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Kalil vive turbulência em BH às vésperas de renúncia para disputar Governo de Minas

ATUALIZAÇÃO
17 de março de 2022

LEONARDO AUGUSTO
AUTOR

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ainda faz mistério sobre sua possível saída da administração municipal para uma candidatura a governador de Minas Gerais.

Caso decida se lançar na disputa, o que precisa definir até 2 de abril por causa da lei eleitoral, deixará para trás, em andamento mas ainda não concluída, uma de suas obras "carro-chefe" para prevenção de chuvas.

Nas relações políticas, a herança para seu vice, Fuad Noman (PSD), será uma Câmara Municipal hostil, algo até então não experimentado por Kalil, sobretudo em seu primeiro mandato.

Aliados mais próximos dão a candidatura de Kalil ao governo do estado como certa.

O prefeito teve pelo menos um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em São Paulo, para discutir as eleições em Minas.

Se o PSD não tiver candidato próprio à Presidência da República, a aliança entre os dois partidos em Minas poderia ocorrer ainda no primeiro turno, com Lula e Kalil dividindo palanque no estado, como o prefeito indicou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em dezembro do ano passado.

Na última terça-feira (15), Kalil voltou a falar sobre a possível aliança e, assim como fez na entrevista à Folha de S.Paulo, elogiou mais uma vez o ex-presidente petista.

"Vai ser um prazer conversar com todo mundo, principalmente com o presidente Lula, que está liderando pesquisa, tem um histórico, uma posição social muito clara", disse, em conversa com jornalistas depois de visita a posto de saúde.

Kalil afirmou, no entanto, que sua preocupação no momento é resolver o impasse em relação ao projeto de lei que reduz o preço da passagem de ônibus na capital mineira.

O texto reflete o embate que existe atualmente entre o prefeito e o comando da Câmara Municipal nesses prováveis últimos dias de Kalil à frente do governo municipal.

Ele tem tratado a presidente da Casa, vereadora Neli Aquino (Podemos), como inimiga política.

A relação já não era boa, mas azedou de vez em 3 de março, quando Neli Aquino devolveu projeto de lei para a redução da tarifa enviado pela prefeitura.

O texto, conforme o município, acarretaria redução de R$ 0,20, de R$ 4,50 para R$ 4,30, no preço da passagem do transporte coletivo da cidade, via pagamento de parte das gratuidades pela prefeitura.

A justificativa da vereadora para a devolução foi que o projeto não era claro no que propunha.

Ao ser questionado há cerca de uma semana pela reportagem sobre sua relação com a Câmara Municipal, Kalil enviou gravação de outra conversa com repórteres, ocorrida também no dia 3, na prefeitura, em que chama a presidente da Câmara Municipal de inimiga.

Na gravação o prefeito afirma que a presidente da Câmara Municipal quer ser candidata a vice-governadora. Kalil, no entanto, não disse na gravação em que chapa a vereadora pretenderia disputar o cargo.

Caso deixe a prefeitura, seu principal rival na disputa pelo Palácio Tiradentes será o atual governador do estado, Romeu Zema (Novo).

"A festa da presidente da Câmara acaba hoje. Ela é inimiga pessoal do prefeito", disse Kalil, na gravação. "Ela pode não gostar de mim, porque sei os interesses, né? Os interesses que a cercam. (...) Ela está se candidatando a vice-governadora do estado", afirmou o prefeito.

A assessoria da presidente da Câmara afirma não haver disputa política e que, dentro do partido da vereadora ou do grupo político ao qual pertence, não há articulações no sentido do que afirmou Kalil. Disse ainda que o assunto sobre a parlamentar ser candidata a vice-governadora partiu do próprio prefeito.

Um aliado de Kalil tem visão diferente sobre o atual relacionamento do prefeito com a Câmara.

"O que está acontecendo na Casa tem relação com a proximidade da eleição para governador. Ocorrem ataques críticos, xingamentos, discussões", declarou o líder do prefeito na Câmara, vereador Leo Burguês (União Brasil).

O parlamentar, que foi líder do governo também no primeiro mandato de Kalil, costuma lembrar que a prefeitura nos primeiros quatro anos do prefeito nunca teve um projeto derrotado.

A vereadora Neli Aquino é ligada ao deputado federal Marcelo Aro (PP-MG), aliado do governador Zema. A assessoria da parlamentar afirmou que o deputado é um amigo da presidente da Câmara, mas não tem influência no Poder Legislativo municipal.

Segundo o vereador Gabriel Azevedo (sem partido), que afirma ser independente, mas tem bom trânsito com a presidente da Casa, quem está realmente cotado para vaga de vice, na chapa de Zema, é o deputado Marcelo Aro.

Azevedo negou que o atrito entre prefeitura e Câmara tenha relação com a proximidade das eleições, e afirma que o modo de atuação do prefeito é que ajuda nas divergências.

"Tem um estilo ditador. Liga e diz: 'quero isso, quero aquilo'", disse Azevedo, vereador em segundo mandato e aliado de Kalil em sua primeira campanha pela prefeitura, em 2016.

O vereador declarou ainda acreditar que a relação entre prefeitura e Câmara vai melhorar caso o prefeito deixe o governo. "Vamos começar um ciclo diferente com Fuad Noman", disse.

A reportagem entrou em contato com os gabinetes do deputado Marcelo Aro, e do vice-prefeito Fuad Noman. Não houve retornos.

O outro calo de Kalil em seu possível fim de mandato tem relação com a infraestrutura da cidade, atingida por fortes chuvas principalmente aos finais e inícios dos últimos três anos.

Em janeiro de 2020, último ano do primeiro mandato de Kalil, ruas na região centro-sul da cidade foram destruídas pela força das águas.

Houve inundação na avenida Vilarinho, em Venda Nova, região norte da cidade. No local, a situação se repete há décadas.

Belo Horizonte foi erguida sobre duas bacias. A do Ribeirão Arrudas, que corta a região central da capital e recebe córregos que nascem nos extremos sul e oeste do município, e a do Ribeirão do Onça, que predomina na região norte, cortada pela avenida Vilarinho.

Em seu programa de governo para o primeiro mandato, Kalil não faz menção direta a obras para evitar enchentes. O então candidato sempre afirmou que não prometeria nada.

No programa para o segundo mandato, no entanto, Kalil trata como um desafio "implantar ações necessárias para mitigar o impacto causado por intensas chuvas como as que a cidade recebeu no mês de fevereiro de 2020".

A ordem de serviço para prevenção de enchentes na avenida Vilarinho foi assinada em abril de 2021, com prazo de conclusão em abril de 2024.

O projeto prevê a construção de dois reservatórios com capacidade de armazenamento de 115 milhões de litros de água cada.

Questionado sobre obstáculos para que a obra pudesse ser entregue antes também há cerca de uma semana, Kalil, via assessoria, enviou informes da prefeitura sobre a construção dos reservatórios.

O comunicado mais recente é de 25 de fevereiro, que registra visita do prefeito às obras na região, e cita características do projeto.

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