Os materiais recicláveis descartados no campus da UEL (Universidade Estadual de Londrina) estão sendo triados um a um por uma equipe de técnicos, professores, alunos. De embalagem em embalagem, a equipe busca criar um banco de dados para definir novas possibilidades em educação ambiental, impactando tanto a universidade quanto a sociedade em geral.

Esse trabalho minucioso acontece através do projeto “UEL Com Menos Plástico”, em parceria com o Programa ReciclaUEL. “Nosso objetivo é estimar a quantidade de recicláveis de cada setor do campus desde os centros de estudos, Hospital de Clínicas, HV (Hospital Veterinário), COU (Clínica Odontológica) e RU (Restaurante Universitário), e detalhar os tipos de materiais”, explica a professora Edinéia Vilanova Grizio-orita, do Departamento de Geociências. Neste primeiro momento, os resíduos do HU (Hospital Universitário) não serão triados.

A separação dos materiais começou no dia 15 de março e os resultados vão refletir a realidade do campus em um recorte de uma semana. Após esse trabalho manual, a equipe composta por sete integrantes irá compilar os dados e planilhar as especificidades de cada setor. “Sabendo os tipos de materiais mais descartados em cada setor e também se a separação do lixo está sendo eficiente, poderemos discutir novas possibilidades para mudar a realidade”, afirma.

De acordo com Maria José Sartor, coordenadora do ReciclaUEL, “o volume de materiais é muito grande e já é possível observar que cada setor se comporta de maneira diferente, isto é, em alguns espaços da universidade o consumo de copos descartáveis é maior, enquanto em outros como no RU (Restaurante Universitário) a variedade é maior tendo caixas de leite, latas e outras embalagens”.

Sobre o consumo de copos descartáveis, Sartor comenta que as primeiras impressões são de uma quantidade expressiva em setores da área da saúde, que atendem a comunidade externa como na Clínica Odontológica e HV.

Na triagem, todas as embalagens plásticas estão sendo separadas de acordo com os sete tipos de classificação existentes, numeradas na parte inferior dos materiais. O tipo 1, por exemplo, são embalagens transparentes ou coloridas, como garrafas de água e refrigerantes.

De acordo com pesquisadora, volume coletado é grande e é possível observar que cada setor se comporta de maneira diferente
De acordo com pesquisadora, volume coletado é grande e é possível observar que cada setor se comporta de maneira diferente | Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

BANCO DE DADOS

A expectativa do grupo de trabalho é ter os dados preliminares em abril. As informações também serão cruzadas com o sistema de almoxarifado da universidade, o que permitirá aos pesquisadores saber a quantidade de materiais recicláveis distribuídos em cada setor.

O estudante de engenharia elétrica, Pedro Duarte, comenta que este levantamento “é um trabalho essencial no campus, já a comunidade universitária é extensa. Não adianta tomar algumas medidas sem ter dados concretos porque isso pode levar a um gasto de tempo e recursos à toa. Acho que essa ideia de criar um banco de dados é muito importante”, afirma.

RECICLÁVEIS 'SUJOS'

Os itens mais encontrados pela equipe são: papel, papelão, copos plásticos de água e café, isopor e garrafas pet. Maria José Sartor, coordenadora do ReciclaUEL, destaca que um problema já identificado são materiais orgânicos junto aos recicláveis, como borra de café, restos de comida e casca de banana.

“Também queremos entender por que estamos recebendo tantos materiais com rejeitos. A ideia é reduzir o consumo de embalagens ou, ao menos, direcionar aos setores quais os tipos de embalagens que podem ser reciclados e que geram menos impacto ambiental, econômico e social”, completa a professora Edinéia Vilanova Grizio-orita, do Departamento de Geociências.

De acordo com o relatório “Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização”, do WWF (Fundo Mundial para a Natureza), com base nos dados do Banco Mundial, o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia.

Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), mas apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas, ou seja, reprocessadas na cadeia de produção como produto secundário. Esse é um dos menores índices da pesquisa e bem abaixo da média global de reciclagem plástica, que é de 9%, diz o estudo. Em uma análise por habitante, o Brasil produz cerca de 1 quilo de lixo plástico, por habitante, a cada semana.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto mapeia  materiais recicláveis descartados na UEL
| Foto: Folha Arte

RESPONSABILIDADE COLETIVA

As estudantes Camila Gabriel Borigato e Beatriz de Mello Bernardes, do curso de direito, dizem que as novas gerações têm mais consciência ambiental, porém a sociedade em geral está longe de colocar em prática ações eficientes. “Todas as iniciativas para transformar a realidade, no que se refere à preservação do meio ambiente, são urgentes. No que está ao meu alcance, eu tento fazer. É uma questão de hábito”, comenta Borigato.

No dia a dia, elas dizem que adotaram atitudes básicas como evitar o uso de copos plásticos, carregando sempre uma garrafa térmica e a utilização de sacolas reutilizáveis nas idas ao supermercado. “Trata-se de uma responsabilidade coletiva”, completa Bernardes.

“Está mais do que evidente que não dá mais para levar a vida sem responsabilidade ambiental, sem essa sensibilização. Temos que começar a pensar em substituições possíveis de materiais. A partir desse trabalho na universidade, queremos provocar algumas reflexões não só no campus, mas em toda a sociedade. É possível alterar? É possível reduzir? Sem esse trabalho, a gente não consegue visualizar a questão de forma tão detalhada e buscar possíveis soluções”, diz

Também integram a equipe responsável pelo levantamento, a estagiária do Programa ReciclaUEL, Ana Carolina Trojan, e os estudantes do curso de geografia, Jeferson dos Santos Junior, Davi Rodrigues Oliveira e Laura Gomes da Costa.

SERVIÇO: Saiba mais sobre o projeto acessando o perfil @UELcommenosplastico no Instagram

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