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Mercado espera pressão sobre combustíveis, mas Petrobras diz que não reajusta agora

ATUALIZAÇÃO
24 de fevereiro de 2022

NICOLA PAMPLONA
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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Cláudio Mastella, disse nesta quinta-feira (24) que a empresa vai aguardar a evolução do cenário internacional antes de decidir por repasses da disparada da cotação do petróleo após o início dos ataques russos à Ucrânia.

Especialistas, no entanto, acreditam que o conflito na Ucrânia manterão as cotações pressionadas, com impactos sobre a inflação brasileira, que já sofre com a escalada recente dos preços dos combustíveis e da energia.

A cotação internacional do petróleo Brent bateu na cada dos US$ 105 por barril pela primeira vez desde 2014, jogando pressão pela estatal, que já vinha praticando preços abaixo do mercado. O preço do gás natural também subiu e deve impactar a conta de luz.

"A gente precisa continuar observando um bocadinho, não temos resposta fácil nem simples", afirmou Mastella, em conferência virtual com analistas para detalhar o lucro recorde de R$ 106,6 bilhões registrado pela empresa em 2021.

A Petrobras já vem sendo questionada pelo longo tempo sem reajustes em um cenário de alta nas cotações internacionais. Os últimos aumentos nos preços da gasolina e do diesel vendidos pela empresa foram feitos em 12 de janeiro.

Na quarta (23), mesmo com a valorização do real, a defasagem entre os preços interno e internacional preço do diesel era de 5%, segundo a Abicom (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis). No caso da gasolina, chegava a 9%.

Na conferência com a diretoria da Petrobras nesta quinta, analistas perguntaram qual o limite para segurar repasses.

"Em função de diversas tensões geopolíticas, a gente tem observado elevação dos preços. Em paralelo, o dólar está se desvalorizando", destacou Mastella. "Com esses dois movimentos em contraposição, a gente conseguiu manter nossos preços."

Sobre os impactos da situação na Ucrânia, ele disse que o mercado vive hoje um "pico de volatilidade" e que o momento ainda é de "extrema incerteza". Por isso, a empresa seguirá observando o mercado antes de tomar decisões.

"Nesse cenário, vamos continuar observando [a evolução das cotações] minuto a minuto", resumiu o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, em conferência virtual com analistas estrangeiros.

Para especialistas, o conflito deve pressionar as cotações.

"Os preços do petróleo e do gás estão subindo e os esforços para explorar reservas estratégicas ou chegar a um acordo nuclear com o Irã pouco farão para interromper o impulso de alta", diz Edward Moya, analista de mercado financeiro da Oanda em Nova York.

"Mesmo que um acordo nuclear com o Irã seja revivido, a perspectiva de curto prazo ainda tem um enorme déficit de petróleo e não importa se você trocar as sanções do Irã pelas russas", conclui.

O mercado espera forte pressão sobre o preço do gás natural, já que a Europa tem grande dependência da Rússia no abastecimento deste combustível. Em 2021, cerca de 30% dos 84 milhões de metros cúbicos por dia consumidos, em média, no Brasil foram importados em navios, sob a forma liquefeita.

Com a recuperação dos reservatórios e o consequente desligamento de térmicas, essas importações caíram para cerca de 14 milhões de metros cúbicos por dia. Mas a busca europeia por alternativas à Rússia amplia a competição pelos contratos de suprimento.

"As instalações de exportação de GNL [gás natural liquefeito] dos Estados Unidos já estão operando perto da capacidade total e estiveram durante grande parte do ano passado", diz Ross Wyeno, analista líder para o mercado de GNL das Américas da S&P Global Platts Analytics.

Segundo ele, a demanda europeia pode justificar ampliação dessas instalações, mas os resultados só começariam a ser percebidos em 2024.

"A gente não vê risco na questão de movimentação de carga para atender nossos compromissos contratuais. O que a gente vê é um impacto bastante significativo em termos de custo", disse nesta quinta o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa.

"A gente já vê o GNL voltando a US$ 30 [R$ 153] por milhão BTU [unidade de poder calorífico], o que seria equivalente a US$ 300 [R$ 1.530] por barril", completou.

No fim de 2021, a disparada do preço do gás aumentou o rombo na conta destinada ao pagamento das usinas térmicas que foram ligadas para poupar água nos reservatórios, o que levou o governo a negociar novo empréstimo ao setor elétrico, estimado em até R$ 10,8 bilhões.

Em 2021, acompanhando a escalada do preço do petróleo e a desvalorização cambial, a Petrobras vendeu seus combustíveis por um valor médio de R$ 416,4 por barril, o maior já registrado pela empresa. Os repasses levaram os preços de bomba no país também a recordes históricos.

A elevação das cotações internacionais e o repasse para o preço dos derivados foi o principal motor do lucro recorde registrado pela empresa no ano. Pelo desempenho, a companhia distribuirá um total de R$ 101,4 bilhões em dividendos.

Na conferência com analistas nesta quinta, Silva e Luna, comemorou "excelentes resultados operacionais e financeiros" e reforçou a defesa de que uma Petrobras lucrativa garante maior retorno para toda a sociedade.

A empresa alega, por exemplo, que retornou a acionistas e governos 57% de toda a sua geração de caixa operacional, tanto em pagamento de impostos quanto em distribuição de dividendos, um total de R$ 230 bilhões.

Para Silva e Luna, "isso só é possível porque imprimimos racionalidade tanto no nosso plano estratégico quanto na nossa gestão financeira e operacional".

A alta nos preços dos combustíveis se tornou uma dor de cabeça para o presidente Jair Bolsonaro (PL), diante dos possíveis efeitos da escalada inflacionária sobre a campanha por sua reeleição.

O governo já tentou dividir a responsabilidade com governadores, depois passou a criticar a própria estatal e, por fim, tenta aprovar no Congresso a redução dos impostos sobre os produtos.

A política de preços dos combustíveis também é alvo também de pré-candidatos à Presidência da República, como o líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva, que fala em rever o modelo atual.

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