Desde que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou que a hidroxicloroquina vem se mostrando eficaz no tratamento do novo coronavírus, as vendas do medicamento dispararam no Brasil, nos últimos dias. Parte da população começou a adquirir o medicamento sem receita médica e isso afetou pacientes que usam o medicamento usualmente, mas para tratar outras enfermidades, como o lúpus, malária e artrite reumatoide. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) enquadrou as substâncias como remédios de controle especial e que devem ser vendidas somente com prescrição médica, mas muitas pessoas ainda sentem o reflexo dessa corrida nas farmácias.

Michelle Prieto de Souza Scarcelle publicou apelo nas redes sociais pedindo para que as pessoas não adquiram a hidroxicloroquina desnecessariamente.
Michelle Prieto de Souza Scarcelle publicou apelo nas redes sociais pedindo para que as pessoas não adquiram a hidroxicloroquina desnecessariamente. | Foto: Arquivo pessoal/ Michelle Prieto de Souza Scarcelle

A assistente da escrita fiscal, Michelle Prieto de Souza Scarcelle, possui lúpus em sua forma mais grave. Ela ressalta que se trata de uma doença autoimune e faz com que os próprios anticorpos dela ataquem seus órgãos. “Eu preciso tomar o medicamento diariamente”, reforça. Quando o medicamento acabou, ela procurou em várias farmácias de Rolândia, onde reside, Cambé e Londrina e não encontrou o medicamento. Ela publicou no sábado (21) um apelo nas redes sociais para que as pessoas que não comprassem o medicamento desnecessariamente e que o medicamento é muito importante para quem tem lúpus.

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Quem acabou socorrendo ela foi a auxiliar administrativa Talita Faion. “Eu também tenho lúpus. Quando começaram a circular essas notícias sobre a cloroquina, comecei a ligar para as farmácias para conseguir o medicamento. Liguei para 15 delas, até que consegui uma caixa", revelou. Como o caso dela é mais brando, ela viu o apelo de Scarcelle nas redes sociais e acabou cedendo 12 comprimidos para ela.

CAMPANHA

Diante do problema, a rede de farmácias Vale Verde, de Londrina, até realizou uma campanha para recomprar a cloroquina das pessoas que adquiriram o medicamento desnecessariamente. “A gente sabe quem é usuário habitual da cloroquina porque está cadastrado no programa funcional. Hoje, uma pessoa veio comprar na farmácia e não tinha”, lamenta a farmacêutica Estela Martins Bárbara, da Vale Verde.

Em suas redes sociais a farmácia Vale Verde publicou o apelo. "Dado a situação mundial pela qual estamos passando, em ato de solidariedade pública com aqueles que estão sofrendo pela falta de medicamentos, estaremos aceitando a devolução dos medicamentos com o principio ativo à base de hidroxicloroquina."

Para isso a farmácia pede que o medicamento seja devolvido na mesma filial em que foi adquirida, apresentando o cupom fiscal. "Seu dinheiro será ressarcido no momento da troca. Reiteramos que nossos farmacêuticos estão treinados e orientados para dar o suporte necessário para a melhor utilização do medicamento, assim como quaisquer dúvidas que possam surgir", diz o comunicado da rede de farmácias.

AINDA EM TESTE

A infectologista Cláudia Carrilho, do Hospital Universitário de Londrina, ressaltou que a droga ainda está sendo testada contra o novo coronavírus. “Ainda não tem indicação clínica de uso contra o Covid-19. Não é o momento para ter pânico e sair comprando o que se ouve”, alertou. Ela ressaltou que a Anvisa emitiu nota dizendo que não há, no momento, indicação da cloroquina para pacientes infectados com o Covid-19 e nem como forma de prevenção.

Imagem ilustrativa da imagem Durante pandemia, londrinenses enfrentam dificuldade para comprar cloroquina
| Foto: iStock

A geriatra Lindsey Nakakogue, de Londrina, explica que, além dos pacientes que possuem lúpus, muitos pacientes reumatológicos utilizam o medicamento. Ela revelou que os testes do medicamento contra o coronavírus in vitro funcionaram. "Vamos ver com estudos grandes, na fase III, ou seja, com pessoas."

CONTROLE ESPECIAL

Anvisa enquadrou a hidroxicloroquina e a cloroquina como medicamentos de controle especial. A medida é para evitar que pessoas que não precisam desses medicamentos provoquem um desabastecimento no mercado. A Agência recebeu relatos de que a procura pela hidroxicloroquina aumentou depois que algumas pesquisas indicaram que este produto pode ajudar no tratamento da Covid-19. Apesar de alguns resultados promissores, não há nenhuma conclusão sobre o benefício do medicamento no tratamento do novo coronavírus.

Ou seja, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus.

COMO USUÁRIOS DEVEM PROCEDER?

Os pacientes que já fazem uso do medicamento poderão continuar utilizando sua receita simples para comprar o produto, durante o prazo de 30 dias. A receita será registrada pelo farmacêutico, que já está obrigado a fazer o controle do medicamento no momento da venda.

A nova categoria significa que o medicamento só poderá ser entregue mediante receita branca especial, em duas vias. Médicos que fazem a prescrição de hidroxicloroquina ou cloroquina já devem começar a utilizar este formato.

Com a nova diretriz Michelle Prieto de Souza Scarcelle relata que precisou levar todos os seus exames para uma unidade básica de saúde para que a médica prescrevesse uma nova receita. "Ela me deu duas receitas. Uma para comprar na farmácia e outra para adquirir o medicamento feito em farmácias de manipulação." Ela revela que nunca tinha passado por isso antes. "Era um medicamento fácil de comprar. Era só ir na farmácia e adquirir", revelou.

A hidroxicloroquina já estava enquadrada como medicamento sujeito à prescrição médica. Com a nova categoria, a venda irregular pelas farmácias é considerada infração grave. O uso sem supervisão médica também pode representar um alto risco à saúde das pessoas.

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