A Revolução dos Bichos

Nesta semana li pela enésima vez o livro "A Revolução dos Bichos" (Animal Farm), fábula do escritor inglês George Orwell (1903-1950). É uma daquelas obras que a cada leitura ficam melhores e revelam novos detalhes surpreendentes.

Como se sabe, a fábula é um antiquíssimo gênero literário em que os animais ganham o dom da fala e personificam situações humanas. Quase sempre a fábula contém uma lição moral; em outras palavras, você sai da leitura diferente de quando entrou nela.

"A Revolução dos Bichos" é uma fábula para adultos. Orwell escreveu-a depois de participar como voluntário da Guerra Civil Espanhola, onde conheceu de perto o modus operandi dos militantes comunistas. Homem de convicções socialistas, Orwell escapou por um triz de ser morto, não pelos inimigos franquistas, mas pelos supostos aliados dos republicanos. Com amigos assim...

O enredo do livro reproduz, de maneira literária e não literal, o destino da Revolução Russa, cujo centenário se completa em 2017. A história da revolta dos bichos da Granja do Solar contra o cruel proprietário Jones é uma metáfora do que aconteceu na Rússia em outubro de 1917. Podemos facilmente identificar os líderes da rebelião dos animais da granja (os porcos Major, Napoleão e Bola de Neve) com os principais líderes comunistas (respectivamente, Lênin, Stálin e Trotsky).

"A Revolução dos Bichos" é uma brilhante descrição do que fatalmente ocorre em todos os regimes socialistas (eu disse todos, sem exceção). Mas, como já se disse aqui, ninguém deve esperar condecorações por dizer a verdade. Orwell foi implacavelmente perseguido pelas patrulhas ideológicas, à direita e à esquerda, mas principalmente pelos partidários e simpatizantes do comunismo. Por sua coragem, ele chegou a ser jurado de morte pelas duas ditaduras de seu tempo: a de Stálin e a de Hitler.

Para os que acreditam que o comunismo morreu e não oferece mais perigo, recomendo a leitura do outro grande livro de George Orwell: "1984", a primeira distopia (utopia ao contrário) que descreve a sociedade totalitária, incrivelmente semelhante ao mundo em que vivemos.
Em "A Revolução dos Bichos", há um grupo de ovelhas pouco inteligentes, cuja maior função na sociedade socialista é balir sempre que a verdade está prestes a aparecer: "Quatro pernas bom, duas pernas ruim! Quatro pernas bom, duas pernas ruim!" As ovelhas de Orwell são os militantes do caos que vemos em ação na sociedade contemporânea, e que se reproduzem a cada dia nas escolas e universidades brasileiras. Da mesma forma, as negociatas entre o porco Napoleão e os supostos inimigos humanos faz-me lembrar a aliança corrupta entre um partido que todos conhecemos e uma elite de grandes empresários.

Em legítima defesa, leia George Orwell. Aí você entenderá por que todos animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.