SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar oscilava perto da estabilidade na manhã desta quinta-feira (31), em sessão que promete ser volátil devido à formação da taxa Ptax de fim de março, com a moeda norte-americana a caminho de registrar seu pior desempenho mensal contra o real desde outubro de 2018 e a maior queda trimestral desde o período de abril a junho de 2009.

Às 9h08 (de Brasília), o dólar à vista operava estável, a R$ 4,7855 na venda.

Na B3, às 9h08 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,25%, a R$ 4,7840.

A divisa norte-americana spot fechou a última sessão em alta de 0,59%, a R$ 4,7855 na venda.

Os preços do petróleo mergulhavam 5,09% na manhã desta quinta-feira (31), com o barril Brent negociado a US$ 107,68 (R$ 511,38).

A administração de Joe Biden está avaliando um plano para liberar aproximadamente um milhão de barris de petróleo por dia das reservas estratégicas dos Estados Unidos, disseram fontes ligadas à gestão do presidente americano à agência de notícias Bloomberg.

Até 180 milhões de barris poderiam ser liberados durante alguns meses. O plano é usar as reservas para combater a inflação dos combustíveis, que foi acelerada pela forte valorização da matéria-prima a partir do início da invasão da Rússia à Ucrânia.

Os americanos também planejam liderar outros países na liberação das suas reservas estratégicas, o que ampliaria de forma maciça a oferta e pressionaria a queda dos preços.

A valorização da commodity é um dos principais sintomas sobre a visão do mercado de que as sanções à Rússia, um dos principais exportadores de petróleo e gás natural, podem reduzir a oferta por um longo período, dando fôlego para a alta da inflação global.

A Alemanha ativou seu plano de emergência para garantir o abastecimento de gás diante das ameaças de suspensão do fornecimento russo.

Nesta quarta-feira (30), o índice de referência da Bolsa de Valores conseguiu sustentar ligeira alta de 0,20%, a 120.259 pontos, apoiado principalmente no setor de commodities. Com isso, o Ibovespa manteve o patamar de 120 mil pontos alcançado na véspera.

O dólar, porém, fechou em alta de 0,58%, cotado a R$ 4,7850. A desvalorização da moeda brasileira foi na contramão dos ganhos apresentados pelas principais moedas de países desenvolvidos e de emergentes frente à divisa americana.

Participantes do mercado disseram à agência Reuters que a alta do dólar na última sessão está principalmente relacionada à aproximação do último dia do mês e do primeiro trimestre, quando o Banco Central calcula a Ptax. Trata-se de uma taxa de câmbio que serve de referência para liquidação de derivativos.

No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, e, nesta quarta-feira, os comprados em dólar –que apostam na valorização da moeda americana– prevaleceram.

O economista Igor Lucena também atribuiu a alta do dólar nesta quarta a um movimento momentâneo de investidores estrangeiros rumo a ativos ligados à moeda americana, que oferecem maior segurança em períodos de aumento dos riscos globais, como é o caso dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Com a continuidade da guerra pressionando a inflação, o potencial de retorno desses papéis cresce devido à necessidade de elevação dos juros para a contenção da alta dos preços.

"Apesar de uma tendência de baixa [do dólar frente ao real] desde o início do ano, em alguns momentos, temos esses movimentos de subida. Isso ocorre quando, por exemplo, investidores percebem que a guerra não vai acabar tão cedo e, com isso, fogem para papéis ligados à inflação e a moedas", comentou.

Um dia após negociações entre representantes de Rússia e Ucrânia criarem expectativas sobre uma trégua na guerra devido a alguns avanços em negociações realizadas na terça-feira (29), a esperança do mercado sobre a redução dos riscos econômicos gerados pelo conflito desvaneceu.

Apesar das promessas de "redução drástica" da atividade militar russa em Kiev e Tchernihiv, autoridades ucranianas relataram ataques nos arredores das duas cidades e em outros pontos do país. Bolsas da Europa e dos Estados Unidos fecharam em baixa.

Em Nova York, o índice S&P 500, referência para as ações americanas, caiu 0,63%. Os indicadores Dow Jones e Nasdaq perderam 0,19% e 1,21%, respectivamente.

Na Europa, o indicador que acompanha as 50 maiores empresas da zona do euro perdeu 1,08%. As Bolsas de Paris e Frankfurt caíram 0,74% e 1,45%, nessa ordem. Londres subiu 0,55%.

"Nós estamos céticos quanto à esperança", disse Lisa Shalett, diretora de investimentos do Morgan Stanley, para a rede de televisão Bloomberg, após Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, ter afirmado que ainda falta muito trabalho antes de um acordo com a Ucrânia, reforçando as dificuldades para alcançar o cessar-fogo.

Apesar dos sinais de recuperação dos últimos dias do mercado americano, revelando o desejo de investidores de "comprar na baixa" após um processo de correção das altas de 2021, o risco para os investimentos é uma realidade diante de um problema geopolítico, segundo Shalett.