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Cadernos Especiais 5m de leitura

Educação: propostas pedagógicas

ATUALIZAÇÃO
14 de novembro de 2017

Juliana Gonçalves<br>Especial para a FOLHA
AUTOR



Está aberta a temporada de matrículas nas escolas de todo o País. O momento é oportuno para que os pais conheçam as escolas e avaliem qual delas está mais próxima de suas expectativas. Isso porque há uma série de metodologias e formas de aplicação do conhecimento, que diferem nas propostas de uma escola para outra e têm influência na formação dos alunos.

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) estabelece nos seus princípios que o ensino deve ser oferecido com base no pluralismo de ideias e de correntes pedagógicas. Na prática, significa que a lei garante autonomia às redes de ensino e às escolas no que diz respeito a sua estrutura organizacional e curricular. Claro, elas devem estar de acordo com as normas previstas pelo Ministério da Educação, mas dentro desse contexto têm liberdade para definir, por exemplo, o seu projeto pedagógico.

De acordo com a professora do departamento de Educação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Adriana Regina de Jesus Santos, as principais tendências pedagógicas usadas na educação brasileira atualmente se dividem em: tradicional, tecnicista, humanista e reconstrucionista.

TRADICIONAL
A tendência tradicional está no grupo das tendências liberais e foi a primeira a ser instituída no Brasil. Nela, o professor é a figura central e o aluno é um receptor passivo dos conhecimentos considerados como verdades absolutas. "A escola tradicional considera que o núcleo da educação é o currículo: matemática, história, ciências. É voltada para uma formação científica. As disciplinas clássicas são consideradas fundamentais à construção do conhecimento", resume Santos.

TECNICISTA
Na perspectiva da corrente tecnicista, ou tecnológica, a educação consiste na transmissão de conhecimentos, comportamentos éticos, práticas sociais e habilidades que propiciem o controle social. "Assim como a tradicional, a tecnológica é uma tendência liberal. A diferença é que essa oferece uma formação voltada para o mercado de trabalho", esclarece Santos. Segundo ela, na tendência tecnicista, o aprendizado também é moldado pelo professor. "Ao aluno, agente passivo, cabe absorver a eficiência técnica, atingindo os objetivos propostos", acrescenta.

HUMANISTA
Já a tendência humanística, também chamada de Escola Nova, tem um método centrado no aluno e defende um currículo que leva em consideração a realidade desse aluno. "A atenção do conteúdo disciplinar se desloca para o aluno, que é visto como um ser individual, com uma identidade pessoal que precisa ser descoberta e construída. O currículo busca desenvolver a consciência para a libertação e autorrealização, num processo conduzido pelo próprio aluno com auxílio do professor", explica. Segundo ela, metodologias como Waldorf, Montessori, Piaget se enquadram na tendência humanística.

RECONSTRUCIONISTA
A tendência reconstrucionista, ou histórico-crítica, tem um foco progressista. A concepção teórica e metodológica tem como objetivo principal a formação crítica do aluno e a transformação social. "Essa tendência considera que a sociedade injusta e alienada pode ser transformada à medida que o homem adquire consciência crítica para assumir-se sujeito do próprio destino", explica Santos. "Nas diretrizes curriculares, as escolas estaduais do Paraná adotam essa tendência, mas na prática o ensino no Estado acaba sendo mais tecnicista", pondera.



Tecnologia favorece mistura de correntes pedagógicas
Algumas escolas têm práticas com características de várias correntes pedagógicas, enquanto outras seguem um único modelo. Para a professora do departamento de Educação da UEL, Adriana Regina de Jesus Santos, misturar as concepções de diferentes tendências, como acaba acontecendo nas escolas estaduais paranaenses, não é bom para a formação do aluno. "Aí está o problema do ensino, não tem foco, não tem uma diretriz para seguir. Cada concepção dessas pensa num homem diferente e a escola precisa saber qual delas quer formar, porque quem não sabe para onde quer ir qualquer caminho serve", analisa.

Essa imprecisão na definição do caminho a seguir, segundo a professora, é resultado da formação falha dos professores. "No curso de pedagogia, o aluno tem contato com todas as correntes. O problema são os outros cursos de licenciatura, que têm uma carga horária muito pequena de didática e acabam não conhecendo os fundamentos filosóficos", argumenta.

Para a diretora pedagógica do Colégio Universitário, Raquel Calil Ruy, o motivo dessa mistura é mais complexo que isso. "A academia tem linhas bem definidas, mas não dá pra seguir isso literalmente na prática. O mundo está em transformação e nós temos que nos adaptar, claro, sem fazer bobagens", argumenta. Segundo Raquel, a linha pedagógica que estrutura o projeto político-pedagógico do Universitário é o sociointeracionismo, que vincula o desenvolvimento humano ao contexto cultural no qual o indivíduo se insere e à influência que o ambiente exerce sobre a formação psicológica desse indivíduo. Mas, o colégio também explora alguns elementos de outras teorias. "Hoje falamos muito em uma metodologia híbrida: mesclamos um pouco da linha tradicional, em algumas situações temos um pouco do construtivismo", explica.

Na prática, esse hibridismo tem sido promovido principalmente pela tecnologia. Os alunos têm acesso a uma plataforma, com videoaula, questões e jogos. O professor tem acesso ao desempenho dos alunos nessa plataforma, podendo verificar suas dificuldades e trabalhá-las coletivamente ou individualmente. "Não somos só da linha tradicional, porque temos aulas expositivas, mas também temos momentos construtivistas, em que o aluno é protagonista e o professor apenas um mediador, como nos projetos de iniciação científica", exemplifica a diretora. (J.G.)

Ensino-aprendizagem na prática
O Colégio de Aplicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) adota a metodologia histórico-crítica. De acordo com o diretor da instituição, Edmilson Lenardão, ali, o desenvolvimento do aluno se dá a partir da socialização do conhecimento já produzido pela humanidade. "Na prática, nós temos atividades extracurriculares reduzidas porque priorizamos o conteúdo, a sala de aula, para que o planejamento seja rigorosamente cumprido pelo professor", explica.
Assim, os passeios, projetos, oficinas, semanas culturais são pouco presentes na rotina dos alunos do Aplicação, o que acaba sendo uma crítica frequente à metodologia. Crítica que Lenardão responde com um exemplo prático. "Muitas escolas fazem visitas ao Planetário. Nossos alunos chegam lá e já identificam os planetas, o movimento rotacional, porque eles já têm o conhecimento científico. Se vão ao museu, eles já conhecem a obra que está lá porque a escola fornece o conhecimento necessário para o mundo que eles vão se deparar. Não os deixamos livres para decidir o que querem aprender", afirma.

Já no centro de educação infantil Jardim Alvorecer, que utiliza a Pedagogia Waldorf, que segue a tendência humanista, o objetivo principal é desenvolver a autonomia dos alunos. "A Waldorf trabalha para desenvolver o ser humano e propiciar que ele mesmo busque o conhecimento. Por isso, não trabalha só o intelecto, mas o espírito, as vontades, as necessidades e deficiências do aluno", explica Fred Zanetti, membro da associação mantenedora da escola e pai de dois alunos.

Segundo ele, a principal diferença de uma escola que adota a pedagogia Waldorf está no papel desenvolvido pelo professor. "O professor é um mediador. Em vez de transmitir um conhecimento, ele vai criar situações em que os alunos possam observar esse conhecimento e tirar suas próprias conclusões. São aulas empíricas", conta. Somente no Ensino Médio é que esses alunos vão ter contato com teorias e fórmulas. (J.G.)

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