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Avenida Paraná 5m de leitura

O caminho de Damasco

ATUALIZAÇÃO
03 de maio de 2017


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Por que o mesmo Jesus recebido com festa em Jerusalém no Domingo de Ramos foi condenado à morte na Sexta-Feira da Paixão? No livro "Jesus de Nazaré", o papa emérito Bento XVI oferece alguma explicação para a mudança. Ele observa que o nome Barrabás (Bar-Abbas) significa literalmente "Filho do Pai", uma designação messiânica; na ocasião, Barrabás tinha o status de um líder revolucionário. Quando Pilatos propôs às pessoas que escolhessem entre libertar Jesus ou Barrabás, estava colocando diante da humanidade a opção entre o poder espiritual e o poder político; entre a lei de Deus e a ideologia do mundo.

Durante a vida inteira, somos postos diante do mesmo dilema: escolher entre Jesus e Barrabás. Infelizmente, na maioria das vezes, temos escolhido o poder deste mundo, que ao fim se revela ilusório e catastrófico.

Quando assistimos a cenas como as do ataque com armas químicas na Síria, nossa reação imediata é invocar a misericórdia de Deus. Mas não podemos esquecer que Deus possui a perfeição em todas as suas qualidades: sua misericórdia é infinita, mas sua justiça também o é. A morte de crianças e civis inocentes, portanto, não ficará impune.

No momento em que os olhos do mundo se encontram postos na Síria, talvez seja preciso lembrar um drama que aconteceu a caminho de Damasco. Saulo viajava com o objetivo de perseguir os primeiros cristãos. O próprio Jesus lhe apareceu e disse: "Saulo, por que me persegues?" O resto da história nós conhecemos. Saulo se tornou o apóstolo Paulo e disseminou o cristianismo pelo mundo inteiro.

A história de São Paulo na estrada para Damasco tem um significado essencial para o tempo que vivemos: nós precisamos passar pelo mesmo caminho. É um caminho de dor, de dificuldades, de perigos e de tribulações. Em uma palavra — é um caminho de cruz.

Na minha primeira visita ao filósofo e amigo Olavo de Carvalho, em 2013, fiz questão de ler-lhe um poema de Bruno Tolentino, cujos versos talvez sejam ainda mais contundentes e proféticos agora. Encerro a coluna de hoje com as mesmas palavras sobre o caminho de Jerusalém — aquele que separa o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa:

O crucificado
chamado Jesus

é o encontro marcado
entre a solidão
e o significado

do teu coração:
de um lado teu medo,
teu ódio, teu não;

de outro o segredo
com seu cofre aberto,
onde o teu degredo,

onde o teu deserto,
vão morrer, mas vão
morrer muito perto

da ressurreição.

Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br

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