assim atender a toda a população. A Cooper Região processaria parte desse saco e a outra parte, que requer um processo mais caro, seria feita por uma empresa parceira, tudo aqui em Londrina”, adiantou Costa.

“Hoje os recicladores não são mais coitadinhos que cuidam de lixo. São homens e mulheres que fazem um serviço público, recebem e aprimoram esse serviço e têm que ser tratados como trabalhadores. Mas esse papel não pode ser tratado como um papel só deles. É um papel que convoca toda a cidade”, disse a assistente social da Prefeitura de Londrina, Marilys Garani, que aposta na retomada constante dessa pauta para garantir o avanço da reciclagem no município.

Professora do Departamento de Engenharia Ambiental da UTFPR, Tatiane Cristina Dal Bosco citou a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, como fundamental na responsabilização de cada cidadão nesse processo. A partir da lei, municípios, grandes geradores, fabricantes, transportadores, importadores e a comunidade em geral passam a ter cada um o seu papel no gerenciamento adequado dos resíduos sólidos. “Temos nove anos de história de Política Nacional e eles (Cooper Região) estão aqui há dez anos mostrando que é possível e que essa inserção do catador é tanto fundamentada na lei quanto necessária do ponto de vista humano e social.”