O preço dos alimentos que compõe a cesta básica (alta de 16%) ultrapassou em muito o percentual de inflação calculado pelo IBGE para 2022 que foi de 5,79%.

Os dados aqui são referentes à pesquisa levada a cabo mensalmente pelo Núcleo de Pesquisa Econômicas Aplicadas da UTFPR – NuPEA, mas refletem, em maior ou menor grau, o comportamento dos preços em nível nacional.

O novo valor do salário-mínimo nacional de R$ 1.3020,00 (corrigido em 8,9%) não é capaz de compensar esta perda de poder aquisitivo, especialmente nas famílias de mais baixa renda. Encontrar a forma de corrigir tal distorção é mais complexo do que parece.

A composição da Cesta Básica Nacional ...

O Decreto-Lei 399/38 estipulou as provisões mínimas na forma de alimentos que compõe o consumo básico diário de um trabalhador e é utilizada até hoje como referência no acompanhamento de preços que compõe esta cesta de alimentos.

... como referência para o indicador ...

Em Londrina, o NuPEA faz o levantamento e análise da evolução dos preços dos produtos que compõe esta cesta básica de alimentos, percorrendo unidades das principais redes supermercadistas, em todos os pontos da cidade e calculando seu preço médio a partir das porções definidas para cada produto.

... que aponta a inflação nos alimentos.

No dia 01 de janeiro do ano passado o valor médio da cesta básica em Londrina estava a R$ 506,13 e encerrou no último dia do ano a R$ 587,34, um aumento de 16% nesta comparação.

A perda de poder de compra ...

Mas esta comparação estre dois extremos do ano provoca distorções na interpretação. Uma análise mais apurada precisa considerar a perda de poder de compra durante todo o ano, isso porque o aumento poderia ser unicamente no último mês do ano.

... é melhor mensurada com base no S.M.

Utilizando como referência o valor do salário-mínimo, com os preços do início do ano seria possível adquirir ao longo de 2022 o equivalente a 28,69 cestas, mas considerando os valores mensais, foi possível adquirir somente 25,09 cestas. Uma perda de poder de compra de 12,55%.

Os melhores anos...

Desde 2010 os anos em que o S.M teve o melhor poder de compra foram: 2017 (35,5 cestas); 2018 (34,7 cestas) e 2012 (30,5 cestas). Para recompor o poder de compra do S.M. de 2022, seu valor deveria ser de R4 1.404,23. Se fosse para recompor o poder de compra que tinha em 2017 seu valor atual deveria ser de R$ 1.737,55.

... não retornarão de forma simples ...

Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada. Neste caso, claro, a maioria encontraria a solução mais ‘elementar’ possível – corrigir o S.M. de maneira a restituir seu poder de compra. Solução ERRADA.

... pois é preciso entender as causas.

Por mais óbvio que possa parecer, a correção do S.M. é combater o sintoma e não a causa. A cauda da inflação é o desequilíbrio entre quantidade de dinheiro disponível e quantidade de produtos para serem comprados. Quando ambos estão em equilíbrio não há inflação.

Aumentar a quantidade de dinheiro ...

Para ficar restrito a uma das causas da inflação, vou apontar aquela que me parece mais relevante – o aumento do dinheiro disponível às famílias mais vulneráveis por meio dos programas de transferência de renda do governo federal – diga-se: medida justa e necessária. Mas é inflacionária. Vejamos o porquê.

... sem aumentar a quantidade de produtos ...

Aumentou a quantidade de dinheiro, mas não aumentou a quantidade de alimentos. Portanto, a mesma quantidade de alimentos agora será rateada para mais pessoas. Isso significa que cada um comerá um pouquinho menos para permitir que todos comam.

... causa o aumento de seus preços.

É o mecanismo de inflação, que ao tirar poder de compra, permite esse novo rateio. Cada um pode comprar um pouco menos, permitindo ‘democratizar’ o alimento a todos. Se este mecanismo ficar entendido, também ficará claro que a recomposição salarial somente perpetuará o processo inflacionário.

Buscar uma solução melhor.

O que torna uma sociedade mais rica é produzir e disponibilizar mais produtos e não mais dinheiro. Esta compreensão permitirá que estudemos formas melhores e mais eficientes de devolver o poder de compra ao salário. Essa conversa fica para outra coluna.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.